sábado, 31 de agosto de 2013

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De repente, nas Profundezas do Bosque (Suddenly in the Depth of the Forest / פתאום בעומק היער), de Amós Oz
por Christian von Koenig em 15/07/2013

O escritor israelense Amós Oz é conhecido pela sua iniciativa política e pelo comprometimento em procurar uma solução pacífica à questão Israel-Palestina. Sua vida é rica em experiências e o resultado de suas vivências aparecem em livros como De Amor e Trevas (A Tale of Love and Darkness, 2002), tido como um dos mais importantes da literatura hebraica moderna.

Já De repente, nas Profundezas do Bosque (Suddenly in the Depth of the Forest, 2005) é um momento peculiar na bibliografia do escritor. Esta breve obra é uma fábula e portanto lida mais com aspectos fantasiosos, inverossímeis.

Lembremos as principais características desse gênero: narrativa curta com poucos personagens; os personagens são geralmente animais ou objetos personificados; há uma conclusão moral, uma lição a ser aprendida.

Conforme veremos a seguir, De repente… apresenta essas três características e por isso podemos considerá-la como o autor indica, como uma fábula. No entanto ela foge da estrutura padrão ao usar seus traços de maneira muito própria.


A narrativa divide-se em dois momentos distintos ao longo de suas 140 páginas, em que o primeiro é marcado pelo suspense. Mati e Maia são as crianças protagonistas da história; na pacata aldeia onde eles vivem há um grande mistério: todos os animais sumiram há alguns anos e os adultos não querem falar sobre o que aconteceu. Nessa aldeia não se vê nem pato nem gato, nem peixe nem mosca. Só gente.

E lá todos temem a noite e seus perigos, como a aparição de Nihi, o demônio das montanhas. Logo, a maioria dos habitantes foge do contato mais íntimo com a natureza, pois se o fizerem passam por loucos ou doentes.

Porém Mati e Maia compartilham um segredo: eles viram um pequeno peixe no rio que corta a aldeia e isso os motiva a procurarem longe dali as respostas ao que aconteceu com os animais, pois ali isso é assunto velado.

O segundo e terceiro traços – personagens personificados e lição moral – são invertidos quando entramos na fábula propriamente dita, ou seja, o segundo momento da narrativa. Aqui não são os animais que se personificam, mas as pessoas que se animalizam para chegar à moral. E a lição não é dada aos protagonistas, mas aos demais personagens.

A primeira parte do livro é muito boa porque essa situação inusitada provaca suspense e o leitor deseja saber o porquê das coisas ocorrerem daquele modo. Já a segunda revela-se demasiado explícita para o público adulto, o que faz pensar se De repente… é mesmo uma fábula para todas as idades, como diz Amós OZ.

Abro aqui um parêntese. A lição é sim útil a quaisquer idades; a exposição é que frustrar o público de maior idade. Fecho parênteses.

A moral da obra é expressa de forma bastante direta:

“Até que um dia pode ser que ocorra uma mudança nas almas, e então nós desceremos do monte e quem sabe nascerá em nós um novo coração, em todas as criaturas, pessoas, animais e aves, e todos os carnívoros se habituarão a comer carnemônias em vez de caçar. Até que possamos também nós, eu e todos os meus amigos, e até Nimi, o potro, sair da densidão do bosque e voltar à aldeia, e viver os dias da nossa vida nas casas, pátios, campos, pastos e às margens do rio. O meu desejo de vingança ruirá e se soltará de mim como a pele seca de uma cobra, e nós poderemos trabalhar, amar, passear, cantar, brincar e conversar sem devorar e sermos devorados, e também sem debochar um do outro.”*

Sobre viver em harmonia, sem maltratarmos o outro, tudo certo. Mas essa inversão da personificação para a animalização é vista sob uma ótica que pessoalmente considero errônea. Mesmo como vegetariano não posso querer que um urso deixe de se alimentar de carne. Nós humanos temos a possibilidade de opção independentemente do meio, podemos até morrer de fome por vontade própria, enquanto os animais vivem do instinto. E são a seu modo inocentes assim, porque não agem por maldade e sim por necessidade inconsciente.

Que as pessoas sejam capazes de más ações e que se deve lutar contra essas más ações é perfeitamente entendível; agora, que os animais sejam visto sob uma mesma moral que se espera das pessoas, isso não consigo aceitar.

* De repente, nas Profundezas do Bosque (Suddenly in the Depth of the Forest / פתאום בעומק היער), de Amós Oz, em tradução de Tova Sender para a editora Companhia das Letras.
http://classicosuniversais.com/2013/07/15/de-repente-nas-profundezas-do-bosque/#more-1559

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