O que
você vai ser quando crescer? - A questão da escolha profissional
A escolha profissional é fundamental na vida do indivíduo. As
influências culturais e a visão de mundo do adolescente são determinantes nesta
escolha.
O que você vai ser quando crescer?
Logo ao se aproximar da idade adulta, não apenas somos
indagados pela família, como também nos indagamos: Qual profissão devo
escolher? Do que realmente gosto? Qual profissão me trará mais recursos
financeiros e possivelmente fama em menos tempo? Assim, quando a escolha não é
acertada, a frustração ou desânimo ao longo dos estudos pode ser dado como
certo.
Mas para pensarmos nessa questão, devemos considerar que a
escolha de uma área profissional para atuação é apenas mais uma dentre tantas
outras que fazemos em outras áreas da vida. E assim como nestas outras, ao se
pensar em uma profissão, somos influenciados por tantos outros fatores não
apenas psicológicos ou comportamentais, mas também sociais ou culturais.
De uma perspectiva mais crítica, é preciso considerar que o
contexto histórico e social acaba por ditar seus modismos, uma vez que uma gama
de valores e visões de mundo acaba por prevalecer. Logo, não de forma gratuita,
o individualismo e a sede por fama e sucesso estão muito presentes numa realidade
na qual o capitalismo é o modo de produção econômica predominante, uma vez que
será nessa sociedade capitalista em que a individualidade e a liberdade estarão
à frente de outros valores como a igualdade ou noções como a coletividade.
Obviamente, o desejo pelo reconhecimento social não é invenção das sociedades
capitalistas e, como se sabe, ele esteve presente ao longo dos séculos nas mais
diversas sociedades. Porém, no âmbito das escolhas profissionais, o desejo pelo
sucesso a todo custo pode iludir e causar frustrações em um mundo tão
competitivo, quando na verdade a realização pessoal e profissional poderia
estar no anonimato de tantas funções e profissões tão importantes à
sociedade.
Mas se o próprio contexto histórico e social no qual vivemos
pode oferecer armadilhas ao jovem no momento de sua escolha (isso por conta do
predomínio de uma visão alienada da realidade, principalmente estimulada pela
mídia em geral), outro agravante é sua própria condição enquanto adolescente. A
adolescência por si só é um estágio ou período da vida do indivíduo
caracterizado pelo conflito, pela crise e pela redefinição da identidade.
Assim, “[...] a etapa da adolescência representa um período de crise
constitutiva ou normativa da identidade, que tomará distintos aspectos,
dependendo da sociedade e da cultura em que o sujeito viva. Destaca-se nesse
período, a crise normativa da adolescência, que se converte em um momento de
“virada” e reorganização da própria personalidade, representando com isso uma
possibilidade de sustentação para o futuro.” (TARDELI, 2012, s/p). Logo, a
dificuldade do acerto na escolha profissional aumenta, pois exatamente em um
momento de transformações como a adolescência, somos obrigados a optar por um
caminho e seguir. Assim, não surpreendentemente, a indecisão e a insegurança se
fazem presente, embora muitos acreditem estarem certos do que querem.
Em uma pesquisa com adolescentes sobre orientação
profissional elaborada pela professora Denise Tardeli entre os anos 2005 e
2007, a maioria dos entrevistados afirmou que nada (família, sociedade, entre
outros aspectos) influenciaria em suas escolhas. Contudo, é possível dizer que
essa afirmação por parte dos jovens entrevistados na pesquisa pode ser
relativa, pois é inegável que a formação da própria opinião sofre influências
externas quando vivemos em sociedade. A decisão por uma profissão não se dá de
forma tão autônoma e independente de uma realidade na qual se está inserido.
Segundo a própria pesquisadora, “[...] essa decisão não ocorre de maneira estritamente
subjetiva como os jovens podem supor. Eles podem provavelmente fazer escolhas
de maneira autônoma, mas sempre dentro de formas socialmente construídas.
Escolher uma profissão é uma tarefa cada vez mais difícil, conforme a sociedade
se faz mais complexa.” (IBIDEM, s/p).
Em uma sociedade na qual predominam as aparências, o culto ao
consumismo e o anseio pelo sucesso através do menor esforço e com maior
rapidez, algumas profissões como modelos e jogadores de futebol permeiam o
imaginário dos mais jovens. Ao perceberem que essas áreas não são para todos,
deparam-se com a dura realidade do mercado de trabalho, o qual se torna cada
vez mais exigente e cada vez menos remunerativo. O encanto com determinadas
áreas que, historicamente, estão ligadas a certo status e reconhecimento
social, como engenharia, medicina e direito, também atrai milhares de
adolescentes, tornando o vestibular para essas áreas cada vez mais concorrido e
o mercado de trabalho cada vez mais inchado. Como se sabe, atualmente, o diploma
e a formação universitária não garantem sucesso profissional.
O adolescente por si só não deve ser culpado por suas
escolhas, mas necessita de orientação e diálogo para que, dessa forma, descubra
não apenas quais suas melhores aptidões, mas, fundamentalmente, conheça o mundo
à sua volta e os verdadeiros desafios, obstáculos e prazeres de cada profissão.
Assim, é necessário equacionar, no momento da escolha, o que se pode chamar de
vocação com alguns conhecimentos prévios sobre o caminho profissional que se
deseja trilhar. Logo, o que importa não é a escolha em si, mas o bom senso tão
necessário antes dela.
http://www.brasilescola.com/sociologia/o-que-voce-vai-ser-quando-crescer-questao-escolha-profissional.htm
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