O mito de Sísifo e sua conotação contemporânea
Em uma das mais incríveis narrativas
míticas gregas ocorreu um episódio de punição devido à esperteza de Sísifo que
enganou os deuses e foi condenado a um trabalho sem fim.
Albert Camus propôs que a vida dos
homens era tal como o mito de Sísifo: seguir uma rotina diária e sem sentido
próprio.
Sísifo (e não Euler, ex-jogador do
Palmeiras da década de 90) é o filho do vento (o deus Éolo). Trata-se na
narrativa mítica da Grécia Antiga de um camponês que fundou a cidade de Corinto
(antes chamada de Éfira), conhecida por ser povoada de homens que brotaram de cogumelos.
Ele se casou com uma das Plêiades (conjunto de estrelas), Mérope, filha do deus
Atlas.
Como camponês, Sísifo tinha um
rebanho que ia diminuindo sem que ele notasse a razão. Era que um Autólico, um
vizinho seu, tinha a capacidade de se metamorfosear em animais e usava essa
capacidade para adentrar nas propriedades alheias sem ser notado e roubar os
animais nos quais poderia se transformar. Um dia, Sísifo resolveu marcar o seu
rebanho e conseguiu seguir as pegadas que levaram até a casa de Autólico, comprovando
que este o roubava. Assim, chamou testemunhas para atestar a ladroagem e
enquanto os vizinhos discutiam sobre o roubo, Sísifo rodeou a casa e, ao topar
com a filha de Autólico, Anticleia, uniu-se a ela e gerou o astuto Odisseu (que
tem como marca do pai a esperteza, inclusive mostrada nesse ato).
No entanto, longe dali, ocorria o
episódio da abdução de Egina por Zeus. O pai de Egina, Esopo, ao procurá-la,
encontrou-se com Sísifo que dedurou Zeus. Este ao escapar da fúria do deus
Esopo, vingou-se de Sísifo e ordenou que Hades o levasse ao Tártaro (mundo
subterrâneo onde viviam as almas condenadas). Sísifo pediu então a sua esposa,
Mérope, que não o enterrasse. Com isso, já no Tártaro, ele persuadiu Perséfone
a deixar-lhe voltar à vida para organizar seu sepultamento e se vingar dos
negligentes que não o fizeram. Ela o deixou ir por três dias, mas ele quebrou,
claro, sua promessa, até que Hermes foi indicado a trazê-lo à força novamente.
Sísifo, então, recebeu uma punição
exemplar: rolar diariamente uma pedra montanha acima até o topo. Ao chegar ao
topo, o peso e o cansaço promovidos pela fadiga fariam a pedra rolar novamente
até o chão e no outro dia ele deveria começar tudo novamente e assim para todo
o sempre. Essa punição era um modo de envergonhar Sísifo por sua esperteza e
habilidade usadas para tramar contra os deuses.
No século XX, um autor do movimento
conhecido como “existencialismo”, Albert Camus, retomou o mito para explicar a
condição humana e promover o que ficou conhecido como “A revolta metafísica”.
Explicava Camus que a vida dos homens era tal como o mito de Sísifo: seguir uma
rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como a religião
e o sistema capitalista de produção. No mundo administrado, levantamos de
manhã, trabalhamos, comemos, reproduzimos etc., e tudo isso não faz o menor
sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem ao indivíduo sem que
ele participe da estruturação desse modo de vida, como se não tivéssemos
escolhas. A vida é chata, sem sentido e o mais sensato a se fazer é se matar,
como de fato, Camus o fez.
Portanto, ainda que não se precise
chegar aos extremos de Camus, o mito serve para mostrar que seguindo as
ideologias dominantes, seremos punidos com a mesmice, com o sentido heterônomo.
Fica o alerta para a compreensão sobre a liberdade e a responsabilidade humana
com relação à sua vida, ao seu mundo e aos outros.
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