Onze anos dos ataques às Torres Gêmeas
Para
compreender os ataques às Torres Gêmeas, realizados no dia 11 de setembro de
2001, é preciso primeiro entender a antiga e conturbada relação entre Ocidente
e Oriente.
Osama
Bin Laden, o responsável pelo ataque às Torres Gêmeas.
Há
exatamente onze anos o mundo assistia de forma perplexa o desabamento das famosas
Torres Gêmeas, o Word Trade Center, após os choques consecutivos de dois aviões
comerciais. Não se tratava de um mero acidente aéreo – o que muitos podem ter
pensado após o choque do primeiro avião – mas sim da execução de um plano
encabeçado por Osama Bin Laden. Somando-se os dois ataques às Torres, ao ataque
ao Pentágono e ao avião que caiu na Pensilvânia no mesmo dia, quase três mil
pessoas morreram. Desde aquela manhã de 11 de setembro de 2001, não apenas a
história dos Estados Unidos, mas a de todo o mundo, nunca mais seria a mesma.
Mas
para compreender um pouco melhor o que foi o “Onze de Setembro” é preciso
considerar, pelo menos em linhas gerais, o tipo de relação construída décadas
antes entre Oriente e Ocidente, fato que fomentaria o ódio de grupos radicais e
fundamentalistas. Como se sabe, o século XX foi marcado pelo pleno
desenvolvimento do capitalismo no mundo com seu coroamento como sistema
econômico dominante com o fim da Guerra Fria entre os anos 80 e 90. Dessa
forma, historicamente, as grandes potências mundiais localizadas no Ocidente
empreenderam cada vez mais o projeto de expansão de seus poderes econômico,
político e ideológico no mundo, vendo no Oriente uma oportunidade de
exploração, principalmente pelas características regionais: rica em reservas de
petróleo, além de uma posição estratégica geograficamente. Tanto pela luta
contra a expansão do bloco socialista no Oriente Médio (em plena Guerra Fria),
bem como pelo pretexto de proporcionar e financiar o desenvolvimento econômico,
a presença das potências ocidentais – em especial dos Estados Unidos – foi se
tornando uma realidade nessa região.
Contudo,
é preciso que se diga que se esse objetivo dos países capitalistas ocidentais
em poder explorar o Oriente não é algo novo, da mesma forma não é novidade o
repúdio e a contestação da presença ocidental por parcelas da população de
vários países dessa região. Obviamente, a presença de outros países deixa
patente o enfraquecimento e a perda de autonomia e soberania de uma nação. Em
outras palavras, ficaria sugerido que a presença ocidental prejudicaria os
países do Oriente, uma vez que estes (assim como outros países da chamada
periferia do capitalismo) deveriam submeter seus interesses aos do capital
estrangeiro, ocidental. Além disso, naturalmente, no bojo do capitalismo vem
sua indústria cultural, assim como seus valores, os quais certamente iriam na
contramão da cultura e da tradição religiosa do Oriente, acirrando um
estranhamento do ponto de vista étnico.
Em
meados da década de 1990, a Guerra do Golfo Pérsico, empreendida pelos Estados
Unidos, seria uma prova desse seu interesse em se fazer presente. Da mesma
forma, a tentativa de mediar um acordo nas questões do Oriente Médio entre
palestinos e israelenses seria outro exemplo. Contudo, a maior aproximação e
apoio a países como Israel não passaria despercebida. Segundo o site do Jornal
Estadão (O Estado de São Paulo), em notícia publicada em setembro de 2009, Bin
Laden afirmava que um dos fatores que teriam motivado o ataque às Torres Gêmeas
seria o apoio (não apenas político, mas também financeiro) dos EUA à Israel.
País de tradição judaica, Israel é historicamente inimigo do povo palestino
(islâmico em sua grande maioria), fato que o colocaria como nação inimiga do
Islã.
Porém,
essas questões são bem mais complexas do que aqui se expõe, mas em linhas
gerais apontam o que seria a matéria-prima para o fortalecimento de um ódio ao
Ocidente que encontraria suas bases num fundamentalismo religioso de natureza
islâmica, fundamentalismo este que declararia uma guerra santa. Vale destacar
que esta não traduziria, necessariamente, a opinião de todo o povo do Oriente
de maneira geral, mas sim de grupos extremistas como AL-Qaeda, Hezbolah, entre
outros mais radicais. Estas seriam as bases de um pensamento que, em 2001,
materializar-se-ia com os ataques ao Word Trade Center. O representante maior
dessa cultura ocidental e de seu sistema econômico gerador de exploração e
miséria eram os Estados Unidos e, dessa forma, a suntuosidade e a imponência das
duas torres seriam os símbolos do inimigo.
A
reação dos Estados Unidos aos ataques foi rápida, resultando nas Guerras do
Afeganistão e do Iraque, embora a efetividade dos motivos e dos resultados
desses empreendimentos seja discutida até hoje. Quase que de forma
esquizofrênica, os Estados Unidos declararam uma guerra permanente contra o
terror, contra os países que pudessem fazer parte do chamado “eixo do mal”, e
que poderiam estar envolvidos direta ou indiretamente com o terrorismo,
apoiando Osama Bin Laden. O que se seguiu foi a disseminação de um medo
internacional de possíveis ataques, além do preconceito e intolerância contra a
comunidade islâmica, uma das consequências mais negativas de todo esse
episódio.
Esse
rompante contra o terrorismo e a luta contra um inimigo do Ocidente,
personificado na figura de Osama Bin Laden – ao ponto do governo Bush
desconsiderar as opiniões e os tratados existentes entre a comunidade
internacional, declarando guerras e invasões como no caso do Iraque – se resume
em uma década de guerras e mortes de civis e soldados (também americanos) em
nome de uma paz que ainda não está garantida. As ações eram em nome de um
ataque preventivo às possíveis ações terroristas (às quais em tempo deveriam
ser desarticuladas) e, dessa forma, seria interessante a criação de uma
coalizão de países. Assim, nações europeias a exemplo da Inglaterra aderiram
aos planos de guerra do governo Bush. Tal adesão ganhou mais sentido quando, ao
longo desse período de dez anos, alguns ataques (de menores proporções)
ocorreram em cidades importantes como Madri (em 2004) e Londres (2005).
Num
primeiro momento, os esforços se concentraram no Afeganistão para a
desarticulação do regime talibã (apoiadores de Bin Laden, logo da Al Qaeda),
com um projeto, no mínimo contraditório, de impor a democracia como regime
político para aquele país. Em seguida, os Estados Unidos redirecionaram sua
estratégia de guerra, atacando o Iraque do ditador Sadam Hussein com o
propósito de também levar a democracia. Pelo menos em tese, a guerra contra o
Iraque se deu por conta do possível apoio de Sadam às organizações terroristas,
além de sua suposta propriedade e produção de armas nucleares (para destruição
em massa), acusação esta mais tarde desmentida. Assim, eram países que
compunham o eixo do mal.
Contudo,
olhando criticamente não apenas o resultado, mas as condições do
desenvolvimento dessas ações dos Estados Unidos, especialistas afirmam que nas
entrelinhas desses empreendimentos contra o terror estava um projeto de
expansão e fortalecimento da hegemonia norte-americana no mundo e que tinha a
questão do combate ao terrorismo mais como pretexto do que como objetivo.
Passados
dez anos, é possível fazer um breve balanço das transformações ocorridas na
ordem mundial, relacionando-as com esses famigerados ataques em uma manhã de
setembro em Nova York. Apesar de Osama Bin Laden estar morto desde maio de
2011, e apesar de os Estados Unidos terem ocupado com relativo sucesso o
Afeganistão e o Iraque (aliás, com a captura de Sadam e sua condenação à morte,
posteriormente), a vitória americana não necessariamente se configurou a
contento.
Alguns
trilhões de dólares foram (e ainda serão) desembolsados pelo governo
norte-americano em nome da guerra, o que, se somado à política econômica
nacional nos últimos anos, fez com que os Estados Unidos aumentassem
substancialmente sua dívida. As crises econômicas, como as de 2008 e 2011,
enfrentadas pelo país (e, obviamente, pelo mundo) contribuiriam para o
enfraquecimento da hegemonia americana, que agora divide espaço com países em
forte crescimento econômico como a China (isso sem falar no fortalecimento de
outros que compõem o BRICS, como o Brasil). Assim, o desvario por uma caça aos
terroristas, mas que tinha como real objetivo realçar o poder norte-americano
no mundo, resultou em um grande fracasso. De tal modo, os Estados Unidos saíram
diminuídos, menores do que quando entraram nas guerras. Em outras palavras,
ocorreu uma fragilização do imperialismo norte-americano (embora seja
incontestável que os EUA são e serão poderosos por um bom tempo, dado seu poder
bélico, tecnológico e financeiro no mundo), e uma consequente rearticulação dos
atores internacionais, com o surgimento de novos blocos e da reorientação das
relações entre os países.
Além
disso, a luta contra o terror promoveu a exacerbação do xenofobismo, da
intolerância, da perseguição ao islamismo, assim como práticas polêmicas pelas
forças de Estado em nome de uma segurança e defesa nacionais. Prova disso seria
o lamentável equívoco cometido pelo governo inglês ao matar um brasileiro (Jean
Charles de Menezes) em 2005, por confundi-lo com um suspeito de terrorismo.
De
fato, alguns pontos merecem destaque: não houve outro ataque de mesmas
proporções que as do 11 de Setembro, e a Al-Qaeda realmente se fragilizou com a
morte de Bin Laden. Porém, isso não significa, infelizmente, que outros eventos
de cunho terrorista não venham a ocorrer. Afinal de contas, a forma como os
Estado Unidos intervieram apenas ampliou sua imagem negativa para o Oriente, o
que pode permitir que, para alguns, o discurso de grupos radicais e fundamentalistas
faça mais sentido do que nunca. Mesmo assim, pode-se pensar numa avaliação
menos pessimista quando se olha para a “Primavera Árabe” (Revolução Política
que tem transformado regimes como o Egito e a Líbia), uma vez que os jovens do
Oriente estariam percebendo a importância da luta política, desinteressando-se
por medidas radicais e de violência tão características dos extremismos
religiosos, fato que poderia diminuir adeptos aos grupos fundamentalistas.
Assim, menos jovens poderiam estar interessados em se tornar pilotos suicidas
em nome de Alá e do nacionalismo, mas sim compreendendo outras possibilidades
de luta.
http://www.brasilescola.com/sociologia/dez-anos-dos-ataques-as-torres-gemeas.htm
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