sábado, 2 de novembro de 2013

Frenesi juvenil...







Quando amar e fazer tudo por um ídolo deixa de ser saudável?
Acampar na fila de um show e ficar na porta do hotel de celebridades são coisas comuns quando se é fã. Mas quando é que isso deixa de ser diversão e se torna um problema? O iGirl falou com especialistas e mostra a linha tênue entre amor e fanatismo.
 
Acampar no estádio e ficar na porta de hotel são exagero ou são demonstrações de amor?
Neste fim de semana, centenas de meninas estão gritando e se descabelando na porta do hotel Copacabana Palace, no Rio, onde Justin Bieber está hospedado para os shows que fará no país. Enquanto isso, um grupo de beliebers está acampado na porta da Apoteose há três meses almejando um lugar na grade do show que o cantor fará no local neste domingo (3). Desde setembro, a mesma cena se repete no Anhembi, onde ele toca neste sábado (2). Este tipo de coisa já se tornou comum quando um popstar vem ao Brasil, mas até que ponto esse comportamento é saudável?
 
 
Arquivo pessoal
Renata Pinheiro, 14, passou 12h em pé para ficar perto de Justin Bieber.
De acordo com o psicólogo Aurélio Melo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ter um ídolo durante a adolescência não é nada anormal, já que a menina está se encontrando. “É uma manifestação da construção da identidade”, explica o especialista. “A celebridade aparece como um modelo, do qual a adolescente pode se apropriar temporariamente. [O famoso] deixa de ser uma pessoa e se torna quase o sentido da vida da jovem”, continua.
 
“O adolescente tem uma necessidade de buscar uma identidade em uma pessoa famosa”, pontua o psicólogo especialista em adolescentes Caio Feijó.
 
Segundo os especialistas, o surgimento de um ídolo na vida de uma garota também é uma mostra de que ela está deixando de ser uma criança para se tornar uma mulher. Justin Bieber, por exemplo, enfeitiça as beliebers com topete e passos de dança por representar, durante esta fase, um ideal masculino. “É uma espécie de príncipe”, afirma Aurélio. “É o modelo de homem perfeito que entra no lugar que era ocupado pelo pai durante a infância. Ela precisa romper a figura paterna para que possa se diferenciar.”
 
Caio Feijó diz que esta busca por uma referência masculina, aliada a um sentimento de paixão que admiradores costumam alimentar por seus ídolos, pode levar ao comportamento que a gente conhece como “loucura de fãs”. “A relação passional em meninas é marcada por uma dedicação integral a seu ídolo”, fala o especialista. “Ela grita na porta do hotel, acampa no estádio.”
 
 
Fãs de Justin Bieber estão acampados na Arena Anhembi, em São Paulo, desde setembro para o show do cantor no próximo sábado (2).

Quem está no auge dessa montanha russa de sentimentos é Renata Pinheiro, 14 anos. A carioca começou a ouvir Justin Bieber aos 11  e, até hoje, faz um bolo especial todo dia 1º de março, data do aniversário do cantor. Ela nunca montou acampamento na fila de um show por achar periogoso. “Se fosse seguro, eu ficaria acampada. Faria de tudo para ficar mais perto dele”, conta a garota. No primeiro show do cantor no país, em 2011, ela chegou a passar 12 horas em pé na fila. “Passei mal porque estava sem comer e beber água, embaixo de um sol de 40 graus, mas consegui ficar lá na frente.”
 

"Ter um ídolo faz parte da construção da identidade", diz Aurélio Melo
Dedicar-se a um artista é algo normal, mas isso não pode sair de controle. De acordo com Caio, uma dedicação exacerbada é sinal de problemas emocionais. “A paixão pelo ídolo tem algo a ver com uma carência afetiva”, diz o especialista. “Esse ponto de extravasamento aparece porque em algum momento a menina tem outras frustrações.”
 

A mãe de Renata, a professora Sandra Pinheiro, vê tudo isso como algo comum. “Acho natural ter ídolo nesta idade. Eu amava o Roger Daltrey, do The Who, quando era adolescente. É uma coisa bonitinha que, ao longo da adolescência, vai passando e fica uma linda lembrança”. No entanto, a cearense de 52 anos deixa claro que a filha não deixa de cumprir seus compromissos por causa de Justin Bieber. “Ela é uma excelente aluna, faz aula de dança e inglês, tem amigos”, conta.
 
“O limite entre o saudável e o não saudável é a partir do momento que a adolescente começa a substituir atividades cotidianas, essenciais em sua vida, por atividades de idolatria”, aponta Aurélio Melo. “Começa a colocar isso no centro de sua vida”, continua.
 
Mariane Freitas, 22, já passou por um momento crítico. A criadora do Bieber Fever Brasil, o maior site dedicado ao cantor de “Boyfriend” no país, já fez loucura como viajar até o Canadá e se hospedar na casa dos primos de Justin, além de comprar muitas revistas e outros objetos relacionados ao músico. “Eu era meio doente”, diverte-se a jovem. “Já saí do emprego para ir atrás dele. Gastava horrores com coisas sobre ele. Podia aparecer apenas uma foto dele e eu já comprava a revista”, ri. Apesar de não fazer mais esse tipo de coisa, a estudante, que ainda gosta muito do artista, não se arrepende do que fez.
 
Segundo Aurélio, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, acampar na rua e ficar na porta de hotel podem ser atitudes exageradas, mas não representam alerta. "É tipo um ritual", fala o especialista. "Eles querem mostrar quem é mais fã."


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