sexta-feira, 25 de maio de 2012

Viva a sabedoria...


Lógica.
Há alguma dificuldade em determinar os limites onde cessa o uso comum do entendimento e onde o conhecimento racional se torna Filosofia.
No entanto, há aqui uma característica distintiva razoavelmente segura, a saber, o seguinte:
O conhecimento do universal in abstrato é um conhecimento especulativo; o conhecimento do universal in concreto, um conhecimento comum. O conhecimento filosófico é um conhecimento especulativo da razão e ele começa, pois, quando o uso comum da razão começa a fazer tentativas no conhecimento do universal in abstracto.
Com essa determinação da distinção entre o uso comum e o uso especulativo da razão é possível avaliar agora a partir de que povo é preciso datar o começo da Filosofia. Dentre todos os povos, pois, os gregos foram os primeiros a começar a filosofar. Pois eles foram os primeiros a tentar cultivar os conhecimentos racionais, não tomando as imagens por fio condutor, mas in abstrato; ao invés disso, era sempre in concreto, através de imagens, que os outros povos procuravam tornar compreensíveis os conceitos. Assim, ainda há povos hoje em dia, como chineses/e alguns indianos, que tratam, é verdade, de coisas que são derivadas meramente da razão, como Deus, a imortalidade da alma e outras que tais, mas que não procuram, no entanto, investigar a natureza desses objetos in abstrato. Entre os persas e árabes encontra-se, é verdade, algum uso especulativo da razão; só que as regras para isso, eles as tomaram emprestadas a Aristóteles, logo os gregos. No Zendavesta de Zoroastro não se descobre o menor vestígio da Filosofia. O mesmo vale também da tão louvada sabedoria egípcia, que, em comparação com a Filosofia grega, não passou de um jogo de crianças.
Assim como na Filosofia, assim também no que respeita à Matemática, os gregos foram os primeiros a cultivar essa parte do conhecimento racional segundo um método especulativo, científico, na medida em que demonstraram cada teorema a partir de elementos.

Immanuel Kant. Lógica. (tradução Guido Antônio de Almeida).Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992, p. 44 (Biblioteca Tempo Universitário 93)

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