quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Língua afiada...

PEGADINHA GRAMATICAL
Figuras de palavra ou semânticas
Figuras de palavra ou semânticas representam os recursos estilísticos dos quais o emissor se utiliza, materializados pelo emprego de uma palavra pela outra.
   
Figuras de palavra ou figuras semânticas se caracterizam pelo emprego de uma palavra pela outra, por haver nelas uma relação de semelhança.
  
Por ora falaremos um pouco mais sobre as figuras de palavra. Dessa forma, por que não contemplarmos alguns fragmentos de um conhecido poema de Mário Quintana, abaixo descrito?

Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
[...]
                                   Mário Quintana

Surge a pergunta: que relação existe entre os pássaros e os poemas? É justamente na tentativa de esclarecer tal questão que se encontra a razão de as figuras de palavras existirem. Sim, pois elas representam os recursos estilísticos utilizados pelo emissor, os quais consistem no emprego de um termo diferente daquele tido como convencional (materializado por uma espécie de substituição), a fim de conferir uma maior expressividade junto à mensagem por ele retratada. Assim, resta-nos concluir que os pássaros, munidos de toda sua liberdade de atingir grandes alturas, indo um pouco mais além, assemelham-se à capacidade imaginativa, ao poder de criação do próprio poeta frente ao trabalho que realiza com a linguagem.

Assim sendo, passemos a estabelecer familiaridade com os principais casos que integram as chamadas figuras de palavra ou figuras semânticas, assim subdivididas:

Metáfora

A título de melhor compreendermos as características inerentes a esta figura, observemos as palavras de Mattoso Câmara, assim expressas:

“Não há, aparentemente, uma relação real entre as duas palavras, isto é, não se fundamenta numa relação objetiva, mas sim, numa relação toda subjetiva [...]”.

O referido autor apenas confirma o que antes dissemos, ou seja, a metáfora se define pelo emprego de uma palavra por outra, em virtude de haver entre elas (mesmo não sendo real) certa semelhança. Assim, podemos perfeitamente aproveitar as palavras de Quintana para exemplificá-la, ou seja:

“Os poemas são pássaros que chegam”...

Comparação

Podemos afirmar que a comparação apenas se distingue da metáfora pelo fato de nela haver conectivos comparativos de forma explícita, retratados por “assim como, tal qual, tal como, que nem, feito”, bem como por alguns verbos, como é o caso de “parecer, assemelhar-se”, entre outros. Vejamos:

“Cabelos tão escuros como a asa da graúna”. (José de Alencar)

Metonímia

Figura que se caracteriza pela substituição de uma palavra por outra, em virtude de haver entre elas algum grau de semelhança, proximidade de sentido ou implicação mútua. Assim, tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, podendo se manifestar de distintos modos, entre eles:

a)  a causa pelo efeito:

Vivemos do nosso trabalho. (do produto do trabalho, fazendo referência ao alimento)

b) o efeito pela causa:

O poeta bebeu a morte. (referindo-se ao veneno)

c) o instrumento pela pessoa que o utiliza:

Aquele garoto é um bom garfo (comilão, guloso)

d) o autor pela obra:

Minha paixão é ler Castro Alves. (a obra de Castro Alves)

e) o continente pelo conteúdo:

Tomamos dois copos de suco. (o conteúdo que continha no recipiente)

f) o concreto pelo abstrato:

A verdade sempre vencerá. (os que dizem a verdade)

g) o inventor pelo invento:

Einstein possibilitou a teoria da relatividade. (a invenção de Einstein)

h) a parte pelo todo:

O bonde passa cheio de pernas...(Drummond)

i) a marca pelo produto:

Só tomamos Bohemia (a cerveja da marca Bohemia)

j) singular pelo plural:

Os direitos da mulher devem ser respeitados. (os direitos de todas as mulheres)

l) o material pelo objeto

O soar dos bronzes anuncia a procissão. (os sinos)

m) o nome próprio pelo nome comum (o indivíduo pela espécie):

Ele se revelou como um judas. (traidor)

Catacrese

Trata-se de uma figura que em virtude de seu contínuo se tornou cristalizada, perdendo assim seu caráter estilístico. É como afirma Othon M. Garcia "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. Dessa forma, afirmamos que o uso da catacrese se dá pela falta de não haver um termo específico para designar um conceito, tomando-se outro emprestado”. Para exemplificar, eis alguns fragmentos do poema de José Paulo Paes:

Inutilidades

“Ninguém coça as costas da cadeira.
Ninguém chupa a manga da camisa.
O piano jamais abandona a cauda.
Tem asa, porém não voa, a xícara.
De que serve o pé da mesa se não anda?
E a boca da calça, se não fala nunca?
Nem sempre o botão está na sua casa.
O dente de alho não morde coisa alguma.
Ah! Se trotassem os cavalos do motor…
Ah! Se fosse de circo o macaco do carro…
Então a menina dos olhos comeria
Até bolo esportivo e bala de revólver”.

Sinestesia

Caracteriza-se por mesclar em uma mesma expressão as sensações percebidas pelos diferentes órgãos do sentido. Exemplificando, observemos alguns fragmentos extraídos de uma criação simbolista:

Cristais
[...]

Como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
[...] (grifos nossos)
                                     Cruz e Souza

Antonomásia

Define-se pela expressão que designa um ser por meio de uma qualidade ou atributo, e até mesmo por meio de um fato que o tornou célebre. Assim, constatemos alguns casos:

O Rei do futebol. (Pelé)
O Mestre dos Mestres (Jesus)
O Poeta da Vila (Noel Rosa)
http://www.brasilescola.com/gramatica/figuras-palavra-ou-semanticas.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais uma etapa superada...