terça-feira, 17 de abril de 2012

Viva a sabedoria...


Minima Moralia, de T. Adorno
No plano material, a substituibilidade é o já possível, e a insubstituibilidade é o pretexto que o impede; na teoria, à qual cabe compreender esse quid pro quo, a substituibilidade ajuda o aparelho a prolongar-se ainda até onde reside a sua oposição objectiva. Só a insubstituibilidade poderia contrabalançar a inserção do espírito na área do emprego. A exigência, admitida como evidente, de que toda a realização espiritual se deve deixar dominar por qualquer membro qualificado da organização faz do mais obtuso técnico científico a medida do espírito: onde iria ele buscar a capacidade para a crítica da sua própria tecnificação?
A economia suscita assim a nivelação do que, em seguida, se indigna com o gesto do "Agarra, que é ladrão!" A demanda da individualidade tem de se projectar de forma nova na época da sua liquidação. Quando o indivíduo, como todos os processos individualistas de produção, surge historicamente antiquado e na retaguarda da técnica, chega-lhe de novo, enquanto sentenciado, o momento de dizer a verdade perante o vencedor. Pois só ele conserva, de um modo geralmente distorcido, o vestígio daquilo que concede o seu direito a toda a tecnificação, e de que esta elimina, ao mesmo tempo, a consciência.
Para uma crítica da economia política, de Marx
A arte grega supõe a mitologia grega, quer dizer, a natureza e as formas da sociedade, já elaboradas pela imaginação popular, ainda que de uma maneira
inconscientemente artística. São estes os seus materiais. A arte grega, portanto,não se apoia numa mitologia qualquer, isto é, numa maneira qualquer de
transformar, ainda que inconscientemente, a natureza em arte (a palavra natureza designa aqui tudo o que é objetivo, e portanto também a sociedade). De modo
nenhum a mitologia egípcia poderia ter gerado a arte grega; nem poderia ter gerado uma sociedade que tivesse alcançado um nível de desenvolvimento capaz
de excluir as relações mitológicas com a natureza exigindo do artista uma imaginação independente da mitologia.

Trata-se de uma mitologia que proporciona o terreno favorável ao florescimento da arte grega.

Por outro lado: será Aquiles compatível com a idade da pólvora e do chumbo?
Ou, em resumo, a Ilíada com a imprensa, ou melhor, com a máquina de imprimir? O canto, a lenda, as musas, não desaparecerão necessariamente ante a
barra do tipógrafo? Não desapareceram já as condições favoráveis à poesia épica?
No entanto, a dificuldade não está em compreender que a arte grega e a epopéia estão ligadas a certas formas de desenvolvimento social; está sim no fato de nos
proporcionarem ainda um prazer estético, e de serem para nós, em certos aspectos, uma norma e até um modelo inacessíveis.
Um homem não pode voltar a ser criança, a não ser que caia na puerilidade.
Porém, não é verdade que ésensível à inocência da criança, e que, a outro nível, deve aspirar a reproduzir a sinceridade da criança? Não éverdade que o caráter de cada época, a sua verdade natural, se reflete na natureza infantil?

Por que motivo então a infância histórica da humanidade, o momento do seu pleno florescimento,não há-de exercer o encanto eterno, próprio dos momentos que não voltam a acontecer? Há crianças deficientemente educadas, e crianças que crescem demasiado depressa: a maior parte dos povos da antiguidade incluiam-se nesta categoria. Os Gregos eram as crianças normais. O encanto que encontramos nas suas obras de arte não é contrariado pelo débil desenvolvimento da sociedade em que floresceram. Pelo contrário, é uma consequência disso; é inseparável das
condições de imaturidade social em que essa arte nasceu - em que só poderia ter nascido - e que nunca mais se repetirão.

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