Jovens traficantes, com até 22 anos e perfis com fotos de armas no
Facebook, querem tomar o Morro da Covanca, em Jacarepaguá
A cúpula de uma das maiores facções
da cidade investe numa nova geração de traficantes para fazer da Covanca seu
novo quartel general
Eles nasceram nos arredores do Largo
do Tanque. Muitos deles, há poucos anos, passavam seu tempo livre soltando pipa
e jogando bola pelas vielas do Morro da Covanca, em Jacarepaguá. O passatempo,
hoje, é outro: ostentando fuzis a céu aberto, eles ameaçam moradores, enfrentam
a polícia e tentam tomar a favela da milícia que ainda domina o local.
Investigações da 41 DP (Tanque)
revelam que a cúpula de uma das maiores facções da cidade investe numa nova
geração de traficantes para fazer da Covanca seu novo quartel general, após ter
perdido áreas como o Complexo do Alemão para as Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs).
O inquérito já conseguiu identificar
25 bandidos, a maioria com idades entre 16 e 22 anos. Ao todo, seis maiores,
que ocupam posições de destaque na hierarquia, já tem prisão preventiva
decretada pela Justiça. O responsável por abastecer essa tropa com armas e
munição é um velho conhecido da polícia: Luís Claudio Machado, o Marreta, que
fugiu pela tubulação do Instituto Penal Vicente Piragibe, em Bangu, no ano
passado e, hoje, vive no Complexo do Lins. De lá, ele manda reforços para a
"tropa" em caso de ataques da facção adversária, que ocupa o Morro do
Dezoito, em Água Santa.
Perfil de traficante tem foto com
fuzil e luneta de 30 cm Foto: Terceiro / Divulgação Polícia Civil
A "caixa baixa" tem, em seu
rol de atividades, práticas pouco usuais do tráfico. Alguns integrantes, como
William Thiago Arruda, o Baby, e Luiz Félix de Paula, o Dois, praticam roubos
de carro em série para abastecer financeiramente o grupo, que ainda não lucra
com a venda de drogas. Sem contar a cobrança de taxas para gás e transporte
alternativo, atividades tradicionalmente exploradas pela milícia local.
— A milícia da Covanca se contraiu e
o tráfico cresceu o olho para tomar esse espaço — conta o delegado titular da
41ª DP, Marcus Neves.
A quadrilha já faz suas primeiras
vítimas e já sinaliza que quer, pelo medo, tomar as rédeas da comunidade: a
Divisão de Homicídios investiga se os motoristas Marcelo Souza Costa e Mário
César Lopes da Silva foram queimados, há duas semanas, dentro de seus carros
por se recusarem a pagar o pedágio de R$ 30 para o tráfico.
Antonio Marcos Guimarães, o
Antoninho, tem apenas 18 anos, mas já carrega armas de gente grande. O perfil
do jovem bandido foragido no Facebook — já investigado pela polícia — deixa
claro o paradoxo entre a despedida da infância e a entrada para a vida do
crime: entre fotos da namorada e de beijos na mãe, o bandido exibe armamento
pesado, como um fuzil 762 com alcance de 3 mil metros equipado com uma luneta
de 30 cm.
Outra imagem homenageia seus ídolos:
Aleksandro e Anderson Rocha da Silva, respectivamente Sam da Caíco e Russão,
traficantes expulsos da Covanca pela milícia que foram presos em maio do ano
passado tentando retomar o controle da favela. "Patrão Sam e Russo vai
voltar, é nós", diz a legenda.
Além de fãs, Sam deixou herdeiros na
favela: segundo investigação da 41ª DP, seus dois filhos, Thiago Silva de
Souza, o Shrek, e um menor, de 16 anos, fazem parte da quadrilha. Os laços
familiares, aliás, são característica do grupo: o irmão mais velho de
Antoninho, Bruno Guimarães, o Malandrinho, também está foragido.
Para polícia, revólveres estão em
"excelente estado". Histórico
sangrento
No início de 2012, a polícia começou
a perceber que moradores da Covanca estavam sendo expulsos de lá. Os
responsáveis pelas ameaças eram traficantes nascidos na favela e expulsos pela
milícia. Refugiados no Jacaré, o grupo chefiado por Sam se preparava para
retomar o local em 2012, quando uma operação da Core prendeu os líderes do
grupo.
Após a prisão de Sam, a área voltou a
ser dominada por milicianos até 30 de abril, quando PMs prenderam um homem
conhecido como Japão, o líder do grupo. Desde então, a milícia ficou
enfraquecida. Atualmente, há um inquérito na 41ª DP para investigar o grupo que
permaneceu na favela: segundo agentes, há PMs, agentes penitenciários e
bombeiros envolvidos.
As investigações da polícia revelam
que criminosos do Bateau Mouche, Jacarezinho e do Complexo do Lins já estiveram
na Covanca nos últimos meses para apoiar o grupo local. Há duas semanas, PMs
encontraram um acampamento do tráfico no morro. Na sexta-feira, Diego Ribeiro,
o Maldade, chefe do tráfico do Bateau Mouche, que já foi visto na Covanca, foi
preso por PMs.
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