Nietzsche criticou o dualismo de Platão, a quem apontava
como responsável pela inversão de valores que vigorou em nossa cultura: a
valorização de outro mundo – o mundo das ideias – com a desvalorização deste mundo
em que vivemos – o mundo sensível. Atacou a metafísica platônica e a
valorização da alma em detrimento do corpo, sendo esse o “cárcere da alma”.
Para ele, também Sócrates – mestre de
Platão – foi responsável pela introdução do “homem teórico” na filosofia, isto
é, por colocar os conceitos, a teoria e a definição dos conceitos atrelados a
uma “verdade” pré-existente como principal meio para se atingir uma vida
virtuosa. Sócrates, segundo Nietzsche, uniu essa verdade a priori e a moral para fazer surgir esse homem “virtuoso”, o que
abriu espaço para todo tipo de moralina
(expressão nietzschiana: este tipo humano teórico e moralista em sentido
pejorativo). Além disso, o racionalismo de Sócrates fortaleceu uma postura
antropocêntrica na filosofia, tomando o homem teórico e moral como medida para
a construção do homem de bem – isto é, tornando o próprio Sócrates um modelo de
homem. Platão levou essa ideia adiante. Assim é que os inimigos do mestre e do
discípulo, a quem se denominava de sofistas, tiveram os nomes ligados à
mentira, ao mal, já que os sofistas, para eles, não estavam preocupados com a
verdade e com a moral. Mas a questão, para Nietzsche, é se Sócrates e Platão
não seriam, eles também, tipos de sofistas ao nomearem “a verdade” e “a moral”,
ambas absolutas. Além dessas críticas, o filósofo alemão tomou Platão como um
cristão mesmo antes de Jesus Cristo, afirmando que o cristianismo não passa de
um platonismo para o povo, como podemos ver no prefácio de Para além de bem e mal. A crítica de Nietzsche ao cristianismo é a
própria crítica à metafísica.
Livro Nietzsche:
viver intensamente, tornar-se o que se é. Por Mauro Araujo de Sousa, p.6.
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