Processo de globalização e ambiguidades
O processo
de globalização teve início no século XX, desenvolvendo-se juntamente com o
capitalismo. Este processo, porém, apresenta aspectos positivos e negativos.
A globalização se desenvolveu juntamente com o capitalismo
O século XX
foi palco de inúmeras transformações históricas que marcaram, definitivamente,
a organização do mundo e, dentre elas, está o advento da globalização. Enquanto
processo, a globalização ampliou-se com o desenvolvimento do capitalismo,
condição fundamental para sua dimensão alcançada no final da Guerra Fria entre
os anos 1980 e 1990.
Ao final da
II Guerra Mundial, o globo se dividiu em dois blocos, um capitalista –
representado pelos Estados Unidos da América; e outro socialista – encabeçado
pela União Soviética. Esse período conhecido por Guerra Fria foi marcado por uma
forte disputa pelo domínio ideológico entre tais blocos, bem como pela chamada
corrida espacial e tecnológica. Nessa disputa, o modelo capitalista saiu
vitorioso, após as reformas econômicas e políticas promovidas pela União
Soviética quando esta já agonizava, sem condições de manter o projeto
socialista e o seu modelo de Estado de bem-estar-social. Ao final dos anos
1980, caiu o muro de Berlim, símbolo da divisão do mundo, o que significaria a
vitória da ideologia capitalista. Tem-se, desde então, a configuração de uma
nova ordem mundial, iniciada pela reorganização das relações internacionais no
tocante à divisão internacional da produção, isto é, do trabalho.
Fundamentalmente,
a globalização teve como seu motor a busca pela ampliação dos mercados, dos
negócios, isto é, ampliação das relações internacionais em nome dos objetivos
econômicos das nações. Nesse sentido, é preciso se pensar no papel da ampliação
do neoliberalismo como modelo econômico adotado pelas potências em todo o
mundo, defendido na década de 1980 por líderes como Margaret Thatcher
(Inglaterra), fato que embocou numa redefinição do papel do Estado. Cada vez
mais, em nome da liberdade econômica, os Estados, enquanto instituições que
deteriam o poder na sociedade sobre as mais diversas esferas (como a
econômica), vão diminuindo sua presença nas decisões, tornando-se “mínimos”.
Apenas como regulamentador, assim como os demais agentes econômicos, o próprio
Estado também se submeteria às leis do mercado, preocupando-se com questões
como mercado financeiro, balanço cambial, competitividade internacional, entre
outros aspectos do universo do capital.
Surgiram os
chamados blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul, para citar
apenas dois, os quais teriam como finalidade criar condições para melhor
comercialização entre seus membros, dada a situação de interdependência das
economias. Vale lembrar que nesse contexto (e desde o final da II Guerra),
instituições como a ONU, a OMC, o FMI, entre outras, têm desempenhado papéis
fundamentais nas relações internacionais no âmbito dos mais diversos assuntos
de interesse mundial.
Ainda com
relação a essa grande internacionalização da economia (ampliação do comércio e
dos investimentos externos em países dependentes dos mais ricos), é importante
pontuar que todo esse processo foi acelerado pelo desenvolvimento tecnológico
dos meios de produção (tornando-os mais eficientes) e dos meios de comunicação.
Consequentemente, as transações econômicas internacionais e o mercado
financeiro também se desenvolveriam (hoje, principalmente pela virtualização da
economia pela rede mundial), permitindo que as corporações multinacionais se
proliferassem pelo mundo.
Para além do
aspecto econômico propriamente dito, a globalização possibilitou uma maior
aproximação das nações no que tange à discussão em Conferências Internacionais,
por meio de órgãos como a ONU, acerca de assuntos de interesse geral, como a
fome, a pobreza, o meio ambiente, o trabalho, etc. Um bom exemplo seria como
está sendo tratada a questão da possibilidade da formação de um Estado
Palestino em 2011, ou as questões ambientais.
Já do ponto
de vista cultural, há um processo de sobreposição e aproximação de culturas,
costumes, porém com o predomínio do padrão ocidental, processo este que pode
ser chamado de ocidentalização do mundo. O padrão de vida, os valores, a
cultura (música, cinema, moda) – isso sem se falar no idioma inglês, que é
visto como universal – enfim, direta ou indiretamente representam o poder
hegemônico dos Estados Unidos em todo o mundo. Ao passo em que se tem uma
tendência à homogeneização de valores culturais, tem-se o aumento do processo
de intolerância e xenofobia em países como EUA e França. A questão dos
atentados de 11 de setembro de 2001 pode ser um exemplo da intolerância tanto
de alguns grupos do Oriente com relação ao Ocidente, assim como também por
parte do Ocidente com relação ao Oriente, haja vista a forma como os Estados
Unidos empreenderam um revanchismo em nome da “segurança mundial” contra o
terrorismo. A despeito da crise econômica que enfrentam, atualmente os Estados
Unidos ainda possuem o poder hegemônico (embora um pouco abalado) no mundo.
Dessa forma, as ideias de soberania e de Estado-nação ficam reduzidas diante da
globalização, pois isso vai depender do papel que determinado país exerce no
jogo da política internacional, podendo sofrer uma maior ou menor influência,
seja ela econômica ou cultural. A retração e diminuição do papel do Estado com
a valorização de políticas neoliberais e a permissividade ou dependência com
relação ao capital de investidores internacionais são fatores que contribuíram
para o aumento da pobreza e da desigualdade em países mais pobres.
Logo, a
ambiguidade da globalização vem à tona quando se avalia seus efeitos mais
negativos sobre a população mundial, principalmente do ponto de vista
econômico. Com a globalização da economia, as empresas, em nome da
concorrência, reduzem custos, diminuindo vários postos de trabalho, gerando o
desemprego estrutural. Além disso, o desemprego pode piorar quando há um
crescimento do investimento no mercado financeiro (o qual possibilita um
retorno maior e mais rápido aos grandes investidores) ao invés do investimento
na produção, esta sim geradora de empregos. Como se tem debatido atualmente,
entre as causas das crises na economia mundial nos últimos anos (principalmente
em 2008) estariam as chamadas operações financeiras especulativas, as quais
tiveram como consequência direta uma reformulação do papel do Estado entre os
países mais ricos, agora mais intervencionistas do que antes. Buscando amenizar
os efeitos nocivos das crises, as medidas adotadas pelos governos na tentativa
do controle do déficit público e da inflação (juros altos), contribuem para a
concentração de renda e o desemprego, fato que tem levado as populações de
muitos países a irem às ruas manifestarem seu descontentamento.
Assim, sobre a globalização, pode-se afirmar
ser um processo de duas vias: se há avanços por um lado (como no tocante às
relações sociais, ao intercâmbio cultural e à possibilidade de uma maior troca
comercial), há retrocessos pelo outro (como o aumento da miséria e da
desigualdade social, da intolerância religiosa e cultural, a perda de poder dos
Estados em detrimento das grandes corporações multinacionais). Esperemos o que
o século XXI reserva, não apenas a nós, mas também às próximas gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário