O fim da sacola plástica em nome do meio ambiente
Na luta contra a poluição do meio
ambiente, uma das medidas adotadas foi o fim da sacola plástica distribuída por
supermercados. Sua substituição já começou em algumas cidades.
O Fim da sacola plástica é uma das
medidas adotadas para a diminuição da poluição do meio ambiente
Nos últimos meses, a mídia nacional
trouxe à tona uma discussão acerca de uma temática muito próxima ao dia a dia
dos milhares de clientes das redes de supermercados de grandes centros urbanos
(como na cidade de São Paulo): a substituição das sacolas plásticas. A medida
adotada também por outras cidades no país, até mesmo como cumprimento de
recentes legislações municipais, dividiu a opinião pública, configurando uma
forte polêmica em torno de uma possível pergunta: até que ponto o não
fornecimento de sacolinhas por redes de supermercado e outros estabelecimentos
contribui, de forma relevante, na luta contra a poluição do meio ambiente?
O intuito deste breve artigo não é,
obviamente, responder a questão, mas sim propor uma reflexão em torno dela. Do
ponto de vista sociológico, a sacolinha talvez possa deixar de ser um mero
objeto presente em nosso cotidiano para tornar-se protagonista, quando se
destaca o fato de estar associada à prática do consumismo desmedido tão comum
em nossos dias atuais. De forma muito objetiva, a existência e a utilidade
prática das sacolas estão ligadas à necessidade do transporte das centenas de
milhares de compras que são realizadas todos os dias. Os apelos promocionais
que invadem os horários comerciais na televisão e no rádio, além é claro do
papel fundamental atualmente assumido pela internet como veículo de
comunicação, contribuem para estimular e incutir na sociedade um desejo pelo
consumo. Isso não significa, necessariamente, que consumiríamos por conta da
publicidade, mas é razoável afirmar que esta última instiga ainda mais um
consumo já frenético, fruto do contexto da sociedade capitalista.
Nesse sentido, o que se sugere como
aspecto importante para a ampliação do debate é considerar que o uso das
sacolas plásticas está diretamente ligado ao consumo, não podendo dele se
desvincular. Se realmente devemos considerar que a diminuição do uso das
sacolinhas pode contribuir na luta contra a poluição e a degradação ambiental
(uma vez que são compostas de polietileno, produto derivado do petróleo),
talvez seja válido considerar que para além delas estão também, sem dúvida
alguma, as inúmeras embalagens dos mais diversos produtos que consumimos
diariamente. Como se sabe, comidas industrializadas, cosméticos, produtos de
limpeza, e tantos outros, possuem embalagens de plástico, papel, isopor, enfim,
todos são poluentes.
Outro aspecto relevante à discussão
trata-se da forma de substituição das sacolas promovida atualmente pelos
estabelecimentos. A proposta (que chegou a ser implantada por um período em
algumas localidades) pautava-se na seguinte ideia: a sacola plástica
“tradicional” seria substituída por uma classificada como compostável ou 100%
biodegradável, mas agora cobrando-se um valor específico para sua aquisição,
uma vez que não seria fornecida. Assim, supõe-se que a cobrança desse valor não
apenas desestimularia as pessoas ao uso da sacolinhas, mas, ao mesmo tempo, ao
que parece, representaria a contenção de gastos pelos estabelecimentos
comerciais. Porém, ainda que recicláveis, ao que consta, tais sacolas
necessitam de um tratamento específico, pois, do contrário, podem poluir assim
como a convencional. Dessa forma, a outra opção, talvez a mais adequada
ecologicamente falando, seria a sacola retornável feita de pano, por exemplo,
ou outros materiais.
Logo, um dos pontos da polêmica não
está apenas na efetiva contribuição (ou não) à questão ambiental pela
substituição das sacolas, uma vez que se sabe que são realmente poluentes. O
que se questiona é a maneira de substituição, propondo-se o ônus desse processo
ao consumidor com o pagamento de taxas para a aquisição de sacolinhas ou com a
compra de uma sacola retornável. Assim, por conta da polêmica, um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre o Ministério Público do Estado de
São Paulo (MPE-SP), a Apas (Associação Paulista de Supermercados) e a Fundação
Procon-SP determinou que os supermercados disponibilizassem embalagens
gratuitas por pelo menos mais 60 dias a contar do dia 3 de fevereiro de 2012.
O despontar de uma preocupação cada
vez mais presente com relação às questões ambientais (as quais abarcam outras
questões como o problema do acondicionamento do lixo produzido pelos centros
urbanos), assim como discussões acerca do que hoje se chama de desenvolvimento
sustentável, estão na ordem do dia, isto é, são fundamentais. Porém, também se
faz necessário que a sociedade civil, o Estado e a iniciativa privada estejam
abertos e dispostos a discutir temáticas como essas. A despeito do aspecto
ecológico, a discussão em torno das sacolas plásticas perpassa por outras
esferas, seja no tocante à necessidade do consumo consciente, seja no que diz
respeito à garantia dos diretos do consumidor. Logo, um olhar crítico sobre
temáticas como essa de interesse público é algo fundamental, pois isso tem a
ver com a compreensão de nosso papel dentro da sociedade civil, isto é, envolve
nossa participação política e exercício da cidadania.
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