Pesquisa
mostra violência contra mulher durante o parto
Mulheres associam experiência ruim a sentimento de angústia
nas primeiras semanas com o bebê em casa
38%
das mulheres se sentiram angustiadas nas primeiras semanas após o parto
Uma
pesquisa divulgada no final de maio avaliou o atendimento obstétrico recebido
por quase duas mil gestantes em todo o país. As mulheres compartilharam suas
experiências e os resultados mostram os maus tratos mais comuns sofridos por
elas. O “Teste da Violência Obstétrica” englobou mães que tiveram filhos por
cesárea, parto normal, em casa e em hospitais privados e públicos, e foi feito
coletivamente por mais de 70 blogs.
O resultado enfoca a conduta dos profissionais de saúde que atendem as gestantes no momento do parto. “Tivemos relatos de todo tipo de violência obstétrica, como negligência, abuso verbal, físico e sexual”, afirma a jornalista e mestranda de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Ana Carolina Franzon, uma das coordenadoras da pesquisa.
O resultado enfoca a conduta dos profissionais de saúde que atendem as gestantes no momento do parto. “Tivemos relatos de todo tipo de violência obstétrica, como negligência, abuso verbal, físico e sexual”, afirma a jornalista e mestranda de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Ana Carolina Franzon, uma das coordenadoras da pesquisa.
“Cheiro
de churrasco”. A
pesquisa mostra que 21% das parturientes ouviram comentários irônicos em tom
depreciativo por parte da equipe médica que as assistiam. Uma das participantes
relata que os profissionais fizeram comentários “sobre o cheiro de churrasco da
minha barriga durante a cesárea”. Em outro relato, a mulher afirma que uma das
profissionais da equipe médica reclamou por ter que auxiliar o parto no momento
do jogo de futebol do seu time. Segundo Ana Carolina, a violência verbal foi
apontada como a mais cometida pelos médicos.
“Não temos dúvida de que alguns profissionais desrespeitam as mulheres no momento do parto. Infelizmente isso acontece, mas não deveria. Na maioria das vezes falta um acolhimento da gestante, que passa por um momento importante e único da sua vida”, afirma Coríntio Mariani Neto, obstetra presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e diretor da Maternidade Leonor Mendes de Barros.
“Não temos dúvida de que alguns profissionais desrespeitam as mulheres no momento do parto. Infelizmente isso acontece, mas não deveria. Na maioria das vezes falta um acolhimento da gestante, que passa por um momento importante e único da sua vida”, afirma Coríntio Mariani Neto, obstetra presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e diretor da Maternidade Leonor Mendes de Barros.
Angústia.
A
pesquisa também revela que 38% das mulheres se sentiram angustiadas nas
primeiras semanas após o parto. Metade delas acredita que os sentimentos que
tiveram logo depois de ir para casa com o bebê foram influenciados pela maneira
como o parto ocorreu.
A psicóloga Karla Rapaport Goldenberg atende gestantes e mulheres no pós-parto e afirma que as mulheres que sofrem violência obstétrica se sentem vítimas e não protagonistas de um momento especial em sua vida. “Ela fica insegura para cuidar de uma criança, já que sente que não conseguiu cuidar de si mesma. A violência sofrida pode contribuir para que ela se sinta angustiada e triste. Além disso, pode surgir aversão a médicos, hospitais ou mesmo ao ato sexual, já que partes íntimas da mulher são manipuladas durante o parto com relativa frequência.”
A psicóloga Karla Rapaport Goldenberg atende gestantes e mulheres no pós-parto e afirma que as mulheres que sofrem violência obstétrica se sentem vítimas e não protagonistas de um momento especial em sua vida. “Ela fica insegura para cuidar de uma criança, já que sente que não conseguiu cuidar de si mesma. A violência sofrida pode contribuir para que ela se sinta angustiada e triste. Além disso, pode surgir aversão a médicos, hospitais ou mesmo ao ato sexual, já que partes íntimas da mulher são manipuladas durante o parto com relativa frequência.”
“A
parturiente não espera ser recebida em um ambiente cheio de amores, onde todos
a parabenizem e sorriam para ela. Mas ela espera ser tratada com respeito, como
uma mulher em trabalho de parto que em alguns minutos será mãe”, ressalta a
psicóloga perinatal Rafaela Schiavo.
As
primeiras semanas com um bebê em casa são propícias para mudanças de humor das
mães.
A
primeira semana. Apesar
das participantes da pesquisa terem estabelecido uma relação direta entre os
sentimentos negativos na primeira semana com o bebê e o tratamento recebido na
maternidade, outros fatores devem ser considerados como possíveis estopins para
essa situação.
Aline
Melo, psicóloga especialista em psicologia social, diz que muitas gestantes têm
uma grande expectativa com relação ao momento do parto e não se preparam para o
pós-parto. “Cerca de 80% das mulheres apresentam o que se chama de ‘tristeza
materna’, causada pela alteração hormonal própria do pós-parto.”
As primeiras semanas com um bebê em casa são propícias para mudanças de humor por conta não só da alteração hormonal, mas também porque as mães enfrentam noites em claro e passam por um período de adaptação com a amamentação, lembra Aline.
As primeiras semanas com um bebê em casa são propícias para mudanças de humor por conta não só da alteração hormonal, mas também porque as mães enfrentam noites em claro e passam por um período de adaptação com a amamentação, lembra Aline.
“Existe
um fenômeno de depressão no pós-parto que é um processo fisiológico, mesmo que
o parto tenha sido excelente. Mas não há dúvidas de que não ter uma boa
assistência no parto tem consequências ruins para a mulher”, afirma Corintio
Mariani Neto.
Outros
dados revelados pela pesquisa “Teste da Violência Obstétrica”:
-
82% das mulheres estavam respondendo a pesquisa com base no parto do primeiro
filho
-
56% tiveram seus filhos em hospitais particulares através do convênio; 26% em
hospitais públicos; 12% em hospitais particulares; 4% em casa; 3% em casas de
parto
-
35% das mulheres entrevistadas tinham de 25 a30 anos; 27% de 20 a25 anos; 23%
de 30 a35 anos
-
53% das gestantes declararam ter sido compreendida, amparada e tratada com
respeito
-
12% das entrevistadas disseram que os profissionais de saúde fizeram piadas
sobre o comportamento delas
-
9% disseram que os médicos e enfermeiros mandaram a parturiente parar de gritar
-
43% das mulheres se sentiram seguras e à vontade durante todo o processo de
internação para o parto
-
37% das gestantes sentiram medo pela sua própria saúde ou a do bebê
-
45% das parturientes foram informadas e consultadas sobre todos os
procedimentos realizados
-
24% disseram não ter conhecimento prévio ou não ter consentido a necessidade da
realização da episiotomia (corte na vagina no momento que o bebê está nascendo)
-
23% declararam não ter conhecimento prévio ou não ter consentido com a
administração de ocitocina (remédio usado para acelerar o trabalho de parto
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