Quando
amar e fazer tudo por um ídolo deixa de ser saudável?
Acampar na fila de um show e ficar na porta
do hotel de celebridades são coisas comuns quando se é fã. Mas quando é que
isso deixa de ser diversão e se torna um problema? O iGirl falou com
especialistas e mostra a linha tênue entre amor e fanatismo.
Acampar no estádio e ficar na porta de hotel
são exagero ou são demonstrações de amor?
Neste fim de semana, centenas de meninas
estão gritando e se descabelando na porta do hotel Copacabana Palace, no Rio,
onde Justin Bieber está hospedado para os shows que fará no país. Enquanto
isso, um grupo de beliebers está acampado na porta da Apoteose há três meses
almejando um lugar na grade do show que o cantor fará no local neste domingo
(3). Desde setembro, a mesma cena se repete no Anhembi, onde ele toca neste
sábado (2). Este tipo de coisa já se tornou comum quando um popstar vem ao
Brasil, mas até que ponto esse comportamento é saudável?
Arquivo pessoal
Renata Pinheiro, 14, passou 12h em pé para
ficar perto de Justin Bieber.
De acordo com o psicólogo Aurélio Melo,
professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ter um ídolo durante a
adolescência não é nada anormal, já que a menina está se encontrando. “É uma
manifestação da construção da identidade”, explica o especialista. “A
celebridade aparece como um modelo, do qual a adolescente pode se apropriar
temporariamente. [O famoso] deixa de ser uma pessoa e se torna quase o sentido
da vida da jovem”, continua.
“O adolescente tem uma necessidade de buscar
uma identidade em uma pessoa famosa”, pontua o psicólogo especialista em
adolescentes Caio Feijó.
Segundo os especialistas, o surgimento de um
ídolo na vida de uma garota também é uma mostra de que ela está deixando de ser
uma criança para se tornar uma mulher. Justin Bieber, por exemplo, enfeitiça as
beliebers com topete e passos de dança por representar, durante esta fase,
um ideal masculino. “É uma espécie de príncipe”, afirma Aurélio. “É o modelo de
homem perfeito que entra no lugar que era ocupado pelo pai durante a infância.
Ela precisa romper a figura paterna para que possa se diferenciar.”
Caio Feijó diz que esta busca por uma
referência masculina, aliada a um sentimento de paixão que admiradores costumam
alimentar por seus ídolos, pode levar ao comportamento que a gente conhece como
“loucura de fãs”. “A relação passional em meninas é marcada por uma dedicação
integral a seu ídolo”, fala o especialista. “Ela grita na porta do hotel,
acampa no estádio.”
Fãs de Justin Bieber estão acampados na Arena
Anhembi, em São Paulo, desde setembro para o show do cantor no próximo sábado
(2).
Quem está no auge dessa montanha russa de
sentimentos é Renata Pinheiro, 14 anos. A carioca começou a ouvir Justin Bieber
aos 11 e, até hoje, faz um bolo especial
todo dia 1º de março, data do aniversário do cantor. Ela nunca montou
acampamento na fila de um show por achar periogoso. “Se fosse seguro, eu
ficaria acampada. Faria de tudo para ficar mais perto dele”, conta a garota. No
primeiro show do cantor no país, em 2011, ela chegou a passar 12 horas em pé na
fila. “Passei mal porque estava sem comer e beber água, embaixo de um sol de 40
graus, mas consegui ficar lá na frente.”
"Ter um ídolo faz parte da construção da
identidade", diz Aurélio Melo
Dedicar-se a um artista é algo normal, mas
isso não pode sair de controle. De acordo com Caio, uma dedicação exacerbada é
sinal de problemas emocionais. “A paixão pelo ídolo tem algo a ver com uma
carência afetiva”, diz o especialista. “Esse ponto de extravasamento aparece
porque em algum momento a menina tem outras frustrações.”
A mãe de Renata, a professora Sandra
Pinheiro, vê tudo isso como algo comum. “Acho natural ter ídolo nesta idade. Eu
amava o Roger Daltrey, do The Who, quando era adolescente. É uma coisa
bonitinha que, ao longo da adolescência, vai passando e fica uma linda
lembrança”. No entanto, a cearense de 52 anos deixa claro que a filha não deixa
de cumprir seus compromissos por causa de Justin Bieber. “Ela é uma excelente
aluna, faz aula de dança e inglês, tem amigos”, conta.
“O limite entre o saudável e o não saudável é
a partir do momento que a adolescente começa a substituir atividades
cotidianas, essenciais em sua vida, por atividades de idolatria”, aponta
Aurélio Melo. “Começa a colocar isso no centro de sua vida”, continua.
Mariane Freitas, 22, já passou por um momento
crítico. A criadora do Bieber Fever Brasil, o maior site dedicado ao cantor de
“Boyfriend” no país, já fez loucura como viajar até o Canadá e se hospedar na
casa dos primos de Justin, além de comprar muitas revistas e outros objetos
relacionados ao músico. “Eu era meio doente”, diverte-se a jovem. “Já saí do
emprego para ir atrás dele. Gastava horrores com coisas sobre ele. Podia
aparecer apenas uma foto dele e eu já comprava a revista”, ri. Apesar de não
fazer mais esse tipo de coisa, a estudante, que ainda gosta muito do artista,
não se arrepende do que fez.
Segundo Aurélio, ao contrário do que a
maioria das pessoas pensam, acampar na rua e ficar na porta de hotel podem ser
atitudes exageradas, mas não representam alerta. "É tipo um ritual",
fala o especialista. "Eles querem mostrar quem é mais fã."
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