O fantasma da outra
Quem
é a outra do seu casamento? Uma amiga de infância do seu marido, primeiro amor
do rapaz, com quem ele tem uma intimidade absurda? Uma colega do trabalho, com
quem ele troca olhares em tom além do insuportável? Ou simplesmente a Angelina
Jolie,
por quem ele suspira cada vez que se esbarra com uma revista de celebridades?
Todo
relacionamento tem uma ‘outra’, capaz de tirar você do sério. Como seria bom se
o namorado viesse com ficha limpa, sem ex, sem vícios, sem manias, sem
fantasmas ou fotos de viagens maravilhosas em que o futuro sorria para eles
— apesar de nunca ter chegado.
Seria
bom, mas em termos: para ter alguém assim, é preciso ter, no máximo, cinco anos
de idade e frequentar o Jardim de Infância – e olha que uma amiga minha outro
dia ficou passada quando o filho de sete anos terminou o ‘namoro’ com a
coleguinha de turma porque ela era “muito pegajosa”. Ah, os homens.
Mas
existem outras armadilhas: quantas vezes você não se pega assistindo à
televisão sábado à noite ao lado do maridão, quando tudo o que queria era
colocar um bom vestido vermelho decotado, um salto altíssimo e dançar até cair
numa boate, como fazia quando tinha seus 22 anos?
Você
olha para si mesma, de moletom folgadão e cabelo preso, e vê que há muito tempo
não dá aquelas boas risadas. Tornou-se finalmente uma esposa, o tipo de mulher
conservadora que não sai do prumo e não hesita em disparar quando vê a cena do
filme em que uma gostosa se atira para cima do ator: “Piranha”, murmura. E o
marido concorda, sob pena de ouvir os piores desaforos.
E
quando está preparando o almoço das crianças, que, aliás, você ama
de paixão?
Será que elas não poderiam sumir de vez em quando, só para você dar uma de
louca e passar um dia inteiro na praia, besuntada de óleo até as unhas e
ouvindo assovios de garotões?
Depois
de um dia exaustivo de trabalho, você se vê numa fila de supermercado
quilométrica, escutando o barulho insuportável do tilintar dos carrinhos.
Enquanto espera a vez (que não chega nunca), você pensa no preço do arroz ou em
como gostaria de largar tudo e sair pelo mundo que nem uma cigana, vivendo de
bico de cidade em cidade, arrumando um amor a cada porto?
Você
sabe que tudo é apenas uma questão de força de vontade e agora que são elas: a
verdadeira ‘outra’, a mais perigosa, não está do lado de fora, mas dentro
de você.
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