Os “ismos” da política nacional: o
patriarcalismo
É
chamado de patriarcalismo o poder centralizado nas mãos do patriarca, dono de
terras e escravos. Ele personificava a lei e a regra e, por meio de mecanismos
de coerção, mantinha-se no poder.
A
fazenda se transformou em uma espécie de pequena República.
Muitos
são os “ismos” da política nacional. De forma direta ou indireta, estes
influenciaram no desenvolvimento de um espaço político nacional, ora abortando
seu nascimento, ora dando a ele um caráter mais privado do que público,
propriamente dito. Coronelismo, mandonismo, patriarcalismo, personalismo, clientelismo
e até mesmo populismo (embora este surja no Brasil republicano e de forma
incisiva no período Vargas) são alguns dos “ismos” que se fizeram presentes na
história da organização política do país, servindo às elites como mecanismos de
cooptação, coerção, e de legitimação de seu poder, isto é, como instrumento
para seu acesso e manutenção do comando do Estado.
Foram
em grande medida responsáveis pela deformação que o espaço político brasileiro
sofreria em virtude não somente da alteração dos moldes democráticos do direito
de escolha (do voto), mas também pela ausência de ideologias que visassem o bem
público. Representaram a manipulação do eleitorado, tornando o povo “massa de
manobra” através do cerceamento e condução da opinião pública pela classe política,
condução esta dada através do alargamento e perpetuação dos meios de
dependência econômica de uma classe excluída social e politicamente, a qual ao
mesmo tempo abdicava da participação ativa da política.
A
falta de interesse ou de compromisso manifestada pela maioria menos abastada
era motivada pelos fatores como o gosto pela organização privada, pela reclusão
em seu universo rural, bem como pelo sentimento de desnecessidade do Estado,
uma vez que se acreditava ser o grande latifúndio uma estrutura autossuficiente.
Por outro lado, deve-se considerar que por maior que fosse o interesse ou o
engajamento demonstrado pelos mais pobres, vários fatores estabelecidos serviam
para marcar sua exclusão. Exemplo disso eram as restrições de direito ao voto
pela alfabetização ou não, pela posição social (escravos estavam excluídos),
pelo sexo (mulheres não votavam), bem como pela quantidade de dotes (riquezas).
Assim, este seria o contexto que fomentaria a ideia de que a política em si
seria “coisa” para as elites, e não para a população como um todo. A família, o
contexto rural do Brasil de produção agrária, as relações personalíssimas e a
ordem privada, de maneira geral, influenciariam nos rumos da sociedade
brasileira, não permanecendo nos limites da grande propriedade, mas chegando
aos gabinetes e às assembleias constituintes, alcançando o Estado.
Um
dos “ismos” seria o chamado patriarcalismo. Dentro daquela máxima de que o
latifúndio se bastava a si mesmo, sendo autossuficiente, pode-se afirmar que
ficava constituída uma espécie de pequena República e que a figura do patriarca
despontava como o chefe maior. Todos os agregados e escravos que estivessem
circunscritos numa determinada propriedade, bem como todos os outros indivíduos
da família (como os filhos) deviam obediência a este senhor de terras, e sua
autoridade era legitimada pelo leque de fatores oriundos do apego aos valores
do gosto pelo privatismo, pelo respeito de sua figura de chefe familiar e, no
caso dos indivíduos não pertencentes à família, pela dependência econômica.
O
senhor de terras e de escravos era quem centralizava todo o poder, não só
dentro de sua propriedade, mas às vezes por toda a localidade, e sua vontade
era a vontade de todos, suas ordens eram acatadas por todos, passando além das
cercas da fazenda, demonstrando, de tal modo, o que se tem como subordinação
pessoal. Assim caracterizava-se o patriarcalismo, que na figura do patriarca e
chefe da família, personificava a lei e a regra, e ao mesmo tempo tutelava a
vida de seus agregados, funcionários, escravos, enfim, sua família. Mesmo os
indivíduos que prestavam serviços importantes à fazenda, como o escoamento da
produção, eram também influenciados por este poder, não tanto pelas
dependências mais características de outros casos, mas sim pela troca de
favores que havia entre estes e os senhores de terra. A forma de domínio se
reproduzia na forma de favor. Esta relação mais tarde seria levada para o
controle eleitoral, uma vez que a “lealdade” ao patriarca deveria ser expressa
no apoio a seus candidatos ou à sua própria candidatura. Votar contra era se
mostrar contrário a esta associação moral que era proposta pelo senhor de
terras, o patriarca.
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