Análise:
Populismo foi arma tradicional usada por governantes
A redução das tarifas de transporte coletivo nas
grandes capitais representou a rendição momentânea da política estabelecida a
uma onda que ela não conseguiu compreender ainda.
E não foi qualquer "establishment". São as
principais praças do país, governadas pelos mais importantes partidos, como o
PT, o PSDB e o PMDB, para ficar com os exemplos de SP e do Rio.
Emparedados por uma força nova e insondável, que
transbordou do mundo virtual para as ruas, curiosamente os governantes apelaram
para uma arma tradicionalíssima: o populismo.
Porque é isso o que as reduções sugerem. Uma medida
para acalmar ânimos, certamente apoiada por marqueteiros em pânico com o uso
das imagens dos últimos dias no horário eleitoral em 2014.
Mas alguém irá pagar a conta, muito provavelmente a
sociedade devido aos inevitáveis impactos econômicos do ato. Se ela será
acompanhada nisso pelos interessados em manter o cipoal que compõe o tarifário
do transporte, esta é uma interessante questão em aberto.
Claro que o MPL poderá agora protestar contra a
"caixa-preta da tarifa". E a classe média que extravasou contra um
pouco de tudo a seu reboque, igualmente.
Enfim, a medida aplacará as demandas que se veem das
portas do Castelão às praças de BH, passando pelos centros incendiados do Rio e
SP?
Exceto que os governos tenham serviços de inteligência
excepcionais, que lhes tenham garantido que o Facebook era aparelhado pelo MPL
e voltará a ser território de fotos de bichinhos fofos, apelos humanistas rasos
e afins, não. As imagens do começo da noite de ontem em na TV não insinuavam
prognóstico muito mais róseo.
Cabe perguntar se havia outra alternativa imediata para
o problema, e a resposta talvez seja negativa.
Mas o argumento repisado por políticos de que a
dificuldade em identificar interlocutores impossibilitava uma negociação
clássica acabou por ser ignorado por Haddad, Alckmin, Paes e outros.
Quem estava visível do outro lado da mesa, o MPL
paulistano, está longe de ser um ator usual e coerente --exceto na negação de
negociar.
Acuados, governos acabaram por legitimá-lo, e por
extensão legitimar os próximos candidatos a estrelas de um arremedo de
democracia direta. Basta que o caldo siga fervente, e isso é imponderável até
pela eventual exaustão física dos atos, e causas serão o menos importante.
Aí se encerra o grande risco político de terem dado a
primeira piscada neste pôquer peculiar em jogo. O governo o fez por ter olhos;
os manifestantes não os têm. Eles estão sob a máscara de Guy Fawkes, o
carbonário do século 17 que inspira o protagonista de "V de
Vingança".
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1298133-analise-populismo-foi-arma-tradicional-usada-por-governantes.shtml
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