Discurso não resolve crises
Quando mais se espera que, não podendo mais deixar de reconhecer
o tamanho dos problemas, o governo Dilma adote um plano articulado para debelar
os efeitos mais nocivos da crise mundial sobre a economia brasileira, o que se
vê é a repetição do que tem feito até agora, sem resultados concretos: vender
otimismo, ameaçar os pessimistas e construir um cenário cada vez mais distante
da realidade. Utilizam-se promessas para enfrentar problemas.
Embora tivesse demonstrado, no início da semana, grande
preocupação com a situação - sobretudo depois da constatação, pelo IBGE, da
estagnação da economia no primeiro trimestre -, a ponto de convocar uma reunião
de emergência com os principais ministros e auxiliares da área econômica para
decidir ações imediatas, na terça-feira a presidente Dilma Rousseff parecia ter
descoberto um novo quadro econômico. Na sua avaliação, a expansão da economia
em 2012 não será menor do que a registrada no ano passado (quando o PIB cresceu
2,7%), como está sendo previsto pela maioria dos economistas do setor privado,
porque o governo vai lançar mão dos instrumentos necessários para estimular os
investimentos e sustentar o crescimento do consumo.
"Quem aposta na crise, como (fez) há quatro anos, vai
perder de novo", profetizou Dilma, na solenidade do Dia Mundial do Meio
Ambiente. Repetiu a bravata feita pelo presidente Lula em 2009, que disse que
quem apostasse que a crise internacional iniciada no ano anterior quebraria o
Brasil acabaria "quebrando a cara". O País, disse Dilma, tem um
"arsenal de providências" que podem ser colocadas em prática.
"Sistematicamente, tomaremos medidas para expandir o investimento público,
estimular o investimento privado e o consumo das famílias."
É o que se espera que seja feito, mas de maneira eficiente. Em
tese, esse tripé sustentará a atividade econômica e propiciará o crescimento
mais rápido dentro de algum tempo. Mas, na prática, há superdimensionamento de
um dos pés e atrofia dos outros dois. O que o governo tem feito com grande
insistência é estimular o consumo, por meio da ampla oferta do crédito, a juros
menores. É uma política cuja eficácia está limitada pela capacidade de
endividamento das famílias e pela disposição dos bancos de emprestar. O aumento
do comprometimento da renda das famílias com despesas financeiras e o
crescimento dos índices de inadimplência indicam que essa política terá efeitos
cada vez menores.
As incertezas do cenário internacional e os impactos da crise na
economia brasileira paralisaram os investimentos privados. Por isso, é o momento
adequado para o governo utilizar seu "arsenal de providências" e
acelerar os investimentos públicos. Até agora, porém, o governo Dilma mostrou
pouca aptidão para isso. Os investimentos federais neste ano são os menores dos
últimos três anos (para o período janeiro-maio), como mostrou o Estado, ontem.
Demonstrando despreocupação com o quadro econômico, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, disse que a economia registrará em maio e junho
índices de crescimento "muito maiores" do que em abril e o resultado
do segundo trimestre será melhor do que o do primeiro. Na sua avaliação, a
economia superou a fase de estagnação e entrou numa rota positiva.
"Teremos crescimento do PIB e da produção industrial", destacou,
referindo-se ao setor que, em abril, apresentou resultados decepcionantes.
Citou a indústria automobilística, que tem grande peso na composição do PIB, e
que, na sua opinião, "agora vai crescer mais do que outros setores".
Igualmente sem demonstrar preocupação com o cenário, o
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu as medidas adotadas
pelo governo para estimular o crédito e o consumo das famílias. Num momento em
que caberia à autoridade monetária no mínimo apontar os riscos do contínuo
estímulo aos financiamentos quando diminui a capacidade financeira do
consumidor e cresce a inadimplência, Tombini tem-se limitado a defender as
ações do governo - com o qual mostrou perfeito alinhamento durante a audiência
pública na Câmara dos Deputados.
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