terça-feira, 2 de julho de 2013

Viva a sabedoria...

Ciência e Mística no primeiro Wittgenstein

Para Wittgenstein, a filosofia não é doutrina, não é um conjunto de saberes prontos para serem utilizados pelas ciências naturais, mas uma atividade útil para corrigir a linguagem e, portanto, o pensamento.

Para Wittgenstein, a filosofia não é doutrina, não é um conjunto de saberes prontos para serem utilizados pelas ciências naturais

Diz-se “primeiro Wittgenstein” porque a obra deste eminente filósofo da linguagem do século XX é comumente dividida em duas partes: a que se refere ao Tractatus Logico-Philosophicus, que será visto aqui, e as Investigações Filosóficas. O Tractatus, como ficou conhecido, foi a primeira obra do pensamento contemporâneo que pretendia aplicar não só a matemática e seu rigor à linguagem, mas também compreender a relação ontológica que há entre o mundo o pensamento. Essa foi a primeira etapa do pensamento de Ludwig Wittgenstein.

Conforme o autor, o mundo é dividido em partes menores. A representação complexa do real subdivide-se no que ficou conhecido por fatos atômicos. Dessa forma, a linguagem, através das proposições, alcança o real por fazer parte da estrutura mesmo desse. A linguagem também pode ser subdividida até princípios elementares que são frases, palavras e letras que, moldadas devidamente, seriam capazes de espelhar exatamente a realidade.

Wittgenstein parece recuperar uma discussão antiga estabelecida no livro Crátilo de Platão que versa sobre a correção dos nomes e do elo natural que há entre estes e as coisas. Assim, desenvolve a partir da compreensão platônica de que o nome imita a sua coisa, a sua teoria pictória ou figurativa, em que a linguagem representa exatamente o mundo. 

No entanto, a estrutura simbólica não é dada a partir de letras e sílabas, nem ao menos da palavra isolada. A menor unidade de sentido estabelecida na linguagem é a proposição (portanto, referindo-se não mais ao Crátilo e sim ao diálogo Sofista de Platão onde fica claro que o pensamento é proposicional). Assim como há fatos atômicos, há também proposições atômicas que expressam devidamente a realidade.

Há, assim, uma estreita conexão também entre Wittgenstein e Kant. Este dizia que o nosso conhecimento só poderia ser fenomênico, ou seja, através de uma aliança entre o que percebemos (intuição) e o que julgamos (conceito), segundo as formas transcendentais. Foi justamente esse caráter antimetafísico que fez com que os pesquisadores do Círculo de Viena se interessassem pela filosofia de Wittgenstein. 

No entanto, há o indizível, há o aquilo que não se pode dizer e que, portanto, promove a distinção entre o Círculo e Wittgenstein: para o grupo de Viena, o que não se pode dizer, sequer existe e justamente por isso, a ciência natural e a linguagem adequada constituem a totalidade do mundo, enquanto que para o nosso filósofo, “daquilo que não se pode falar, deve-se calar”, ou seja, para Wittgenstein, o indizível, o inefável é mais importante do que o dizível. 

A ética e a metafísica não podem traduzir-se em discursos. E é nisso que consiste o aspecto místico do Tractatus.

A inspiração de Wittgenstein é clara. Para ele, a filosofia não é doutrina, não é um conjunto de saberes prontos para serem utilizados pelas ciências naturais, como pretendiam os estudiosos do Círculo de Viena e os neopositivistas, mas trata-se de uma atividade útil para corrigir a linguagem e, portanto, o pensamento.

Portanto, para a primeira fase do pensamento de Wittgenstein há uma forma de compreender o mundo que é analisar a linguagem, já que “o mundo é o que acontece” e é também uma “proposição exata”. “A proposição é uma função de verdade” e “a representação lógica dos fatos é pensamento”.

http://www.brasilescola.com/filosofia/ciencia-mistica-no-primeiro-wittgenstein.htm

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