Maior investigação da
história do crime organizado denuncia 175 do PCC
Ministério Público fez um raio X do Primeiro Comando da Capital e
pediu à Justiça a internação de 32 chefes no Regime Disciplinar Diferenciado.
Depois de três anos e meio de investigação, o Ministério Público
Estadual (MPE) de São Paulo concluiu o maior mapeamento da história do crime
organizado no País, com um raio X do Primeiro Comando da Capital (PCC). Por
fim, denunciou 175 acusados e pediu à Justiça a internação de 32 presos no
Regime Disciplinar Diferenciado - entre eles, toda a cúpula, hoje detida em
Presidente Venceslau.
As provas reunidas pelos promotores do Grupo Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) permitiram a construção de um retrato inédito
e profundo da maior facção criminosa do País. Os promotores reuniram escutas,
documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de
centenas de quilos de drogas e de armas. O Estado teve acesso aos documentos e
a milhares de áudios que formam o maior arquivo até hoje reunido sobre o grupo.
O MPE flagrou toda a cúpula da facção em uma rotina interminável de
crimes. Ela ordena assassinatos, encomenda armas e toneladas de cocaína e
maconha. Há planos de resgate de presos e de atentados contra policiais
militares e autoridades. O bando faz lobby e planeja desembarcar na política.
Presente em 22 Estados do País e em três países (Brasil, Bolívia e
Paraguai), a "Família" domina 90% dos presídios de São Paulo. Fatura
cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas e outros R$ 2 milhões com
sua loteria e com as contribuições feitas por integrantes - o faturamento anual
de R$ 120 milhões a colocaria entre as 1.150 maiores empresas do País, segundo
o volume de vendas. Esse número não inclui os negócios particulares dos
integrantes, o que pode fazer o total arrecadado por criminosos dobrar.
A principal atividade desenvolvida pela facção é tráfico de drogas.
Chamado de Progresso prevê ações no atacado e no varejo. No último, a facção
reunia centenas de pontos de venda espalhados pelo País. Eles são chamados de
"FM". No caso da cocaína, os bandidos mantêm um produto de primeira
linha, o "100%" e o "ML", que é a droga batizada, de
segunda linha. A maconha é designada nas conversas com o nome de Bob Esponja. A
droga do PCC vem do Paraguai e da Bolívia. Os três principais fornecedores de
drogas para o PCC seriam o traficante paraguaio Carlos Antonio Caballero, o
Capilo, e os brasileiros Claudio Marcos Almeida, o Django, Rodrigo Felício, o
Tiquinho, e Wilson Roberto Cuba, o Rabugento.
Arsenal. O bando tem um arsenal de uma centena de fuzis em uma
reserva de armas e R$ 7 milhões enterrados em partes iguais em sete imóveis
comprados pela facção. Ao todo, o grupo tem 6 mil integrantes atrás das grades
e 1,6 mil em liberdade em São Paulo. Esse número sobe para 3.582 em outros
Estados - somando os membros ativos e inativos, além dos punidos e os que não
têm mais cargos ou participação em atividades mantidas pela facção.
A denúncia do MPE foi assinada por 23 promotores de Justiça de
todos os Gaecos de São Paulo. O MPE fez ainda um pedido à Justiça de que seja
decretada prisão preventiva de 112 dos acusados. Todos os suspeitos listados
pelo MPE foram flagrados conversando em telefones celulares, encomendando
centenas de quilos de cocaína, toneladas de maconha, fuzis, pistolas,
lança-granadas e determinando a morte de desafetos, traidores e suspeitos de
terem desviado dinheiro da Família. Deixam, assim, claro que atuam segundo o
princípio de que "o crime fortalece o crime". Dezenas de telefonemas
relatando pagamento de propinas, principalmente a policiais civis, mas também a
PMs, fazem parte da investigação.
A Justiça de Presidente Prudente se negou a decretar a prisão de
todos os acusados, sob o argumento de que seria necessário analisar mais
detidamente as acusações. O mesmo argumento foi usado pela Vara das Execuções
Criminais, que indeferiu o pedido de liminar feito pelo MPE para internar toda
a cúpula da facção no RDD da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente
Bernardes. O juiz Tiago Papaterra decidiu verificar caso a caso a situação dos
detentos, antes de interná-los.
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