Obesidade favorece desde enxaqueca até câncer
Confira todas as complicações que podem ser geradas por
essa doença
No Dia Mundial de
Combate à Obesidade (11 de outubro) os dados inéditos do Ministério da Saúde
são alarmantes. Pela primeira vez, o percentual de pessoas com excesso de peso
supera mais da metade da população brasileira. A pesquisa Vigitel 2012
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico) mostra que 51% da população (acima de 18 anos) está acima do peso
ideal. O estudo também revela que a obesidade cresceu no país, atingindo o
percentual de 17% da população. Se compararmos com o ano de 2006, no qual o
índice era de 11%, perceberemos que o aumento foi significativo.
Apesar da obesidade e do
sobrepeso serem epidemias desse porte no Brasil, a população ainda não considera
o excesso de peso uma doença. Um trabalho desenvolvido pela farmacêutica
Allergan em parceria com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
Síndrome Metabólica (Abeso), a Associação Nacional de Assistência ao Diabético
(ANAD) e a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SBED) entrevistou mil
indivíduos em diferentes estados e descobriu que 55% da amostragem não
acreditava que a obesidade fosse uma doença. Além disso, 93,5% dos
entrevistados não sabia seu próprio Índice de Massa Corpórea (IMC (Descubra seu
peso ideal) ), sendo que 64% se enquadravam na faixa da obesidade. Mais do que
uma doença grave, a obesidade é um problema que pode favorecer diversas outras
condições em nosso organismo. "O quadro pode prejudicar a saúde de uma forma
global e em vários sistemas no corpo", afirma o endocrinologista Isaac
Benchimol, do Conselho Empresarial de Medicina e Saúde da Associação Comercial
do Rio de Janeiro. Ainda não está convencido? Veja como essa doença pode afetar
todo o funcionamento do seu corpo:
coração partido - Foto:
Getty Images
Coração em alerta!
Quanto mais elevado é o nosso peso, mais
esforço o coração precisa fazer para bombear sangue e deixar tudo funcionando
plenamente. Isso sobrecarrega o órgão, que terá que bater mais rápido do que o
ideal. "O tecido adiposo é um grande produtor de substâncias inflamatórias
- e os adipócitos (células de estoque da gordura) aumentam em número e volume
com a obesidade", afirma o endocrinologista Isaac Benchimol, do Conselho
Empresarial de Medicina e Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele
explica que o organismo se cansa de corrigir o erro alimentar e o sedentarismo,
e vai progressivamente lançando de volta na circulação o colesterol e os
triglicerídeos que não conseguiu armazenar no fígado e tecido adiposo. Essa
gordura em excesso no sangue pode formar placas e entupir as artérias, causando
um infarto ou AVC. Esse estado inflamatório também pode favorecer a oxidação do
colesterol bom (HDL), que se transformará em colesterol ruim (LDL). Todo esse
cenário favorece doenças como hipertensão, angina, insuficiência cardíaca,
entre outros.
Metabolismo alterado
Quando ganhamos peso, há
o aumento do tecido adiposo em dois compartimentos importantes: o visceral
(abdominal) e o subcutâneo. "Quando o adipócito está cheio de gordura,
existe a produção de substâncias inflamatórias que geram uma cadeia de
desequilíbrio no nosso corpo", afirma a endocrinologista Andressa
Heimbecher, de São Paulo. Isso causa o aumento dos níveis de colesterol ruim e
triglicerídeos, aumento de gordura no fígado, diabetes tipo 2, elevação da
pressão arterial, do risco de aterosclerose e consequentemente de doenças
cardíacas e cerebrovasculares. "O acúmulo de gordura abdominal é o mais
danoso, porque estimula mais a produção dessas substâncias inflamatórias."
Quando o adipócito está
com sua capacidade de estoque cheia, ocorre também um depósito de gordura no
fígado, conhecido como a esteatose hepática. "Neste contexto, há aumento
dos níveis de ácidos graxos livres circulantes, que geram um efeito no pâncreas
chamado de lipotoxicidade - a gordura circulante é tóxica ao funcionamento das
células beta do pâncreas", diz Andressa. Ocorre também um excesso de
ácidos graxos circulantes nas células musculares, impedindo a entrada de
glicose estimulada pela insulina, gerando a resistência insulínica. "Nesse
cenário, vai ficando cada vez mais difícil para as células absorverem glicose,
acarretando no aumento de ácidos graxos livres e substâncias inflamatórias,
gerando um ciclo vicioso." Esse mau funcionamento das células beta do
pâncreas, que causa a resistência insulínica, pode agravar e se transformas em
diabetes tipo 2.
Quanto mais a pessoa
ganha peso, maior é o depósito de gordura acontecendo no tecido adiposo e no
fígado. O fígado é o nosso órgão de processamento do colesterol, e se ele não
funciona de maneira adequada nossos níveis de colesterol e triglicérides
aumentam. "Além disso, quando existe a resistência insulínica, as células
dos músculos e tecido adiposo passam a não absorver glicose e a usar gordura
quando precisam de energia", afirma a endocrinologista Andressa. Apesar de
isso parecer bom, a quebra de gordura em vez de glicose na obesidade aumenta
mais ainda a liberação de ácidos graxos no sangue e consequentemente de
colesterol ruim e triglicérides.
Digestão prejudicada
"A doença do refluxo gastroesofágico tem,
em muitos casos, uma ligação direta com a obesidade", alerta a
gastroenterologista Fernanda de Oliveira, do Hospital Santa Luzia, em Brasília.
Ela explica que o aumento da gordura abdominal causa a elevação da pressão
dentro do estômago, o que leva ao retorno do conteúdo gástrico para o esôfago -
causando assim o refluxo. "Os pacientes com obesidade também têm uma
incidência maior de Hérnia de Hiato (deslocamento do estômago para o tórax),
que também é uma alteração anatômica que pode levar à Doença do Refluxo",
afirma.
A obesidade também
aumenta o risco de pedras na vesícula devido ao desequilíbrio de alguns
elementos no sangue que influenciam na formação da bile. "A bile é
produzida pelo fígado e armazenada na vesícula, e consiste em uma mistura de
várias substâncias, dentre elas o colesterol, que é responsável pela maioria
dos casos de formação de cálculos na vesícula", conta a especialista.
Desta forma, quando o colesterol ruim (LDL) está alto e o colesterol bom (HDL)
está baixo temos um maior risco de aparecimento de pedras na vesícula,
justamente pela alteração deste elemento na bile.
A obesidade também é um
fator de risco para pancreatite. Os casos de pancreatite relacionados à
obesidade ocorrem principalmente pela formação de cálculos na vesícula que
migram para o pâncreas - mas também podem acontecer pela elevação dos
triglicerídeos. A maioria dos pacientes com obesidade também tem um acúmulo de
gordura no fígado. "O grande risco da gordura no fígado é o aparecimento
da esteatose hepatite, que é destruição das células do fígado pela presença de
gordura", explica a gastroenterologista. A persistência deste quadro por
muitos anos pode levar a cirrose hepática e por isso deve ser acompanhada.
"O emagrecimento é fundamental nesses casos."
Fertilidade em perigo
Quanto maior é o tecido adiposo, maior é a
concentração de estrona, um tipo de estrógeno, no sangue. "Isso irá
estimular o endométrio (parte de dentro do útero, que descama nas menstruações)
e aumentar o fluxo menstrual", demonstra a ginecologista Renata Di Sessa,
do Hospital 9 de Julho, em São Paulo. Ao mesmo tempo, com o aumento do
estrógeno, o estímulo para os ovários irá diminuir, não havendo ovulação, o que
impede a menstruação. Assim, a mulher demora a menstruar e, quando acontece, é
em grande quantidade. "A dificuldade de obter a ovulação também pode
favorecer um quadro de infertilidade", alerta a especialista. Já o aumento
dos triglicerídeos e a instalação do quadro inflamatório no organismo pode
favorecer a infecção urinária de repetição e a candidíase de repetição, ou
seja, que sempre voltam a aparecer. "Essas últimas também estão fortemente
associadas ao diabetes e pré-diabetes, que tem como fator de risco a
obesidade."
No homem, a obesidade
com IMC acima de 40 pode interferir na produção de uma enzima chamada
aromatase, responsável por transformar a testosterona em estradiol, um hormônio
feminino que, quando em grande quantidade no homem, pode interferir na produção
de espermatozoide e diminuir sua contagem. Com o aumento acentuado de peso, a
aromatase passa a ser produzida em maior quantidade, transformando mais
testosterona em estradiol e interferindo na fertilidade.
Mais visitas ao banheiro
A obesidade é,
atualmente, um reconhecido fator de risco para a incontinência urinária.
"O excesso de peso provoca um aumento da pressão sobre a bexiga e assoalho
pélvico, favorecendo as perdas urinárias", explica a fisioterapeuta
especializada em uroginecologia Luciana Lopes, da Clínica Da Matta Fisio, em
Belo Horizonte. A obesidade também pode ocasionar o enfraquecimento da
musculatura da pelve e dos ligamentos que sustentam a uretra, levando à perda
involuntária da urina quando são feitos esforços físicos, como tossir.
Efeitos visíveis na pele
Nossa pele também não
fica livre dos efeitos da obesidade. "O ganho de peso altera a função da
barreira cutânea, o funcionamentos das glândulas sebáceas e sudoríparas, a
estrutura e função do colágeno, a cicatrização de feridas, vasos sanguíneos e
gordura subcutânea", explica a dermatologista Carolina Marçon, da
Sociedade Brasileira de Dermatologia. Segundo a especialista, a função de
barreira nada mais é do que regular a perda de água por meio da pele. "Em
pacientes com obesidade a pele apresenta-se extremamente ressecada, sem água, e
a cicatrização de feridas fica comprometida", diz. Em contrapartida, na
obesidade também ocorre uma superprodução de sebos e suor, resultado de uma
alteração nos níveis de insulina e hormônio do crescimento. "Essas duas
substância passam a ser produzidas em maior quantidade no obeso, o que leva a
um aumento secundário da secreção sebácea, já que receptores celulares relacionados
à produção de sebo são estimulados por esses hormônios, com consequente piora
do quadro de acne", alerta a dermatologista. Os quilos extras causam,
ainda, a diminuição de uma substância chamada globulina, essa responsável por
transportar esteroides sexuais (hormônios sexuais) - seu nome específico é
SHGB. "Essa globulina é recrutada perifericamente pela gordura acumulada
no corpo, levando a um aumento da testosterona livre, que estimula o aumento da
oleosidade da pele, agravando a acne e o hirsutismo (aumento dos pelos no
corpo) ", completa a especialista. Esse aumento da testosterona circulante
no corpo e conjunto com a resistência à insulina também pode causar a acantose
nigricante, que é o problema de pele mais comum na obesidade. "O excesso
do hormônio leva ao escurecimento das axilas, virilhas e de outras áreas onde
existam dobras."
Além do aumento da
produção de sebo, que favorece a acne, a pessoa com obesidade tem um aumento da
secreção de suor pelas glândulas sudoríparas. "Como consequência dessa
produção de suor exacerbada temos a hiperidrose", afirma a dermatologista
Carolina. A obesidade também está associada com mudanças na estrutura do
colágeno, que é responsável pela sustentação e firmeza da pele, além de
participar do processo de cicatrização. "No entanto, flacidez e rugas não
são tão evidentes nos obesos, pois existe aumento da gordura subcutânea, que
'preenche' os sulcos e linhas de expressão."
Outro problema comum da
obesidade são as estrias, causadas pelo estiramento excessivo da pele provocado
pelo aumento de peso. "Esse tipo de estria se localiza principalmente nas
mamas, coxas, nádegas e abdome", lembra a dermatologista. Foda essas
manifestações mais comuns, a obesidade também pode causar o aparecimento de
lesões de pele na região do pescoço e axilas semelhantes a verrugas, chamadas
fibromas moles ou acrocórdons, e também a queratose pilar, que são pequenas
"bolinhas ásperas" que se localizam na superfície externa dos braços.
"Algumas doenças de pele não são causadas pela obesidade, mas podem ser
agravadas por ela, como psoríase, insuficiência venosa crônica, celulite,
infecções fúngicas e bacterianas, hiperceratose relativa da planta do pé
(espessamento plantar), hidradenite supurativa, tofo gotoso e intertrigo."
Sistema linfático e
vascular
A obesidade impede ou
retarda o fluxo linfático, o que conduz à retenção de líquido no subcutâneo,
alteração chamada de linfedema. Outro ponto causado pela obesidade é a
dilatação dos vasos sanguíneos, principalmente nas pernas, fazendo com que a
circulação sanguínea na pele fique aumentada. Há também um maior risco de
obstrução vascular ocasionando pela deposição de gordura na parede das
artérias. "Essas alterações levam ao aparecimento de varizes, e,
eventualmente, tromboses", afirma a dermatologista Carolina.
Não se esqueça do
oftalmologista
A obesidade pode
influenciar - e muito! - na saúde dos nossos olhos. Pesquisadores da Escola de
Saúde Pública de Harvard (EUA) acompanharam mais de 130 mil pessoas e
descobriram que um IMC igual ou superior a 30 estava relacionado com o
desenvolvimento de catarata. Segundo o estudo, a obesidade aumentava em 36% o
risco do problema ocular. O risco de desenvolver uma catarata subcapsular
posterior - tipo mais grave - aumentou em 68% com o excesso de peso. Isso
acontece porque a obesidade é um fator de risco para o surgimento de diabetes,
colesterol alto e hipertensão, que são as principais causas de problemas da
visão como catarata, glaucoma e retinopatia diabética. Outras doenças oculares
decorrentes dessas alterações são degeneração macular, oclusão da veia central
da retina ou de seus ramos e retinopatia por hipertensão arterial.
Cérebro afetado
As pessoas com obesidade
geralmente sofrem problemas cerebrais devido às complicações clínicas da
obesidade, como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia e apneia do sono -
todas doenças que favorecem o aparecimento de acidentes vasculares cerebrais, por
exemplo. "Mas, por outro lado, observa-se que indivíduos com obesidade e
nenhuma comorbidade mostram uma queda do desempenho cognitiva em testes
psicológicos, principalmente em idosos", explica o neurologista Antonio
Cezar Galvão, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de
Julho. O especialista afirma que o cérebro da pessoa acima do peso e com mais
idade tende a ser mais atrofiado que o normal, mas ainda não se sabe exatamente
o porquê. "Especula-se que a obesidade poderia lesionar uma série de
tecidos neurológicos. " Nesse cenário, explica o neurologista, a obesidade
também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da Doença de Alzheimer
e as demências vasculares.
Além dessas relações, a
obesidade é comprovadamente um fator de risco para a cronificação da enxaqueca,
podendo tornar a dor de cabeça diária. "Sugere-se que o tecido gorduroso
libere substâncias que favoreçam a inflamação dos vasos sanguíneos, além de
interferir na produção de neurotransmissores responsáveis pela dor",
afirma o neurologista. Outros problemas neurológicos que aparecem em pessoas
com obesidade, segundo o especialista, geralmente estão relacionados a outras
comorbidades, como síndrome metabólica, diabetes, hipertensão arterial e apneia
do sono.
Seu sistema respiratório
também sofre
O sobrepeso, ao dificultar a respiração,
favorece casos de apneia do sono. A apneia do sono é o estágio mais avançado do
ronco e acontece quando a passagem do ar pela garganta está totalmente
obstruída e há interrupção da respiração. "Há uma espécie de campainha na
garganta, chamada úvula, e a vibração dela provoca o ronco - e isso não
necessariamente acontece em pessoas com obesidade", explica o
odontologista especializado em distúrbios do sono Fausto Ito, da Associação
Brasileira do Sono. Entretanto, a apneia está fortemente ligada com o aumento
de peso. "O tecido gorduroso acumulado ao redor do pescoço, no tórax e no
abdômen dificultam a respiração, causando apneia", explica o especialista.
Ele afirma que apneia e obesidade andam juntas, uma vez que a qualidade ruim do
sono desorganiza o metabolismo e prejudica a síntese de vários hormônios,
agravando a obesidade.
Outro problema
respiratório causado pela obesidade é a hipoventilação alveolar, que acontece
quando nosso organismo não respira o suficiente, ou seja, não ventila o
suficiente para que seja realizada a troca de gases nos pulmões. A relação
entre hipoventilação alveolar e obesidade se dá uma vez que o excesso de peso sobrecarrega
o aparelho respiratório.
Músculos e ossos mais
fracos
Segundo o médico do
esporte Pablius Braga, do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do
Hospital 9 de Julho, a obesidade causa mudança de postura e alteração de nosso
centro de gravidade - que fica projetado para frente devido ao aumento da
circunferência abdominal. "Desta forma, a coluna lombar é projetada a
frente aumentando a curva das costas e a bacia tende a se projetar também frente,
fazendo a coxa girar para dentro e os joelhos formarem um 'X'", explica o
especialista. De acordo com Pablius, todas essas mudanças acontecem para
compensar o aumento anormal de massa corporal. "O corpo precisa deste
ajuste senão as quedas e tombos seriam frequentes devido ao
desequilíbrio."
A queixa mais comum dos
pacientes com obesidade é a dor nas costas, ou lombalgia. "Ela acontece
pela mudança da posição da coluna que ao projetada para frente leva a um
aumento da tensão nos músculos que acompanham a coluna e das articulações que a
sustentam", conta o médico do esporte. Com o passar de meses e anos,
sustentar esta posição por conta da obesidade irá resultar em dor. "Uma
das recomendações para diminuir a lombalgia é a perda de peso e o fortalecimento
muscular." Outro problema comum em pessoas com a doença é um quadro de
gota, que segundo o especialista não é uma relação direta. "Pessoas com
excesso de peso e uma predisposição a sofrer com o acúmulo de ácido úrico no
sangue, causador da gota, sofrem mais com o controle do problema devido à
limitação para ação de medicamentos e a dificuldade de movimentação
física", declara o especialista.
A obesidade também é uma
emissária da osteoartrite, também conhecida como artrose, e se dá por um
desgaste crônico das articulações, causando dores generalizadas. "Existem
evidências científicas que mostram a relação entre o aumento de IMC (entre 30 e
35) com o aparecimento da osteoartrite", afirma o médico do esporte
Pablius. Ele explica que as articulações possuem algumas forças que
possibilitam ao órgão absorver impacto tanto em repouso como em movimento e, ao
absorver estas cargas, transformá-las em energia e movimento. Exemplo: ao
caminhar existe a carga suportada pelos joelhos ao "chocar" ou
colocar o pé no solo. Essa carga é transformada em energia, que impulsiona o pé
para frente e executa o passo. "A sobrecarga de peso ou obesidade pode
transformar esses movimentos em traumas minúsculos, mas repetitivos, levando as
alterações das cartilagens e, consequentemente, um desgaste das estruturas da
articulação, formando áreas de inflamação", descreve o especialista.
Câncer em evidência
"As pessoas com
obesidade parecem ter mais predisposição a vários tipos de tumores",
declara o oncologista Anderson Silvestrini, presidente da Sociedade Brasileira
de Oncologia Clínica (SBOC). Ele explica que a obesidade leva a uma
desregulação do sistema endócrino do paciente, culminando na secreção de várias
substâncias como fatores estimulantes e inflamatórios. "Isso leva a
alterações celulares que podem evoluir para neoplasias", diz. Os cânceres
comprovadamente relacionados com a obesidade são os de esôfago, cólon e reto,
pâncreas, vesícula, próstata, mama, útero, colo do útero e rim.
"A obesidade aumenta
a incidência do câncer de cólon e reto por conta da inflamação crônica que
ocorre na obesidade, levando a um hiperestímulo celular e o surgimento da
neoplasia", afirma o oncologista. Já no câncer de esôfago, a obesidade
está relacionada principalmente com o do tipo adenocarcinoma, que tem como
outros fatores de risco o refluxo gastroesofágico e o tabagismo. "Para o
câncer de vesícula suspeita-se que a relação aconteça devido às alterações
hormonais da obesidade", declara Anderson. Segundo o médico, a obesidade
não só aumenta o risco de câncer de vesícula como eleva as chances de morte
pelo problema.
O câncer de mama e o
câncer de colo do útero apresentam uma relação importante com a obesidade.
"As mulheres com a doença têm 1,5 vezes mais chance de desenvolver câncer
de mama", explica o oncologista Anderson. Isso acontece porque o hormônio
estrógeno, fortemente ligado ao aparecimento do câncer, é produzido em nosso
tecido adiposo. Com o excesso de gordura corporal, esse hormônio pode começar a
ser produzido em maior quantidade, aumentando o risco de mutação. "O
câncer de colo de útero, por sua vez, está mais relacionado ao ganho de peso
acelerado e aumento da circunferência abdominal, principalmente em mulheres na
menopausa." No caso do câncer renal, afirma o oncologista Anderson, a
obesidade aumenta o risco em 70%, comparável até ao hábito de fumar, que eleva
a chance em 50%. "Esse câncer também parece estar relacionado à produção
de hormônios em níveis aumentados."
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