Saiba como o álcool afeta o
corpo
Além dos efeitos já conhecidos,
o consumo excessivo gera problemas de saúde mental, perda de memória e
diminuição da fertilidade
Os efeitos do consumo do álcool em curto prazo são conhecidos:
ressacas, cansaço, má aparência. Em longo prazo, a ingestão da substância está
associada a várias condições, entre elas o câncer da mama,
câncer oral, doenças cardíacas, Acidente
Vascular Cerebral (AVC) e cirrose
hepática, entre outras.
Álcool: não há dose segura de consumo, dizem especialistas. Pesquisas também associaram o consumo de álcool em doses
elevadas à problemas de saúde mental, perda de memória e diminuição da
fertilidade. Entretanto, estudos também concluíram que, ingerida
com moderação, a substância pode ter um efeito benéfico, ajudando a proteger o
coração ao elevar os índices de bom colesterol no organismo e impedir a
formação de coágulos
sanguíneos.
As mensagens são contraditórias, levando especialistas ouvidos
pela BBC a recomendar que as autoridades sejam mais claras em suas campanhas de
conscientização. Não existe nível absolutamente seguro de consumo de álcool,
dizem. Mas se você quer beber, não exceda 21 unidades por semana para homens e
14 unidades por semana para mulheres.
Problemas cardíacos e câncer. A ingestão de mais de três copos de bebida alcoólica por dia
prejudica o coração. O consumo excessivo,
especialmente a longo prazo, pode resultar em pressão alta,
cardiomiopatia alcoólica, falência cardíaca e AVCs, além de aumentar a
circulação de gorduras no organismo. As associações entre o consumo de álcool e
o câncer também são bastante conhecidas. Um estudo publicado no British Medical
Journal no ano passado concluiu que o consumo de álcool provoca pelo menos 13
mil casos de câncer por ano na Grã-Bretanha, nove mil em homens e quatro mil em
mulheres.
O efeito negativo do álcool para a saúde em geral pode estar
associado a uma substância conhecida como acetaldeído – produto em que o álcool
é transformado após ser digerido pelo organismo. Essa substância é tóxica e
experimentos demonstraram que ela danifica o DNA. O cientista KJ Patel, que
trabalha no laboratório de biologia molecular do Medical Research Council, na
Grã-Bretanha, vem pesquisando os efeitos tóxicos do álcool.
"Não há a ocorrência de uma célula cancerosa a não ser que
o DNA seja alterado. Quando você bebe, o acetaldeído está corrompendo o DNA da
vida e colocando você no caminho para o câncer".
Imunidade e fertilidade. Um relatório
publicado recentemente na revista científica Bio Med Central (BMC) Innunology
revelou que o álcool afeta a capacidade do organismo de combater infecções
virais. E estudos sobre fertilidade indicam que mesmo o consumo moderado da
substância diminui a probabilidade de uma mulher conceber. Nos homens, o
consumo excessivo diminui a qualidade e quantidade de esperma.
KJ Patel acaba de completar uma investigação sobre os efeitos
tóxicos do álcool sobre ratos. Seu estudo indica que uma única dose excessiva
de álcool durante a gravidez pode ser suficiente para
provocar danos permanentes sobre o genoma do feto. A Síndrome Alcoólica Fetal,
segundo Patel, "pode resultar em crianças com danos sérios, nascidas com
anomalias na cabeça e face e com deficiências mentais".
Fígado. O médico Nick
Sheron, que comanda a unidade de fígado do Southampton General Hospital, na
Inglaterra, disse que os mecanismos por meio dos quais o álcool prejudica o
organismo não são claros. "A toxicidade do álcool é complexa, mas sabemos
que há um relacionamento próximo e claro". Quanto maior a ingestão
semanal, maior o dano ao fígado e esse efeito aumenta exponencialmente em
alguém que bebe de seis a oito garrafas de vinho – ou acima disso – nesse
período. Segundo Sharon, nas últimas duas ou três décadas, houve um aumento de
500% no número de mortes por doenças do fígado na Grã-Bretanha. Dessas, 85%
foram provocadas pelo álcool. O ritmo desse crescimento começou a diminuir, mas
muito recentemente.
"O álcool tem um impacto maior sobre a saúde do que o fumo
porque ele mata em uma idade menor". Segundo o especialista, doenças do
fígado provocadas pelo consumo de álcool matam por volta dos 40 anos de idade.
Álcool x heroína, crack e cocaína. O consumo de álcool é, cada vez mais, um problema de saúde
pública. No início do ano, o serviço nacional de saúde britânico, NHS, anunciou
que internações associadas ao consumo de álcool na Grã-Bretanha atingiram nível
recorde em 2010. Houve mais de um milhão de internações, em comparação com
945.500 em 2008-2009 e 510.800 em 2002-2003. Quase dois terços dos pacientes
eram homens.
Segundo a entidade beneficente britânica Álcool Concern, há
estimativas de que o número de internações possa alcançar 1,5 milhão por volta
de 2015. Quando são considerados os perigos para o indivíduo e a sociedade como
um todo, o álcool é mais prejudicial do que drogas
como a heroína e o crack – concluiu um estudo publicado no ano passado na
revista científica The Lancet. O estudo, feito pelo Comitê Científico
Independente sobre Drogas, órgão científico independente que estuda as drogas e
seus efeitos, concluiu também que o álcool é três vezes mais prejudicial do que
a cocaína e o tabaco porque é usado de forma muito mais ampla.
Consumo recomendado. A diretora de
pesquisas do Institute of Alcohol Studies, Katherine Brown, disse que as
orientações atuais sobre o consumo de álcool e a forma como essas diretrizes
são comunicadas à população podem estar contribuindo para a desinformação do
público.
"Precisamos ser cuidadosos quando sugerimos que existe um
nível 'seguro' de ingestão. Na verdade, precisamos explicar que existem riscos
associados ao consumo do álcool e que quanto menos você bebe, menor seu risco
de desenvolver problemas de saúde".
Para a especialista, é preciso mudar a percepção de que
"beber regularmente é uma prática normal e livre de riscos". O médico
Nick Sheron concorda. "Não existe um nível seguro. As pessoas apreciam um
drinque, mas precisam aceitar que existem riscos e benefícios".
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