segunda-feira, 28 de maio de 2012

Viva a sabedoria...


Nietzsche criticou o dualismo de Platão, a quem apontava como responsável pela inversão de valores que vigorou em nossa cultura: a valorização de outro mundo – o mundo das ideias – com a desvalorização deste mundo em que vivemos – o mundo sensível. Atacou a metafísica platônica e a valorização da alma em detrimento do corpo, sendo esse o “cárcere da alma”. Para ele,  também Sócrates – mestre de Platão – foi responsável pela introdução do “homem teórico” na filosofia, isto é, por colocar os conceitos, a teoria e a definição dos conceitos atrelados a uma “verdade” pré-existente como principal meio para se atingir uma vida virtuosa. Sócrates, segundo Nietzsche, uniu essa verdade a priori e a moral para fazer surgir esse homem “virtuoso”, o que abriu espaço para todo tipo de moralina (expressão nietzschiana: este tipo humano teórico e moralista em sentido pejorativo). Além disso, o racionalismo de Sócrates fortaleceu uma postura antropocêntrica na filosofia, tomando o homem teórico e moral como medida para a construção do homem de bem – isto é, tornando o próprio Sócrates um modelo de homem. Platão levou essa ideia adiante. Assim é que os inimigos do mestre e do discípulo, a quem se denominava de sofistas, tiveram os nomes ligados à mentira, ao mal, já que os sofistas, para eles, não estavam preocupados com a verdade e com a moral. Mas a questão, para Nietzsche, é se Sócrates e Platão não seriam, eles também, tipos de sofistas ao nomearem “a verdade” e “a moral”, ambas absolutas. Além dessas críticas, o filósofo alemão tomou Platão como um cristão mesmo antes de Jesus Cristo, afirmando que o cristianismo não passa de um platonismo para o povo, como podemos ver no prefácio de Para além de bem e mal. A crítica de Nietzsche ao cristianismo é a própria crítica à metafísica.
Livro Nietzsche: viver intensamente, tornar-se o que se é. Por Mauro Araujo de Sousa, p.6.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais uma etapa superada...