Noitada a três
Ana é ex-namorada de Gonzáles, que é amigo de Cito. Os três estão
na sala bebendo e ouvindo música, desejando que aquela noite fique na lembrança
como a mais ousada da história. E conseguem, como mostra o livro "Todo
Terrorista é Sentimental"
Sexo a três
A história abaixo quebra o tabu de que uma noitada a três é só
sacanagem.
Ana estava desorientada e sem sutiã - o que me desorientou por
alguns segundos - olhando fixamente pro vazio do Atlântico nas pedras do
Arpoador. Me aproximei devagar, sentei ao seu lado e, sem dizer palavra,
esbocei um doce sorriso de cumplicidade, permitido ao restrito universo de
amigos. Ela me respondeu com o mesmo sorriso e voltou a contemplar o mar.
Permanecemos em silêncio por alguns minutos.
Matamos quatro garrafas de vinho ao som de um grupo pernambucano
chamado Mundo Livre S.A. As letras me pareceram incríveis e arrisquei dizer que
a banda era inclusive melhor que Chico Science e Nação Zumbi. Fui prontamente
contestado por Gonzáles, mas sustentei minha opinião até hoje. Ana dançava,
imitava o Iggy Pop empunhando a garrafa de vinho como um microfone, esfregava
seu peito na nossa cara. Gonzáles jogava fumaça pela janela e imitava Fidel
Castro em pose de estadista. Eu estava excitado e sem camisa.
Brindamos umas duzentas vezes. Após seis garrafas de vinho, Ana não
conseguia ficar de pé. Estávamos embalados ao som de Mutantes na nossa pista de
dança imaginária, quando Ana subitamente trocou a música. Escolheu o segundo
disco de Barão Vermelho, e ao começar os primeiros acordes, ela já estava entre
mim e Gonzáles: "Dance / eu quero ver você em transe / dance / eu quero
que você me alcance / na hora h / Me gritar, pedindo, deixando / bicho humano
uivando". Ana tirou a blusa suada e me empurrou para trás dela ao mesmo
tempo em que encaixou o quadril em Gonzáles, à frente. Meu amigo tirou a
camisa; Ana deu um longo gole na garrafa de vinho e beijou Gonzáles com força;
os dois caíram no chão. Ana me puxou pelo pescoço e a beijei com desejo, muito
desejo. Joguei minha camisa em cima do sofá, e Ana alternava freneticamente os
beijos entre nós dois; estávamos loucos, extasiados, bêbados, extraordinários.
Fomos pro quarto. Primeiro Ana pediu delicadeza e que deixasse a
luz apagada. Gonzáles deixou somente a tênue luz do abajur acesa; beijamos Ana
demoradamente como três jovens descobrindo o amor, e sentíamos nossa respiração
ficando cada vez mais acelerada. Ela começou a fazer sexo oral em Gonzáles ao
mesmo tempo em que acariciava meu rosto; depois pediu que meu amigo lhe tirasse a calcinha e que lhe tocasse o
clitóris devagar; "Bem aqui", sussurrou. Meu amigo obedeceu
morosamente, com extremo cuidado, enquanto ela deslizava sua língua na minha
pélvis, até chegar ao meu pau. Gonzáles aumentou o ritmo de suas mãos e Ana respondeu
me chupando com força. Não acreditava que Ana me chupava, não podia crer que
seu cérebro estivesse ordenando que me chupasse. Seguimos assim por alguns
minutos e minha cabeça girava, os pensamentos desordenados. Ana pediu que
Gonzáles a penetrasse por trás enquanto meu peito servia de apoio. Meu amigo a
penetrou com força e ela repousou a cabeça no meu ombro, gemendo baixo enquanto
eu limpava o suor de seu rosto com minha língua e a beijava na testa, na boca,
no pescoço. Uma experiência comovente, pura, de amor explícito entre amigos.
Continuamos com Ana em cima de mim, agora gritando mais alto enquanto
masturbava Gonzáles com a mão direita. E assim ficamos até o dia nascer,
jogados na cama, abraçados, reinventando a via até onde alcançássemos cansados
de tanta hipocrisia.
A orgia vence o medo. Ana levantou mais cedo, acometida por um
extremo bom humor - estava com o cabelo molhado, recém-saída do banho, e vestia
um jeans branco com uma camisa Hering justíssima: linda. Já havia ido à padaria
e comprado três croissants recheados com queijo de cabra, nossos preferidos.
Como se não bastasse, devia ter procurado minuciosamente um disco esquecido do
quinteto Villa-Lobos entre as estantes. Gonzáles se levantou desnudo e circulou
um bom tempo pela casa tentando encontrar uma toalha. Da cama, eu podia ver
cuidadosamente a mesa posta por ela: três xícaras ao lado dos talheres, uma
rosa branca no meio e duas cestas de pães. Sentamos os três e, se não fosse
pelo estalinho de agradecimento que cada um de nós deu na boca de Ana, eu
jurava pelo comportamento cortês e a etiqueta que estávamos em um castelo
inglês do século XVII.
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