Mito da alma gêmea
Será que todo mundo tem uma alma gêmea?
Quem nunca ouviu dizer: encontrei minha
alma gêmea! O que significa isso? De onde saiu que nós, humanos, individuais,
temos ou compartilhamos nossa alma com outro ser? Alma gêmea quer dizer que
nasceram juntas?
Na verdade, o mito da alma gêmea foi
criado por Platão que em seu livro O Banquete tenta definir o que é o amor. E
nessa busca, muitos convidados de uma festa, cada um por vez, faz um elogio ao
deus Eros (deus do amor).
No entanto, um dos momentos mais
fascinantes do texto é quando toma a palavra o comediógrafo Aristófanes. Ele
faz um discurso belo e que se imortalizou como a teoria da alma gêmea.
Aristófanes começa dizendo que no
início dos tempos os homens eram seres completos, de duas cabeças, quatro
pernas, quatro braços, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido
para se deslocarem. Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os
homens resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e
ocupando seus lugares. Todavia, os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu
castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e cindiu todos os
homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse o
ferimento (o umbigo) e virasse a face dos homens para o lado da fenda para que
observassem o poder de Zeus.
Dessa forma, os homens caíram na terra
novamente e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a
qual não viveriam. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os homens
procuram sua outra metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de
que algo nos falta, algo que era nosso antes. Por isso, os homens vivem em
sociedade, pois desenvolvem o trabalho para buscar, nessa relação amorosa,
manter a sua sobrevivência. Dessa forma, o ser que antes era completo
homem-homem gerou o casal homossexual masculino; o ser mulher-mulher, o casal
homossexual feminino. E o andrógino (parte homem, parte mulher) gerou o casal
heterossexual. E a força que une a todos é o que nos protege, já que Zeus
prometeu cindir novamente os homens (ficaríamos com uma perna e um braço só!)
se não cumpríssemos o que foi designado pela divindade.
Vale notar que Platão vai utilizar uma
linguagem poética-imagética para poder refutar essa teoria, mas no fundo, a
plasticidade do texto é que ficou na tradição como a obra mais bela que explica
sobre o amor. Isso inspirou os movimentos românticos em todas as suas fases na
modernidade.
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