Triplica
parcela de jovens internados por tráfico de drogas
"Com 16 anos, eu comecei como aviãozinho, fui crescendo de
cargo, virei traficante, depois gerente, depois conquistei um espaço só meu,
virei dono de uma boca."
A ascensão de T., hoje com 18 anos, na carreira de tráfico de
entorpecentes foi rápida e curta. Há sete meses, está internado na Fundação
Casa (antiga Febem), depois de ter sido detido por policiais.
Incidência de jovens no tráfico cresce na maioria dos Estados
brasileiros.
Mundo de jovem de 17 anos gira ao redor do crime desde o início
da adolescência.
A cada 10 jovens infratores, 5 são reincidentes.
Salários de jovens no tráfico são 23% maiores, diz estudo.
T. e outros três adolescentes apreendidos nas unidades Casa
Osasco 1 e 2, em São Paulo, relatam ser fácil conseguir um espaço na
comercialização de drogas ilícitas.
"Sempre começa com alguém que te chama. Só basta você
querer. Se você falar não, é não", diz F., 15.
O número de jovens que, como T. e F., não conseguiram dizer não
ao tráfico de drogas, apesar da expansão do emprego formal e do aumento da
escolaridade nos últimos anos, explodiu.
Eles representavam 7,5% dos adolescentes que cumpriam medida de
restrição de liberdade em 2002, segundo a Secretaria de Direitos Humanos (SDH).
Em uma década, esse percentual mais do que triplicou, atingindo
26,6% em 2011. A expansão ocorreu em 22 das 27 unidades da federação.
Levantamento feito pela Folha mostra que a tendência de expansão
continua. Entre 14 Estados que forneceram dados, 10 registraram aumento da
incidência de tráfico entre adolescentes infratores.
A causa mais citada por especialistas para o maior número de
jovens traficantes é o crescimento do
consumo de drogas no país.
"Existe uma grande epidemia de consumo de crack, que você
consegue comprar até por R$ 0,50", diz Joelza Mesquita Andrade Pires,
presidente da fundação de atendimento socioeducativo do Rio Grande do Sul.
A dificuldade que os jovens, principalmente os de famílias com
menor renda, enfrentam para entrar no mercado de trabalho formal também é
ressaltada.
A maioria
dos adolescentes infratores abandonou os estudos ou apresenta defasagem de
série na escola.
"O jovem que tem formação educacional ruim e não consegue
colocação no mercado de trabalho é recebido de braços abertos no tráfico",
diz Berenice Gianella, presidente da Fundação Casa. "Os menores são mão de
obra farta e barata para o tráfico."
A fatia de jovens internados por tráfico em 2011 (26,6% do
total) era maior que a de adultos presos pelo mesmo motivo (24,4%). Hoje, o
tráfico só perde para o roubo entre os delitos que levam à apreensão de
adolescentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário