Ciência e Mística no primeiro Wittgenstein
Para Wittgenstein, a
filosofia não é doutrina, não é um conjunto de saberes prontos para serem utilizados
pelas ciências naturais, mas uma atividade útil para corrigir a linguagem e,
portanto, o pensamento.
Para Wittgenstein, a
filosofia não é doutrina, não é um conjunto de saberes prontos para serem
utilizados pelas ciências naturais
Diz-se “primeiro
Wittgenstein” porque a obra deste eminente filósofo da linguagem do século XX é
comumente dividida em duas partes: a que se refere ao Tractatus
Logico-Philosophicus, que será visto aqui, e as Investigações Filosóficas. O
Tractatus, como ficou conhecido, foi a primeira obra do pensamento
contemporâneo que pretendia aplicar não só a matemática e seu rigor à
linguagem, mas também compreender a relação ontológica que há entre o mundo o
pensamento. Essa foi a primeira etapa do pensamento de Ludwig Wittgenstein.
Conforme o autor, o
mundo é dividido em partes menores. A representação complexa do real
subdivide-se no que ficou conhecido por fatos atômicos. Dessa forma, a
linguagem, através das proposições, alcança o real por fazer parte da estrutura
mesmo desse. A linguagem também pode ser subdividida até princípios elementares
que são frases, palavras e letras que, moldadas devidamente, seriam capazes de
espelhar exatamente a realidade.
Wittgenstein parece
recuperar uma discussão antiga estabelecida no livro Crátilo de Platão que
versa sobre a correção dos nomes e do elo natural que há entre estes e as
coisas. Assim, desenvolve a partir da compreensão platônica de que o nome imita
a sua coisa, a sua teoria pictória ou figurativa, em que a linguagem representa
exatamente o mundo.
No entanto, a estrutura simbólica não é dada a partir de
letras e sílabas, nem ao menos da palavra isolada. A menor unidade de sentido
estabelecida na linguagem é a proposição (portanto, referindo-se não mais ao
Crátilo e sim ao diálogo Sofista de Platão onde fica claro que o pensamento é
proposicional). Assim como há fatos atômicos, há também proposições atômicas
que expressam devidamente a realidade.
Há, assim, uma
estreita conexão também entre Wittgenstein e Kant. Este dizia que o nosso
conhecimento só poderia ser fenomênico, ou seja, através de uma aliança entre o
que percebemos (intuição) e o que julgamos (conceito), segundo as formas
transcendentais. Foi justamente esse caráter antimetafísico que fez com que os
pesquisadores do Círculo de Viena se interessassem pela filosofia de
Wittgenstein.
No entanto, há o indizível, há o aquilo que não se pode dizer e
que, portanto, promove a distinção entre o Círculo e Wittgenstein: para o grupo
de Viena, o que não se pode dizer, sequer existe e justamente por isso, a
ciência natural e a linguagem adequada constituem a totalidade do mundo,
enquanto que para o nosso filósofo, “daquilo que não se pode falar, deve-se
calar”, ou seja, para Wittgenstein, o indizível, o inefável é mais importante do
que o dizível.
A ética e a metafísica não podem traduzir-se em discursos. E é
nisso que consiste o aspecto místico do Tractatus.
A inspiração de
Wittgenstein é clara. Para ele, a filosofia não é doutrina, não é um conjunto
de saberes prontos para serem utilizados pelas ciências naturais, como
pretendiam os estudiosos do Círculo de Viena e os neopositivistas, mas trata-se
de uma atividade útil para corrigir a linguagem e, portanto, o pensamento.
Portanto, para a
primeira fase do pensamento de Wittgenstein há uma forma de compreender o mundo
que é analisar a linguagem, já que “o mundo é o que acontece” e é também uma
“proposição exata”. “A proposição é uma função de verdade” e “a representação
lógica dos fatos é pensamento”.
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