Parece, mas não é: alguns alimentos considerados saudáveis podem enganar
Não tem jeito: é preciso ler o rótulo
dos produtos com atenção para não cair em certas armadilhas
Alimentos light são mais saudáveis
que os normais? Alimentos livres de gordura não engordam? Margarina é melhor do
que manteiga? À primeira vista pode parecer que a resposta a essas perguntas
seja fácil, mas não é bem assim. Existem muitos produtos consumidos e vendidos
como mais saudáveis e menos calóricos, porém uma lida mais atenta ao rótulo
pode mostrar uma realidade diferente.
Os exemplos citados acima ilustram
bem o caso. Alimentos light e diet contêm menos açúcar e gordura, mas
geralmente possuem mais sódio para manter o sabor. Além disso, alguns produtos
podem conter o mesmo valor calórico que o original. Produtos com a expressão "zero
gordura" não são livres de calorias, e é sempre bom checar as informações
nutricionais para se certificar de que ele seja rico em nutrientes.
A margarina é um produto altamente
processado que contém gorduras hidrogenadas, não sendo mais saudável do que a
manteiga. "Ambas são calóricas e ricas em gorduras. O melhor mesmo é
consumir alimentos mais saudáveis como requeijão light, queijo tipo cottage e
ricota, que também são fontes de proteínas e cálcio", sugere a
nutricionista Vanessa Marquezin, da Rede Nutrício de Alimento.
Os exemplos não param por aí. Trocar
refrigerante por suco parece um hábito saudável, mas isso depende do tipo de
suco. Aqueles de caixinha têm tanto açúcar quanto um refrigerante, e ainda
apresentam muitos conservantes. "Por isso é muito importante prestar
atenção no rótulo e verificar a quantidade de açúcar, mel, xarope de milho,
sódio e conservantes", alerta Mariana Exel, nutricionista do Hospital
Samaritano de São Paulo (SP).
Light, diet, zero ou normal: primeiro
é preciso entender a diferença entre eles. Produtos light apresentam 25% a
menos de algum nutriente (geralmente gordura, açúcar ou sal). Já os alimentos
diet e zero têm 100% de um ingrediente específico retirado (por exemplo, o
açúcar). O zero é mais indicado para quem quer emagrecer (geralmente é menos
calórico) e o diet é destinado a pessoas com necessidades metabólicas
específicas, como diabetes. "Os produtos light e zero geralmente possuem
menos calorias que os produtos originais, enquanto os diet podem continuar com
o mesmo valor calórico que o tradicional", diz Vanessa Marquezin, da Rede
Nutrício de Alimento. É importante também ficar de olho no rótulo, pois esses
produtos geralmente contêm sódio e adoçantes para manter o sabor. Então, melhor
ingerir uma quantidade menor da versão tradicional do que o dobro da light
Thinkstock
Barrinhas de cereais, granola e
cereais matinais, considerados snacks saudáveis, também podem esconder algumas
"pegadinhas". Algumas marcas apresentam adição de açúcar, mel, xarope
de milho e até sódio, e podem conter valores calóricos bem altos. Mas então
como fazer para se livrar das armadilhas? Não tem jeito, é preciso ler o
rótulo.
De olho nas informações
"As informações no rótulo são
valiosas para que o consumidor possa totalizar a quantidade de sódio, açúcar e
gorduras ingeridos diariamente e se controle para que não faça abusos que podem
conduzir a distúrbios na saúde a longo prazo", aponta Mário Maróstica,
professor do Departamento de Alimentos e Nutrição da Unicamp.
Por isso, antes de comprar qualquer
alimento, é importante estar atento tanto à tabela nutricional quanto à lista
de ingredientes. Mas nem sempre eles são fáceis de ser compreendidos.
A tabela nutricional, por exemplo,
pode esconder uma armadilha em produtos voltados para crianças. Isso porque o
percentual de valores diários (% VD) – ou seja, as quantidades de nutrientes
que devem consumir para se ter uma alimentação saudável – é baseado em uma
dieta de 2.000 calorias. Mas crianças com menos de seis anos devem ter uma
dieta de até 1.800 calorias, o que significa que as porcentagens seriam mais
altas para elas.
"Alguns produtos
industrializados voltados para crianças apresentam teor de sódio de cerca de
25% do valor diário, mas com base em uma dieta de 2.000 calorias, que é a dieta
de um adulto. Se fizermos os cálculos para a dieta de uma criança, de até 1.800
calorias, essa porcentagem sobe para quase 30% - ou seja, a criança consome um
terço da quantidade de sódio recomendada por dia em uma única refeição",
alerta a pediatra Maria Aparecida Garlipp, da Maternidade de Campinas (SP).
Lista de ingredientes
A lista de ingredientes também merece
atenção. Poucas pessoas sabem que eles aparecem na ordem decrescente de
quantidade (ou seja, com maior quantidade vem em primeiro lugar), de acordo com
legislação da Anvisa. Isso pode parecer um simples detalhe, mas faz muita
diferença. Produtos que têm sódio e açúcar no início da lista possuem grandes
quantidades dos mesmos e, portanto, devem ser evitados.
"No caso dos sucos, por exemplo,
a descrição dos ingredientes deve estar escrita da seguinte forma: 'polpa de
fruta, água, açúcar...'. Se estiver escrito: 'açúcar, água e polpa de fruta',
significa que o produto é rico em açúcar e água e tem pouco nutriente",
ensina a nutricionista Karen Jacob.
Também é preciso atenção a alguns
ingredientes que podem passar despercebidos. Nem sempre nos damos conta de que
alimentos doces contêm sódio, ou que alimentos salgados contêm açúcar, mas isso
acontece com frequência.
Isso porque tanto o sal como o açúcar
ajudam a acentuar o sabor do alimento. Além disso, o açúcar pode deixar a massa
mais macia, e o sal ajuda na preservação. Por isso é bom sempre ler o rótulo -
especialmente diabéticos e hipertensos - para não cair em uma cilada.
No livro "Food's Rule: An
Eater's Manual" ("Regras da comida: um manual para os
comedores", Penguin Books, 2009, ainda não disponível em português), o
autor Michael Pollan alerta para produtos industrializados com listas de
ingredientes muito longas. Isso porque, segundo ele, quanto mais ingredientes
um produto contém, mais processado (e menos saudável) ele é.
Mocinho ou vilão?
Por outro lado, alimentos que podem
parecer vilões nem sempre trazem prejuízos para a saúde. Esse é o caso dos
enlatados e dos legumes congelados.
O atum em lata, por exemplo, leva
óleo vegetal, sal e é cozido dentro da latinha de aço sem qualquer aditivo. Já
os legumes enlatados conservam boa parte de seus nutrientes, mas é preciso
preferir os cozidos a vapor e prestar atenção no rótulo para verificar a quantidade
de sódio adicionado.
Legumes congelados também têm boa
conservação de nutrientes e fibras. De acordo com uma pesquisa realizada pela
Food and Drug Administration (FDA, órgão regulatório de alimentos e
medicamentos nos Estados Unidos) em 2011, frutas e vegetais congelados fornecem
a mesma quantidade de nutrientes e benefícios à saúde que os frescos.
"Os legumes congelados passam
por um procedimento em que levam um 'choque', o que faz com que ainda preservem
seus nutrientes", diz Marquezin. Mas alerta: "É importante ressaltar
que frutas e legumes de época e in natura têm mais nutrientes e são mais
saudáveis".
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/07/24/parece-mas-nao-e-alguns-alimentos-considerados-saudaveis-podem-enganar.htm
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