terça-feira, 29 de outubro de 2013

Entendendo...

Segregação Racial
Martin Luther King lutava contra a segregação racial
Claramente, a palavra segregação não deixa dúvida quanto ao seu significado mais geral, quando pesquisamos no dicionário: separação; divisão a fim de evitar contato; isolamento. Ao trazermos essa palavra para uma discussão de cunho sociológico, é inevitável pensarmos nos desdobramentos negativos para a vida social, principalmente do ponto de vista das hostilidades e conflitos sociais gerados pela segregação em si. Podemos observar vários tipos de segregação ao longo da história, os quais foram (e ainda são em alguns casos) motivados pelos mais variados fatores.

Segundo Ely Chinoy, embora sejam muitas as circunstâncias que possam influenciar na estrutura das relações entre indivíduos de grupos raciais e étnicos diferentes, pelo menos três merecem destaque. O primeiro diz respeito ao tamanho e ao número dos grupos, o que é fundamental para pensarmos em minorias ou maiorias; o segundo ponto diz respeito às diferenças entre esses indivíduos no aspecto físico e também cultural; finalmente, o terceiro aspecto diz respeito à disputa por recursos e por melhores condições de sobrevivência entre tais grupos, sendo que as maiorias almejam, dentro da estrutura social, submeterem as minorias, para delas tirarem vantagem.

Se considerarmos o segundo aspecto apontado por Chinoy, nele se enquadra a segregação racial, a qual diz respeito às diferenças físicas e, até certo ponto, também culturais. Obviamente, os demais fatores como ser uma minoria e estar em constante competição por recursos também devem ser considerados. A segregação racial está embasada na intolerância gerada, muitas vezes, por uma visão etnocêntrica de uma maioria em detrimento de uma minoria em um mesmo território. O etnocentrismo vilipendia as formas de organização que se diferem daquela que se tem por referência, gerando os mais diversos preconceitos. Assim, a construção pelo senso comum de alguns estereótipos, isto é, da rotulação de determinados grupos, é, em certa medida, um meio no qual o preconceito consegue se sedimentar.

A segregação racial não é um fenômeno social novo, estando presente já dentre as primeiras civilizações, as quais lançavam mão de organizações sociais regidas por castas. Porém, em sociedades como a Índia esse tipo de estratificação social ainda é uma realidade. No século XX, o mundo assistiu um dos maiores genocídios já vistos, fruto da segregação racial e do preconceito oriundos do regime nazista de Hitler, o qual foi responsável pela morte de milhões de judeus em campos de extermínio. Para além da Ásia e Europa, podemos pensar em um exemplo do continente africano. Embora a segregação nesse continente tenha origem no processo de colonização, na África do Sul, ao longo de décadas, prevaleceu o chamado regime de Apartheid, através do qual a segregação racial entre brancos (europeus) e negros (africanos) encontrava amparo até mesmo na lei. Uma fatia expressiva da população africana de cor negra era excluída de vários direitos civis, sociais e políticos, ou seja, alienados de sua cidadania. Porém, a transformação dessa realidade (que perdurou ao longo de boa parte do século XX) se daria mais tarde pela luta política de Nelson Mandela. Da mesma forma, é válido citar outros conflitos, mesmo que gerados menos por questões de raça do que por diferenças étnicas, como os que ocorrem entre palestinos e judeus, as lutas pela emancipação do povo basco no continente europeu, a luta entre católicos e protestantes na Irlanda, o preconceito de franceses contra imigrantes, além, é claro, daquele cultivado por norte-americanos em relação a latinos, árabes e imigrantes em geral.

Ainda sobre a segregação racial, é fundamental discorrer sobre a forma como os Estados Unidos lidaram e ainda lidam com o preconceito contra o negro. Para que pudessem ter um presidente afrodescendente, muitas lutas foram necessárias, como a de Martin Luther King, do próprio movimento contracultural, do grupo político dos “panteras negras”, entre outros. Ainda assim, o preconceito e a segregação, em maior ou menor grau, persistem naquela sociedade.

Se tomarmos o Brasil como exemplo, a segregação racial contra negros e índios promovida por brancos desde os tempos de colônia foi decisiva na formação da sociedade brasileira. O mito das três raças como explicação do nascimento do homem brasileiro não foi suficiente para acabar com o racismo, o qual agora existe de maneira velada, escondido atrás de uma falsa democracia racial como já apontava Florestan Fernandes. Contudo, vale a pena observar que, embora o racismo não esteja extinto e ainda existam desigualdades sociais alarmantes, não existe uma segregação racial, étnica ou religiosa tão destacada na sociedade brasileira como a que se viu nos exemplos citados anteriormente, ao redor do mundo. Obviamente, não podemos desconsiderar os recentes ataques pela internet aos nordestinos (tema do enredo de uma escola de samba em 2011), as agressões a jovens homossexuais, e este preconceito racial velado, todos indícios da existência de grupos intolerantes e preconceituosos contra minorias (isso sem falar do preconceito contra as mulheres). Porém, daí a comparar a sociedade brasileira com a África do Sul do Apartheid não seria coerente com a realidade nacional.

Para termos uma ideia da importância dessa temática, bem como do aceno positivo do Brasil para lutar contra qualquer tipo de segregação, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo brasileiro criaram um site específico sobre gênero, raça e etnia em março de 2011. O site do PNUD, o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia foi feito em parceria com outros órgãos vinculados à ONU, como a OIT e UNICEF, tendo como objetivo defender e propagar a incorporação da equidade de gênero e de cor/raça na gestão pública. Obviamente, esse assunto é mais complexo do que pode parecer, principalmente quando traz em sua esteira outras questões como a construção de uma identidade nacional e a ideia de pertencimento à nação, apenas para citar alguns exemplos.

Por isso, a promoção de fóruns de discussão por toda a sociedade, para além das escolas e universidades, é uma importante ferramenta na compreensão e formulação de alternativas mais justas e tolerantes para que possamos conviver com a diferença em um mundo que se diz “global”.

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