PF: Quadrilhas
recebiam até R$ 80 mil por vaga em curso de medicina
‘Operação Calouro’ vai cumprir 70 mandados de
prisão e 73 mandados de buscas em dez estados do Brasil
RIO — A Polícia Federal prendeu sete líderes de
quadrilhas que fraudavam vestibulares de medicina em faculdades particulares de
todo o país. De acordo com as investigações, que duraram um ano e meio, as
quadrilhas agiam há mais de dez anos no Brasil, especialmente em instituições
de ensino da região sudeste. A organização criminosa era chefiada por médicos,
estudantes de medicina, empresários e por um engenheiro formado pelo Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ao todo, a Vara Especial de Central de
Inquéritos de Vitória expediu 70 mandados de prisão e 73 de busca e apreensão,
que foram cumpridos nesta quarta-feira (12) no Espírito Santo, Goiás, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins, Rio Grande do Sul, Acre, Mato
Grosso, Piauí e Distrito Federal.
Em cada vestibular a quadrilha comercializava, em
média, 20 vagas. O lucro total por processo seletivo podia chegar a R$
1.600.000,00. Segundo o delegado responsável pela operação, Leonardo Damasceno,
a PF acompanhou mais de 50 exames em todo o país.
O esquema funcionava de duas maneiras:
integrantes da quadrilha falsificavam documentos e faziam as provas no lugar
dos verdadeiros candidatos ou então utilizavam a cola eletrônica. Um membro da
quadrilha se matriculava no vestibular e fazia a prova em poucos minutos. Depois,
ele saía da sala com o gabarito e respondia as questões com a ajuda de
especialistas em medicina que prestavam serviço para a organização. Em seguida,
as respostas eram repassadas por meio de um ponto eletrônico para o candidato
que comprou a vaga e continuava na sala de prova.
— A quadrilha era tão organizada que dava
treinamento para os alunos ensinando como se comportar na hora da prova para
não ser percebido e como utilizar os equipamentos eletrônicos — contou o
delegado.
Segundo Leonardo, para o candidato receber o
gabarito, eles cobravam de R$ 25 mil a R$ 50 mil. Quando a fraude acontecia por
meio da substituição do estudante em sala, os preços variam de R$ 45 mil a R$
80 mil.
— O que queremos mostrar é que este não é um tipo
de crime irrelevante, nem esporádico. É algo organizado, lucrativo e que
precisa de atuação constante — disse Damasceno, complementando que a operação
vai quebrar um sistema de mais de 20 anos de atuação.
O delegado contou que o acompanhamento da PF
conseguiu evitar a efetivação da fraude na maior parte das tentativas, por meio
de uma parceria com as instituições de ensino, que colaboraram com as
investigações. Por isso, ele prefere manter o nome das faculdades envolvidas em
sigilo.
— As instituições também são vítimas das quadrilhas.
Quando uma faculdade promove um vestibular, ela quer selecionar os melhores
estudantes. E a ação dessas organizações quebra essa lógica, trazendo, muitas
vezes, um universo de alunos que não são bons. Em todo o caso, o que posso
garantir é que as quadrilhas, nesse um ano e meio de investigação, encontraram
muita dificuldade em agir. O resultado delas, com certeza, foi muito pior do
que seria eventualmente sem a participação da PF e a colaboração das
instituições — afirmou.
As pessoas que contrataram os serviços da
quadrilha não serão presas porque não possuem vínculo permanente com a
organização criminosa, explicou o delegado. Entretanto, elas serão indiciadas e
vão responder a inquérito na PF. Os nomes dos alunos beneficiados com a fraude
serão encaminhados às instituições de ensino para que possam ser excluídos dos
cursos. Além de formação de quadrilha, os acusados responderão por falsidade
documental, falsidade ideológica, fraude em vestibulares e, em alguns casos,
por lavagem de dinheiro.
Rio
O Rio de Janeiro, de acordo com Damasceno, tem um
vestibular muito visado e, por isso, as instituições da cidade são alvos
valiosos das quadrilhas. Ele diz que, em algumas faculdades privadas,
inclusive, as vagas são concorridas quase todas pelas diferentes organizações
criminosas.
— Os jovens têm muito interesse em estudar no
Rio. Por isso, as quadrilhas conseguem muitos clientes para a cidade. No fim,
quem leva a disputa é a quadrilha que tem o melhor desempenho — disse
Damasceno.
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