sexta-feira, 27 de abril de 2012

Viva a sabedoria...


Filosofia da Ciência, de Rubem Alves
Esse espanto perante a ordem é a primeira inspiração da ciência. Quando um cientista enuncia uma lei ou uma teoria, ele está contando como se processa a ordem, está oferecendo um modelo de ordem. Agora ele poderá prever como a natureza vai se comportar no futuro. É isto que significa testar uma teoria: ver se, no futuro, ela se comporta da forma como o modelo previu.

Você conseguiu descobrir alguma ordem em meio aos absurdos aparentes? Veja: nada está solto. As coisas são nos céus como são no homem. Tudo é um cosmos, ordem. Microcosmos e macrocosmos estão ligados por relações de analogia. O homem é o microcosmos. Modelo do universo, próximo de todos, visível, conhecido. Baseado em uma visão da ordem do universo, ele enuncia suas conclusões: "O número dos planetas é necessariamente, sete". Não seja injusto para com o autor. Numa época em que os instrumentos para o teste de hipóteses eram raros, é compreensível que lhe sobrasse a imaginação. Nossos textos de ciência, no futuro, serão provavelmente citados como superstições primitivas.
A magia dos azande de forma idêntica se constrói sobre uma visão de natureza como uma ordem em que as coisas estão integradas e nada acontece por acaso. Tudo se encaixa perfeitamente.
E na ordem natural não existe lugar para a enfermidade. Como pode a ordem gerar a desordem? O indesejável, o não previsto, o maléfico só podem ser produtos de um fator estranho a essa mesma ordem, a feitiçaria. Você não concordaria que dada a premissa dos às zandes sobre a ordem da natureza, suas conclusões sobre a feitiçaria se seguem de forma necessária?
E o quebra-cabeça? Frequentemente os alunos respondem que irão encaixar as peças umas nas outras até dar certo. Mas não é verdade. Ninguém procede assim. Isso pode funcionar se o quebra-cabeça tiver dez peças. Mas se tiver mil? Tal procedimento violenta tanto o senso comum como a ciência. Ele não faz uso de um modelo. Como procedemos? Partimos de um pressuposto: deve haver uma ordem no quebra-cabeça. Ele deve formar um padrão conhecido: paisagem, mapa, texto, rosto. Basta dar uma olhadela nas peças para fazer uma hipótese (palpite) acerca do modelo. Letras? Texto. Uma boa técnica aqui será separar as peças com letras maiúsculas. Elas indicam inícios. Cores variadas? Talvez uma paisagem. E numa paisagem as cores não aparecem embaralhadas. Os verdes estão juntos (pastagens, árvores). Também os azuis (céu, mar). Em qualquer dos casos, você separará as peças com os lados retos. Elas formam os limites do quebra-cabeça e indicarão onde as outras deverão se encaixar.

Procedemos de forma ordenada porque pressupomos que haja ordem. Sem ordem não há problema a ser resolvido. Porque o problema é exatamente, construir uma ordem ainda invisível de uma desordem visível e imediata


O Paraíso é Uma Questão Pessoal, de Richard Bach
Segundo os filósofos, aquilo em que um homem acredita, acaba sendo a sua realidade. Durante anos eu disse que não era mecânico e não era mecânico. Ao dizer que não sabia sequer distinguir uma ferramenta de outra, fechava-se as portas de um mundo de luz. Tinha de haver alguém para consertar os meus aviões para que eu pudesse voar.

Ai, comprei um louco e velho biplano, com um motor circular e demodê no focinho, e não demorei a descobrir que aquele motor, não ia tolerar um piloto que não soubesse nada sobre a personalidade de um Wright de 175 cavalos, ou algo sobre reparos em estruturas de madeira e tela encerada.

Foi assim que aconteceu a coisa mais estranha de toda a minha vida... mudei de maneira de pensar. Aprendi a mecânica dos aviões.

O que todo o mundo sabia há muito tempo, para mim foi como uma aventura. Por exemplo, um motor aberto e espalhado sobre uma bancada, é apenas uma coleção de peças de formas diferentes, apenas ferro frio. Não obstante, essas mesmas peças, reunidas e montadas numa fria fuselagem, transformam-se num novo ser, numa escultura acabada numa forma de arte digna de qualquer galeria. E, como nenhuma outra escultura na história da arte, o motor e a fuselagem criam vida da mão do piloto e unem a sua vida à dele. Separados, o ferro, a madeira, o pano e os homens estão presos ao solo. Juntos, podem se erguer no céu, explorar lugares onde nenhum de nós já esteve. Foi, para mim, uma surpresa aprender isso, pois sempre julgara que mecânica se resumia a metal partido e pragas em voz baixa.

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