Evolução
Desenvolvimento do
cérebro humano seguiu a mesma programação genética dos outros primatas
Novo estudo mostra
que o tamanho dos circuitos responsáveis por atividades exclusivamente humanas,
como planejar e tomar decisões, pode ser uma consequência natural do
crescimento do cérebro no decorrer da evolução.
Primatas: as
diferenças entre os cérebros desses animais – desde o sagui até o ser humano –
podem ser consequência de uma programação genética.
Primatas: as
diferenças entre os cérebros desses animais podem ser consequência de uma mesma
programação genética, aplicada em cérebros de tamanhos diferentes (Thinkstock)
Um novo estudo
mostra que o tamanho das áreas cerebrais responsáveis pela cognição humana não
é produto de mutações exclusivas dos Homo sapiens, mas sim fruto de uma mesma
programação genética presente entre todos os primatas — desde os pequenos
saguis até o ser humano.
Ao comparar o cérebro de diferentes primatas, os
pesquisadores mostraram que o tamanho dessas áreas varia de forma previsível
durante a evolução das espécies: quanto maior o órgão, mais desenvolvidas são
essas regiões. A pesquisa, que teve participação de pesquisadores da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi publicada no periódico Journal of
Neuroscience.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: A
Conserved Pattern of Differential Expansion of Cortical Areas in Simian
Primates
Onde foi divulgada:
periódico Journal of Neuroscience
Quem fez: Tristan
A. Chaplin, Hsin-Hao Yu, Juliana G. M. Soares, Ricardo Gattass e Marcello G. P.
Rosa
Instituição:
Universidade de Monash, na Austrália, e Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resultado: Os
pesquisadores descobriram que as diferenças entre os cérebros de primatas –
desde os pequenos saguis até o ser humano – são consequência de uma mesma
programação genética.
Os cientistas já
sabiam que a estrutura cerebral mantinha um padrão semelhante entre todos os
primatas, apesar da grande variação existente no tamanho do órgão. O que eles
não conseguiam explicar é o fato de os cérebros maiores não serem simples
cópias aumentadas dos menores — algumas áreas crescem de forma desproporcional,
principalmente aquelas ligadas à cognição avançada.
Em seu estudo, os
cientistas compararam a estrutura cerebral entre macacos dos gêneros Callithrix
(que inclui os saguis), Cebus (do macaco-prego) e Macaca (do macaco rhesus). Em
seguida, fizeram a mesma comparação entre o cérebro dos seres humanos e dos
rhesus. Descobriram, assim, que o crescimento do órgão seguia um padrão comum
entre as espécies.
"Nós mostramos
que, ao analisar a evolução do cérebro entre os macacos, é possível prever as
diferenças que encontraremos entre o córtex do Rhesus e do homem. Essa evolução
é caracterizada pela expansão não uniforme do órgão, centrada nas áreas
relacionadas a funções cognitivas superiores, que distinguem os primatas
não-humanos dos humanos", disse Juliana Soares, pesquisadora da UFRJ e uma
das autoras do estudo, ao site de VEJA.
A descoberta sugere
que os circuitos neurais responsáveis por atividades consideradas
exclusivamente humanas, como planejar, tomar decisões complexas e falar, podem
ter surgido como uma consequência natural do crescimento cerebral. “Nós sabemos
há muito tempo que algumas áreas do cérebro humano são muito maiores do que se
poderia esperar com base na organização do cérebro dos macacos”, afirma
Marcello Rosa, pesquisador da Universidade de Monash, na Austrália, e um dos
autores. “Mas o que ninguém tinha percebido é que esse aumento seletivo é parte
de uma tendência que tem estado presente desde o surgimento dos primatas”,
completa.
Tendência primata —
Os resultados do estudo mostraram que duas regiões, o córtex pré-frontal
ventrolateral e a junção parieto-temporal, se expandiram de forma
desproporcional ao restante do cérebro. A primeira está relacionada ao
planejamento de longo prazo, expressão de personalidade, tomada de decisões e
modificação do comportamento, enquanto a segunda participa da consciência e
noção de individualidade.
Os pesquisadores
demonstraram que o crescimento dessas áreas nos cérebros humanos faz parte de
um padrão genético que é visto ao longo de todas as espécies de primatas,
conforme o tamanho de seus cérebros cresce. “Quando você vai de um macaco
pequeno para um grande, o córtex pré-frontal e a junção parietal temporal
aumentam em relação ao restante do córtex, e o mesmo acontece ao comparar esses
animais com os humanos”, explica Tristan Chaplin, também da Universidade de
Monash e principal autor do estudo.
Marcello Rosa
destaca que esse padrão se manteve mesmo em espécies que evoluíram de forma
completamente separada. “Se você comparar um Cebus da América do Sul com um
Macaca da Ásia, seus cérebros serão quase idênticos, apesar de terem se
desenvolvido em lados opostos do mundo. Os dois refletem o plano genético de como
o cérebro de um primata deve crescer”, afirma. Em seus próximos estudos, os
pesquisadores esperam fazer comparações com primatas mais próximos do ser
humano, como gorilas e chimpanzés, para verificar se o padrão se mantém.
Para Juliana
Soares, é possível que essa programação genética não tenha servido apenas para
guiar a evolução do cérebro humano até o ponto atual, mas que continue a
modificá-lo no futuro. "Estes mecanismos evolucionários ainda estão em
estudo, mas podemos esperar que, com a evolução, algumas áreas possam aumentar
e outras diminuir.
Poderíamos, por exemplo, ganhar novas habilidades que nos
permitiriam conviver melhor com as novas tecnologias e perder outras, como a
escrita manual, cada vez menos praticada", afirma a pesquisadora.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/desenvolvimento-do-cerebro-humano-seguiu-a-mesma-programacao-genetica-dos-outros-primatas
Nenhum comentário:
Postar um comentário