Sobre a filosofia
universitária
Que
se ensine filosofia nas universidades é claro de fato algo benéfico para ela
sob vários aspectos. Ela ganha uma existência pública, e seu estandarte aparece
estampado aos olhos dos homens, o que a traz sempre de novo à lembrança e faz
com que seja notada. O principal ganho será, no entanto, que mentes jovens e
capazes se familiarizarem com ela e despertem para o seu estudo. Todavia, é
preciso admitir que quem tem aptidão para a filosofia, e por isso sente falta
dela, também a encontrará e conhecerá por outras vias. Coisas que se amam e que
nasceram umas para as outras relacionam-se facilmente: almas afins já de longe
se saúdam. Qualquer livro de um filósofo autêntico que caia nas mãos de tal
pessoa será para ela um estímulo mais forte e eficaz que a conferência de um
filósofo de cátedra, tal como se apresenta hoje em dia. Platão também deveria
ser lido aplicadamente nos ginásios, já que é o estímulo mais eficaz para o
espírito filosófico. Acima de tudo, porém, fui levado pouco a pouco à opinião
de que a mencionada utilidade da filosofia de cátedra é superada pela
desvantagem que a filosofia como profissão traz à filosofia como livre
investigação da verdade, ou que a filosofia a serviço do governo traz à
filosofia a serviço da natureza e da humanidade.
Schopenhauer, Arthur. Sobre a filosofia universitária. Tradução: Maria Lúcia Mello Oliveira Cacciola, Márcio Suziki, 2ª Ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001 (Clássicos), pág. 03
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