Autora de best-seller lança livro sobre
transtorno do "coração descontrolado"
Nova
obra da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva enfoca o transtorno de
personalidade borderline, que faz as pessoas agirem no limite de suas emoções.
Leia entrevista
Autora
do best-seller “Mentes Perigosas” (Fontanar), que aborda a
incapacidade de amar dos frios psicopatas, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa
Silva se debruça sobre um tipo totalmente oposto em seu novo livro: alguém que
canaliza toda atenção para a vida afetiva e que tem uma necessidade incontrolável
de amar e ser amado o tempo todo. A obra “Corações Descontrolados” ,
da mesma editora, disseca o comportamento dos borders, chamados assim por
sofrerem do Transtorno de Personalidade Borderline (TBP).
Um
telefonema na véspera do Natal de 2009 motivou a autora a escrever o livro. A
ligação interrompeu uma caminhada da psiquiatra na orla do Rio de Janeiro e era
da amiga Victoria, que tinha acabado de ser presa por invadir o apartamento do
ex-namorado, em uma tentativa desesperada de provar que era a mulher da vida
dele. “No caminho até delegacia, fui me lembrando com toda a vida da Victoria
era marcada por relações que terminavam daquele jeito. Repetindo o ciclo de se
apaixonar pelo ‘grande amor da vida dela’, ser trocada por outra mulher e
acabar aprontando alguma. Foi assim desde o primeiro namorado”, relata Ana.
De
acordo com a psiquiatra, pessoas como Victoria (nome fictício) vivem sempre à
beira de uma ‘hemorragia emocional’, que pode acabar ‘sangrando’ se elas se
sentirem rejeitadas pelo (a) parceiro (a). Na entrevista a seguir, Ana descreve
a tormenta de ser border e a maneira de tratar esse transtorno.
iG:
Transtorno de Personalidade Borderline é uma doença? Como se caracteriza o
comportamento de uma pessoa com essa desordem?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: É mais do que uma doença, é um jeito
disfuncional de ser. Uma maneira de lidar com a vida que traz um prejuízo
significativo para uma pessoa. São quatro características básicas: a primeira é
uma dificuldade significativa nos relacionamentos afetivos e interpessoais mais
íntimos. A segunda é uma autoestima ruim, com esses indivíduos se vendo muito
aquém do que realmente são, em uma visão distorcida da realidade. Há ainda a
característica da impulsividade, que pode se manifestar com uma agressividade
aos outros ou a eles mesmos. Por fim, há uma instabilidade emocional, com
mudanças de humor várias vezes ao dia, em função dos acontecimentos,
especialmente àqueles relacionados à esfera dos relacionamentos.
Ana
Beatriz Barbosa Silva: "A vida afetiva domina a rotina de um border e nada
mais importa"
iG:
O que desencadeia essa instabilidade emocional e a constante mudança de humor?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: Pode ser uma coisa simples. Por exemplo, se a
pessoa border liga para o namorado no trabalho e ele fala apressado: “eu não
posso falar com você agora porque eu estou muito ocupado”, aquilo já acaba com
o dia dela.
Ela
vê aquilo como algo pessoal, com uma rejeição. É diferente de alguém que tem,
por exemplo, transtorno bipolar e alterna dois comportamentos opostos e bem
marcados.
Quem
tem transtorno borderline vai mudando de humor de acordo com as ações da pessoa
que é o seu objeto afetivo.
iG:
Então é um comportamento muito ligado à necessidade de ter aceitação,
acompanhado do medo de ser rejeitado?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: Exatamente. É como se essas pessoas fossem
hipersensíveis a qualquer tipo de rejeição. Então, se alguém diz que não gostou
do sapato dela, ela logo entende isso como se a pessoa não tivesse gostado dela
inteira. Ela não consegue levar aquilo numa boa e responder brincando: “que
engraçado você dizer isso, ele é confortável, me faz bem”. Qualquer crítica,
por menor que seja, provoca abalos. Mesmo quando não é crítica, mas apenas uma
observação. No livro “Mentes Perigosas”, eu tratei do transtorno de
personalidade psicopática, sobre pessoas completamente racionais, que não têm
nenhum sentimento pelo outro. Já uma pessoa border é totalmente o contrário
disso, com muita emoção e zero racionalidade. Elas têm pouca identidade pessoal
e acabam vivendo em função da opinião do seu objeto afetivo. Geralmente é o
namorado, mas também pode ser um amigo ou um familiar.
iG:
Em que fase da vida dá para perceber traços de transtorno borderline em uma
pessoa? Isso aparece já na infância?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: É um comportamento disfuncional que vai se
intensificando ao longo da vida. Mas o momento de eclosão acontece na primeira
paixão do indivíduo, o que geralmente ocorre durante a adolescência para a
maioria das pessoas. É o período mais dramático, em que os pais começam a
notar, por exemplo, que a filha tem uma reação muito exacerbada a um término de
namoro, ameaça se matar e diz que não vai mais conseguir viver se não voltar
para o namorado. Esse drama é até comum no primeiro amor de um jovem. O
problema é que isso começa acontecer repetidamente e vira rotina em todas as
relações afetivas seguintes. A pessoa começa a viver como se tivesse
constantemente apaixonada, enfrentando esses ciclos em que se sente rejeitada.
iG:
De acordo com a Associação de Psiquiatria Americana, as mulheres respondem por
75% dos casos de TPB. Porque essa predominância feminina no transtorno?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: Os estudos mostram que o cérebro masculino é
mais racional e o feminino mais emocional. Isso não quer dizer que não existam
homens mais emocionais ou mulheres mais racionais. O transtorno de borderline é
uma exacerbação do lado emocional, fica claro entender então que ele vai
predominar nas mulheres. Numa razão inversa, o transtorno psicopático,
caracterizado pela racionalidade, predomina entre os homens, numa razão de 4
para 1.
iG:
Os borders, tanto homens como mulheres, podem ter um comportamento agressivo a
ponto causar perigo aos seus parceiros?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: Podem sim. Existem dois modelos básicos de
borders. Um é aquele mais agressivo e explosivo, que gosta de controlar,
persegue e até agride o objeto afetivo. Esse tipo predomina mais entre os
homens. Já aquele que predomina mais entre as mulheres é o tipo mais implosivo,
que parte mais para autoagressão. Nos casos mais graves, elas se automutilam
machucando o próprio corpo ou bebem e usam drogas em excesso. Elas não usam
essas substâncias por prazer, mas para se punirem.
iG:
Já que TPB é muito mais uma maneira de ser do que uma doença, de que modo pode
se tratar alguém com esse transtorno? É possível curar alguém com essa
desordem?
Ana
Beatriz Barbosa Silva: Quando se trata de um transtorno de
personalidade, não se fala em cura, mas em ajuste. Porque toda personalidade
tem seu lado positivo e negativo. O que você faz no tratamento é exacerbar o
que ela tem de positivo, abrir portas e mostrar que ela pode ter recompensas e
prazer não apenas da vida afetiva, mas também no trabalho e nas outras áreas da
vida. Pessoas com traços borders costumam ser brilhantes nas artes. Se for uma
atriz, por exemplo, vai ser daquelas viscerais, que se entrega totalmente a um
papel. Quanto aos fatores negativos, você trabalha ao máximo para reduzi-los.
Você pode até ministrar um medicamento quando essa pessoa está numa fase muito
agressiva, mas esse não é o foco principal.
http://delas.ig.com.br/amoresexo/2012-11-13/como-e-o-amor-de-quem-tem-um-coracao-descontrolado.html
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