segunda-feira, 6 de maio de 2013

E agora, como fica?


Em negociação com PSOL, ex-padre tem passeata de apoio em Bauru (SP)
Uma passeata de protesto contra a excomunhão do padre Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como Beto, reuniu por volta de 300 pessoas neste sábado (4) em Bauru (SP). Ele foi punido após declarações de apoio a homossexuais e questionamentos a dogmas da Igreja Católica.
O ex-religioso, que pensa em fazer carreira política e negocia filiação ao PSOL, não participou da manifestação, organizada por católicos reunidos num grupo de apoio criado no Facebook. Enquanto a passeata ocorria, ele se pronunciou por meio da rede social.
"Caráter não tem relação com raça, sexualidade, nacionalidade ou profissão", escreveu.
A passeata teve contornos de procissão católica. De branco, os manifestantes rezaram e cantaram músicas religiosas. Mas os apoiadores também entoaram gritos contra o preconceito e, com faixas e cartazes, manifestaram apoio ao ex-padre.
Militantes da causa gay também participaram. O vereador Markinho de Souza (PMDB), um dos líderes do movimento da diversidade em Bauru, disse que, em vez de excomungar o ex-padre, a Igreja Católica deveria punir pedófilos.
O evangélico Aloisio Pereira da Silva Júnior, fundador da primeira igreja gay da cidade, lembrou que também foi expulso do movimento Renovação Carismática, da Igreja Católica, ao assumir a homossexualidade.
A passeata começou em frente à Catedral do Espírito Santo, na região central de Bauru, e seguiu pelo calçadão da Batista de Carvalho, o principal ponto do comércio popular da cidade.
A Diocese de Bauru divulgou um comunicado em que o padre nomeado juiz instrutor do processo de excomunhão nega que a punição decorra das declarações de padre Beto em favor dos gays.
A excomunhão, segundo o juiz, ocorreu porque ele "se negou categoricamente a cumprir o que prometera em sua ordenação sacerdotal: fidelidade ao Magistério da Igreja e obediência aos seus legítimos pastores".
O juiz decretou o sigilo do caso e nenhum integrante da diocese pode dar declarações.
Beto recebeu convite de filiação ao PSOL e disse que a possibilidade de aceitar é grande. Por enquanto ele não fala em candidatura. Em maio, vai a Brasília participar de um encontro sobre sexualidade e religião organizado pelo deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ).
Incidente
No final da passeata, cinco pessoas foram atingidas por um líquido jogado de uma janela e, em seguida, sentiram a pele arder. A bióloga Viviane Pinheiro Abrantes, 42, foi uma das atingidas. Ela procurou o médico e foi informada que só uma perícia pode determinar que tipo de substância foi jogada. Viviane ficou com uma mancha vermelha no rosto e disse que sentiu muita ardência.
A bióloga, que registrou boletim de ocorrência, lamentou o fato. "Estávamos numa manifestação pacífica", disse.
Uma adolescente de 18 anos, que prefere não ser identificada, também foi atingida nos braços e pés. Um médico que estava na passeata a atendeu, mas não pôde identificar o líquido. A jovem também disse ter sentido a pele arder. Ela ficou com manchas vermelhas no corpo.
A polícia vai investigar o caso.

Fiéis lotam igreja em missa de padre que defende homossexuais
Centenas de fiéis de Bauru (SP) lotaram a igreja na manhã deste domingo (28) para assistir à missa de despedida do padre que se afastou de suas funções após declarações de apoio aos homossexuais.

Conhecido por contestar os princípios morais conservadores da Igreja Católica, Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como padre Beto, havia recebido um prazo do bispo diocesano, Dom Caetano Ferrari, 70, para se retratar e "confessar o erro" cometido em declarações divulgadas na internet.
Em um vídeo publicado no site Youtube, o padre admitiu a possibilidade de existir amor entre pessoas do mesmo sexo, inclusive por parte de bissexuais que mantêm casamentos heterossexuais. Ele também questionou dogmas da Igreja.
Ontem, dois dias antes do prazo estabelecido pelo bispo para a retratação, padre Beto anunciou que iria se afastar de suas funções religiosas e convocou a missa de despedida para hoje.
Na missa, o padre falou sobre amor e coerência e afirmou que para "Jesus Cristo não existia preconceito".
"Jesus amava os seres humanos independentemente da condição social, da raça e da sexualidade", disse o religioso.
A missa de despedida lotou a Igreja Santo Antônio, no Jardim Bela Vista, bairro tradicional de Bauru.
Em torno de mil pessoas ocuparam os bancos e ficaram em pé nas laterais.
O padre foi aplaudido de pé no final da missa e aclamado quando percorreu o corredor de saída da igreja pela última vez. Muitos fiéis choraram e, em seguida, formaram fila para cumprimentá-lo na porta.
Um dos mais emocionados era o pai de santo umbandista Ricardo Barreira, que assistiu à celebração vestido de branco e chorou muito.
"Não sou católico, mas o padre Beto sempre me representou. Agora mais ainda", disse. O umbandista recebeu o apoio do padre quando disputou a eleição para vereador.
Beto vai entregar seu pedido de "desligamento do exercício dos ministérios sacerdotais" nesta segunda-feira para o bispo. Ele garantiu não ter planos para o futuro, mas disse que poderá se reunir com seus seguidores para sessões de orações.
Procurado pela reportagem, o bispo preferiu esperar o recebimento do pedido para comentar a decisão.
ESTILO
Padre Beto sempre chamou a atenção dos católicos da cidade pelo estilo diferente dos religiosos tradicionais.
Usa roupas com estampas "roqueiras" e com a imagem do guerrilheiro comunista Che Guevara. Usa piercing, anéis e frequenta choperias. Nas missas, no entanto, usava as vestimentas tradicionais e seguiu todos os rituais católicos.
Seus sermões atraiam os fiéis em razão dos questionamentos sociais, políticos e morais.
As últimas declarações polêmicas do padre provocaram protestos de católicos tradicionais da comunidade de Bauru.
Por outro lado, a reprimenda do bispo, que considerava padre Beto um "filho amado, mas rebelde" gerou manifestações de apoio e provocou comoção entre os admiradores.
Ao explicar sua decisão de se afastar da igreja, disse que se trata de "um momento que faz parte de sua caminhada".
"Pensei em pedir perdão. Mas tudo que falei é bem pensado. Posso estar errado, mas o dia em que admitir será porque conclui isso mesmo. Senão seria hipocrisia", afirmou.
Disse ainda que é importante "dormir bem porque foi coerente" e que assim as pessoas vão percebê-lo "como homem de Deus".
Integrante do grupo de liturgia da Igreja Santo Antônio, Michele Dias fez uma homenagem na despedida.
Disse que se "curou" de uma síndrome do pânico após palestra em que Beto falou sobre a importância de enfrentar os medos.
A missa reuniu católicos de todas as gerações. O casal formado por Giovani e Luzia Dermengi, de 77 e 70 anos, respectivamente, mora em outra região da cidade, mas tinha o hábito de frequentar as missas do padre Beto.
"Ele foi um renovador e a igreja precisa disso", afirmou Luzia.
O arquiteto Fábio Said, 30, virou amigo do religioso e diz que ele levou muitos jovens para a igreja, por falar diretamente com seus fiéis e dar conselhos que às vezes até irritavam, mas depois eram compreendidos.
"E agora? A fé continua, mas é difícil", disse sobre a despedida.
Aos 6 anos, Pedro Motta Popoff não frequenta a missa todos os finais de semana. Neste domingo foi acompanhar a mãe, Carla Motta, que declarou estar na igreja por um ato de cidadania e apoio ao padre.
Pedro ficou na fila da despedida e deu de presente a Beto um churro comprado na porta da igreja. Depois disso, Beto cumprimentou os demais fiéis com o presente do menino nas mãos.
Agora à noite, o padre Beto realiza uma segunda missa de despedida na Igreja São Benedito. Será a última antes de ele entregar o pedido de afastamento. O padre tem 14 anos de sacerdócio.

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