Quem são os
trabalhadores encontrados em situação de escravidão no Brasil
O trabalhador
mais vulnerável é homem, analfabeto, nascido no Maranhão e que é aliciado para
trabalhar em áreas de desmatamento da floresta amazônica, mostra Atlas do
Trabalho Escravo.
A Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (22),
após mais de uma década de tramitação, um projeto que muda o texto da
Constituição e permite que propriedades onde for encontrado trabalho escravo
sejam expropriadas e destinadas para a reforma agrária - é a PEC do
Trabalho Escravo.
O texto ainda vai passar pelo Senado, e deve ser
criado um grupo de trabalho para decidir como a PEC será executada, mas segundo
o pesquisador da Unesp Eduardo Girardi, a aprovação desta semana já representa
um avanço. "É um passo importante para o combate do trabalho escravo, que
é uma prática que está em total desacordo com os interesses da sociedade."
Girardi é autor, junto com outros pesquisadores da
USP e da Unesp, do Atlas do
Trabalho Escravo, lançado no último mês em parceria com a ONG
Amigos da Terra. O atlas apresenta uma análise de onde ocorrem os casos de
trabalho escravo no Brasil, quem são esses trabalhadores e o que os leva a essa
situação.
Com base nos dados do Ministério do Trabalho e da
Comissão Pastoral da Terra, os pesquisadores levantaram o perfil das pessoas
que estão mais vulneráveis à situação de escravidão. São homens, naturais das
cidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, que não
aprenderam a ler ou são considerados analfabetos funcionais. Eles são
aliaciados principalmente em três Estados – Maranhão, Tocantins e Piauí.
O processo de escravidão começa no momento em que
são recrutados. Os aliciadores, conhecidos como "gatos", vão até
locais onde a população está vulnerável economicamente – cidades pobres,
atingidas pela seca – e convencem os trabalhadores a aceitar uma proposta de
emprego que oferece ganhos maiores do que os trabalhadores conseguiriam em suas
cidades. A proposta de emprego, na verdade, se mostra uma armadilha. O
trabalhador se vê obrigado a pagar o meio de transporte, os instrumentos de
trabalho e a alimentação, dando início a uma dívida impagável. Como o local de
trabalho é geralmente isolado, e não raro os aliciadores usam homens armados
para coagir os trabalhadores, a possibilidade de fuga é pequena.
Segundo os números do Minstério do Trabalho, as
fiscalizações libertaram mais escravos nos Estados do Pará, Mato Grosso e
Tocantins, principalmente na região da fronteira agrícola da Amazônia.
"São regiões isoladas, de difícil fiscalização, o que facilita as práticas
ilegais", diz Girardi. Os trabalhadores são aliciados para trabalhar no
desmatamento da Amazônia, atividades pastoris e produção de carvão, por
exemplo. Apesar de as situações de trabalho escravo se concentrarem nessa
região, a fiscalização resgatou trabalhadores em quase todos os Estados do
país.
Girardi levanta duas causas para situações análogas
à escravidão no Brasil em pleno século XXI, e uma delas é a falta de moralidade
e a mentalidade do empregador que lança mão dessas práticas. Mas a principal
causa é mesmo a pobreza. "O trabalho escravo está ligado à miséria. O
trabalhador não tem como sustentar a família, e é atraído por uma alternativa
para gerar renda". Eliminar a pobreza extrema é a melhor solução para o
país acabar com o trabalho escravo, mas iniciativas para punir os empregadores,
como a aprovada na Câmara, são bem-vindas.
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/05/quem-sao-os-trabalhadores-encontrados-em-situacao-de-escravidao-no-brasil.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário