PEGADINHA GRAMATICAL
Um estudo sobre a
hipálage
Embora o termo em questão “aparentemente” não se revele como sendo
familiar, sabe-se que este se caracteriza por um recurso linguístico em que uma
palavra é usada no lugar de outra. E quando mencionamos os recursos
linguísticos, sentimo-nos envoltos pela noção relacionada às figuras de
linguagem, cujo intento é tão somente conferir maior expressividade ao
discurso.
A título de esclarecermos, veementemente, como tal recurso se
materializa, utilizaremos como exemplos representativos, os excertos
linguísticos abaixo evidenciados:
“Ao som do mar e à
luz do céu profundo”. (Osório Duque Estrada)
“Fumando um pensativo cigarro”. (Eça de Queiroz)
“... em cada olho um grito castanho de ódio.” (Dálton Trevisan)
O sapato não entra no pé.
A saia não cabe mais em mim.
Quando analisados, constatamos que realmente uma palavra foi usada
no lugar de outra, ou seja, o adjetivo “profundo” que se atribui ao céu, na
verdade deveria se atribuir ao mar. Não diferente também ocorre com os demais,
visto que “pensativo” revela uma ação humana, bem como em “castanho”, que na
verdade se relaciona ao olho e não ao grito. Não esquecendo de que é o pé que
não entra no sapato, como também é a pessoa que não entra na vestimenta, não o
contrário... E por aí segue uma infinidade de casos desta mesma natureza.
Identificamos, portanto: trata-se de um processo psíquico,
semelhantemente a outro recurso linguístico – ora representado pela sinestesia
– a qual se revela pela correspondência entre diferentes sentidos ou sensações,
como por exemplo, o perfume agridoce (mistura de dois órgãos do sentido: olfato
e paladar). Não obstante, há ainda que se mencionar que tal característica se
encontra atrelada a fatores não só de ordem semântica, mas também sintática,
isto é, o fato de atribuir a um substantivo uma qualidade ou propriedade
pertencente a outro, o qual se encontra muito próximo mediante o contexto
oracional.
Tal afirmativa se torna ainda mais expressiva quando
contextualizada às palavras de Massaud Moisés, retratadas em seu Dicionário de
Termos Literários, as quais definem a hipálage da seguinte maneira:
“Constitui um expediente retórico segundo o qual um determinante
(artigo, adjetivo, complemento nominal) troca o lugar que logicamente ocuparia
junto de um determinado (substantivo) para associar-se a outro”. (...)
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