Adolescentes até quando?
Quanto mais se preparam, menos eles se sentem aptos a viver como gente
grande.
A adolescência agora vai até os 25 anos – e não apenas até os 18, como era
previsto. Essa é a nova
orientação dada a psicólogos americanos. É como se a neurociência pudesse
eximir a todos de responsabilidade por um fenômeno deste século: jovens demoram
muito mais a amadurecer, sair de casa e ser independentes. As pesquisas revelam
que “a maturidade emocional de um jovem, sua autoimagem e seu discernimento são
afetados até que o córtex pré-frontal seja totalmente desenvolvido”. E isso só
acontece aos 25 anos.
Então o culpado é o córtex? Não é por
falta de esforço dos filhos. Nem por superproteção dos pais. Tampouco é porque
a competitividade exige mais estudos e especializações. Quanto mais eles se
preparam, menos se sentem aptos a viver como gente grande. Por uma mistura de
insegurança pessoal, liberdade e mordomias na casa dos pais, muitos jovens se
paralisam, especialmente nas famílias de classe média para cima, no Brasil. Não
é “qualquer trabalho” que os realizará. Criticam os pais. Acham que eles
fizeram concessões demais à sobrevivência e à prole: “Quem mandou vocês darem
tudo para mim?”.
Antes, era diferente. Aos 18 anos, os
cinquentões de hoje só pensavam em sair da casa dos pais. Era preciso ter um
emprego, não necessariamente o dos sonhos. Bastava que o salário fosse
suficiente para não depender de pai e mãe, alugar um quarto e sala, poder
dormir com o namorado ou a namorada, chegar tarde em casa. Se o emprego se
relacionasse aos estudos, que privilégio! Almejávamos múltiplos destinos, mas
não havia tempo nem grana para experimentar primeiro e decidir depois. Ralávamos
a alma para ascender rápido. Só soube agora que meu córtex pré-frontal não
estava totalmente desenvolvido quando saí de casa aos 21 anos. Se me chamassem
de adolescente, me sentiria ofendida.
“A ideia de que de repente, aos 18
anos, a pessoa já é adulta não é bem verdade”, disse à BBC a psicóloga infantil
Laverne Antrobus, da Clínica Tavistock, em Londres. “Minha experiência com
jovens sugere que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.”
Diante da extrema condescendência com quem tem 18 ou 25 anos, penso em quem tem
60 ou 80. Não sei em que idade o ser humano pode prescindir de apoio ou ajuda.
Dos pais, filhos, parceiros e amigos.
“Amadurecer é um termo complexo, e
sabemos que não se limita à independência financeira”, diz a psicanalista
Eliane Mendlowicz. “Crescer, dar adeus à proteção dos pais, enfrentar certo
desamparo é uma tarefa árdua, mas vale a pena por seu efeito libertador.” Mesmo
assim, trintões e trintonas continuam na casa de papai e mamãe. “Frequentemente
se apontam razões econômicas para esse fenômeno”, diz o professor de sociologia
Frank Furedi, da Universidade de Kent, na Inglaterra. “Mas houve também uma
perda da aspiração por independência. Quando fui para a universidade, se fosse
visto com meus pais, decretaria minha morte social.”
Muitos pais financiam filhos casados.
Não é raro que filhos divorciados voltem a morar com o pai ou com a mãe. São
chamados de “filhos bumerangues”. “Há também os pais que estimulam o
comportamento infantil dos filhos para evitar o ‘ninho vazio’”, diz Eliane.
Outros, que acreditavam ter criado o filho para ser independente, reagem com
sentimentos que se alternam: resignação, preocupação, irritação e perplexidade.
O que deu errado?
“Os pais desejam que seus filhos sejam
lindos, magros, inteligentes, carismáticos, felizes, competentes, amados. E o
que querem os jovens hoje? Buscam aflitos uma maneira de cumprir tantos
ideais”, diz a psicanalista Gisela Haddad. Para ela, essa geração precisa
encarar um fato: “O futuro está em aberto, e tudo pode ser possível”.
Paradoxalmente, isso tem causado, segundo Gisela, pânicos, depressões, vícios
em drogas.
Uma pesquisa com mais de 2 mil
entrevistados entre 18 e 30 anos, em seis capitais do Brasil, mostrou que 70%
não se sentem preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Culpam a
universidade por não oferecer aulas práticas e não orientar para o
empreendedorismo. Sempre foi assim. A universidade nunca formou profissionais
prontos.
A legislação tenta se adequar aos novos
tempos. Em agosto, o Senado aprovou projeto que aumenta o limite de idade para
dependentes no Imposto de Renda dos atuais 21 para 28 anos, ou mesmo 32, quando
cursarem universidade ou escola técnica.
O córtex tem pouco a ver com isso. Como
diz o psiquiatra Luiz Alberto Py, “o amadurecimento cortical é perfumaria,
apenas um álibi”. A adolescência é cultural, depende do país e da sociedade. O
fenômeno fisiológico é a puberdade. “Crianças de rua não têm adolescência, só
puberdade. Rapidamente se tornam adultos.”
Prolongar a adolescência além dos 18
anos é prolongar a angústia. O jovem não é tão despreparado quanto teme. Nem
tão brilhante quanto gostaria.
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