SUS
desembolsou 1/3 de R$ 700 milhões pagos a OSCIPs 'fantasmas' em Caxias
Governo
Federal repassou mais de um terço do montante entregue a quadrilha, segundo
investigação. Para Ministério Público, falta fiscalização efetiva e controle
dos gastos com recursos
Polícia
cumpriu busca e apreensão na casa de Zito, em Caxias, e em mais 13 lugares
O
governo federal abasteceu com pelo menos R$ 237 milhões a máfia de OSCIPs
“fantasmas” acusada pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual do Rio de
desviar R$ 700 milhões da Saúde em Duque de Caxias, o iG apurou. Os
recursos foram repassados pelo SUS à prefeitura da cidade da Baixada
Fluminense, que os gerencia. Para o MPF, porém, cabe ao Ministério da Saúde a
fiscalização da aplicação dos recursos repassados.
Levantamento
do MPF e do MP do Rio apuraram que um terço do total recebido pelas OSCIPs
Associação Marca e IGEPP vieram de repasses federais para a Saúde do município,
administrado pelo prefeito José Camilo Zito, réu na ação conjunta de
improbidade administrativa, junto com o ex-secretário de Saúde, Danilo Gomes, e
o procurador-geral do município, Francisco Rangel.
Nesta
quinta-feira, a Polícia Civil fez buscas e apreensões em diversos endereços na
cidade e em todo o Estado, inclusive na casa do prefeito Zito.
Como
os líderes da quadrilha, o MP aponta Tufi Soares Meres – dono do IGEPP (ou
Instituto Informare) e da Salute Social, o grande artífice do esquema e chamado
no bando de “o chefe”, –, Rosimar Gomes Bravo e Oliveira e seu marido, Antônio
Carlos Oliveira, o Maninho, donos da Associação Marca.
O
montante repassado é provavelmente bem maior. Esses dados levantados dizem
respeito a apenas o período entre 2009 e 2011, excluindo 2012, que agora se
encerra. Nesse período, os volumes de recursos foram aumentando
progressivamente.
Para
o Ministério Público, "há, assim, inegável interesse federal na demanda,
vez que os integrantes do esquema se apropriaram de parcela considerável das
verbas do SUS, incluindo-se verbas federais, comprometendo todo o
financiamento tripartite da saúde pública caxiense".
Repasses
a OSCIPs aumentaram progressivamente desde 2009
Zito
é acusado de improbidade administrativa
Em
2009, foram repassados pela prefeitura às OSCIPs R$ 135,7 milhões, sendo R$
73,29 milhões verbas federais; em 2010, Caxias entregou às fantasmas R$ 172,8
milhões, dos quais R$ 755,7 milhões eram da União; em 2011, caiu nas contas das
OSDCIPs a maior bolada até então: R$ 254 milhões, sendo 88,5 milhões federais.
Pelos
dados do MP e o MPF, a Associação Marca receberia, no total, até o fim de 2012,
R$ 485,5 milhões, o Instituto Informare (mesma entidade que o IGEPP) R$ 73,4
milhões, e o IGEPP R$ 206,6 milhões, totalizando R$ 765 milhões.
"Empresas
de fachada"
Conforme
a investigação, essas OSCIPs eram na verdade “empresas de fachada”, como a
inicial do MP e do MPF as chama. A investigação concluiu que a “Associação
Marca nada mais é que uma empresa privada tendo de OSCIP apenas forma e
estatuto para possibilitar contratação diferenciada (com dispensa de licitação)
pela administração pública”.
Segundo
interceptações telefônicas feitas em outra operação, em Natal-RN – que
investigava o mesmo esquema –, a própria Rosimar, conversando com parentes
admite que a Marca é “simples empresa travestida de estatudo de OSCIP, se
beneficiando de regime diferenciado de licitações e podendo gerir altas cifras
de recursos públicos”.
Zito
é acusado pelo MP de improbidade administrativa por contratar OSCIPs fantasmas
por R$ 700 milhões
As
OSCIPs fantasmas, localizadas todas nos mesmos endereços - meras salas
comerciais, sem funcionários -, recebiam recursos de Caxias para supostamente
administrar as unidades de saúde do município. O estado, porém, era “caótico”.
As notas fiscais são em nome de outras OSCIPs e empresas do mesmo grupo, e o
esquema servia apenas para “desviar recursos públicos” para os sócios.
As
OSCIPs, de acordo com a legislação, são entidades sem fins lucrativos. No caso
de Caxias, porém, os recursos acabavam no bolso dos sócios.
A
Justiça suspendeu os contratos e obrigou o município a nomear interventores,
supervisionados pelo SUS. O juiz determinou a “suspensão de todo e
qualquer repasse de verbas” em favor das OSCIPs, a proibição de Caxias fazer
novas terceirizações na saúde em favor de OSCIPs, intimou a prefeitura a
depositar em juízo R$ 10,6 milhões e R$ 8,6 milhões.
Na
ação, o MP pede ressarcimento ao erário do dinheiro repassado, a
inelegibilidade e perda dos direitos políticos dos envolvidos e o impedimento
de contratar com o poder público, sanções previstas na lei de
improbidade.
O iG enviou
e-mail para a Secretaria Municipal de Duque de Caxias, mas não obteve resposta.
Ministério
informa que não contrata OSCIPs, só repassa verbas
A
reportagem procurou o Ministério da Saúde no fim da tarde desta sexta-feira. A
assessoria de comunicação informou que o ministério não é responsável pela
contratação das OSCIPs; apenas repassa as verbas para as prefeituras, que as
administram e gerenciam.
O
Ministério da Saúde informou, ainda, que não analisa notas fiscais de prestação
de serviços de empresas terceirizadas por municípios, apenas em auditorias
realizadas em casos de suspeitas de fraude, e que o órgão não tinha conhecimento
de irregularidades até a deflagração da operação.
A
assessoria de comunicação afirmou que, dado o horário em que foi procurada, não
foi possível verificar se já houve algum tipo de auditoria em relação aos
repasses de R$ 237 milhões a Duque de Caxias e até se, eventualmente, já houve
algum ressarcimento.
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/2012-12-21/sus-desembolsou-r-237-mi-de-r-700-mi-pagos-a-oscips-fantasmas-em-caxias.html
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