Primeiramente,
vamos dividir cada um desses grupos em 3:
Negros 1: são os negros que passariam no vestibular de todo jeito, independente
se há cotas ou não
Negros 2: são os negros que só passaram no vestibular por causa das
cotas
Negros 3: são os negros que não passam no vestibular, independente da
existência de cotas.
De modo análogo, os não-negros:
Não-negros 1: são os que passam no vestibular, com ou sem cotas
Não-negros 2: são os que passariam no vestibular sem cotas, mas perderão
suas vagas caso haja cotas
Não-negros 3: são os não-negros que não passam no vestibular,
independente da existência de cotas.
Quais são as consequências finais das cotas para cada um desses grupos?
Consequências
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É
justo que as cotas façam a cor dela dizer algo sobre o seu diploma?
PROTESTE! Não à discriminação!
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Não-negros
1 (que passam no vestibular, mesmo que haja cotas): pra eles, não muda
nada. Talvez eles até sejam beneficiados, caso os alunos da
universidade pública passem a ser divididos em 2 pelo mercado: entre os
diplomados de universidades públicas, o simples fato de ser branco (ou
japonês) vai passar a ter muito valor! (pois eles terão se formado,
ainda que os negros tenham sido favorecidos: ou seja, serão os
“melhores entre os melhores”!)
Não-negros 2 (que passam no vestibular hoje, mas perderão suas vagas
caso haja cotas) : eles perdem suas vagas, e ficam indignados com a
injustiça de terem tido a sua vaga "ROUBADA" por outra
pessoa, só por que ela é negra. Não interessa se os pais deles deram
duro pra pagar (com muito sacrifício) uma escola particular pra eles, não
interessa se eles mesmos se esforçaram o máximo possível pra superar
suas limitações e se qualificarem: o futuro deles foi rifado para
“reparar” uma injustiça que não foi cometida por eles. Notem que na
maior parte dos casos, esses caras não são “elite”: conseguiram se
qualificar com muito sacrifício pessoal e familiar. São aqueles que
pegaram as últimas vagas, que passaram “raspando”, com muito esforço.
Mas agora, por motivos raciais, eles têm negada a sua chance de
ascensão social.
Não-negros 3 (que não passam no vestibular, independente da existência
de cotas): pra eles, nada muda. Mas agora eles encontram nos negros uma
desculpa para justificar o seu fracasso, mesmo que isso não tenha sido
o caso. Nas cabeças fracas desse grupo (não são poucas!), está formado
o caldeirão para justificar o ódio racial.
Agora,
o caso dos negros:
Negros 1 (que passariam no vestibular, independente de cotas): antes,
eles eram reconhecidos como vencedores. São poucos, mas esses poucos
têm um reconhecimento ainda maior: a sociedade julga que eles superaram
uma situação adversa para estarem onde estão, e isso acrescenta valor
aos seus méritos. Conseguiram tudo com seu próprio esforço. Suas
qualificações são legítimas. Mas depois da implantação do sistema de
quotas, vão sempre ser olhados (injustamente) com desconfiança: como é
que chegaram lá? Será que são realmente qualificados, ou o seu diploma
é fruto de cota, conquistado por causa da cor da pele e não pelo seu
cérebro? A cor da pele deles vai ser um fator de desconfiança. Notem
que muitos deles têm perfil parecido com os “não-negros 2”, que
venceram apesar das adversidades.
Negros 2 (que só passaram no vestibular por causa das cotas):
ascenderam às custas dos “Não-Brancos 2”. Serão beneficiados, pois
“alguma coisa” é melhor do que “nada”. Mas o mercado não nasceu ontem,
provavelmente as pessoas vão levar em conta a razão de eles estarem lá
nos processos de seleção. E estes pagarão a fatura por estarem lá só
por causa da cor da pele, passando a frente de gente que se esforçou
pra competir (com estudo) e ser melhor que ele - e que ganhou, mas não
levou.
Negros 3 (que não passam no vestibular, independente da existência de
cotas): é a grande maioria (mais de 99%), não se iludam: não há vagas
para todos nas universidades públicas. Para eles, nada muda. A única
diferença é que ganham o “status” indesejado de favorecidos, ainda que
não o sejam: pagam a fatura (da raiva popular) sem receber a mercadoria
(do favorecimento).
Então,
a questão é: vale a pena fazer as cotas para beneficiar uma parcela
ínfima de negros (que nem são necessariamente os mais merecedores, em
relação a outros negros), às custas de todos os outros negros, e dos
não-negros?
Vale a pena sacrificar a legitimidade da conquista de quem é negro e
conseguiria entrar na universidade por méritos próprios?
Vale a pena sacrificar o futuro dos amarelos e brancos menos
privilegiados, que a muito custo se encaixam nas últimas vagas
oferecidas pela universidade?
Vale a pena fazer isso tudo sem que a verdadeira elite (filhos de
políticos, dos ricos, etc) veja seus “direitos” ameaçados?
Vale a pena criar 2 classes de graduados de escola pública, a dos
negros e a dos não-negros?
Defender as cotas é defender o racismo e a discriminação racial. E isso
é injustificável.
No final da história, a resposta à pergunta inicial é previsível: cotas
raciais só valem a pena pros políticos que a implementarem, e pros
ativistas que a defendem.
Por
Ricardo Rosenberg - Dezembro / 2004.
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