Unesp de Araraquara (SP) investiga racismo
contra africanos
"Sem cotas para os animais da África". A frase escrita no
mural em frente a um dos centros acadêmicos da Unesp de Araraquara (273 km de
São Paulo) deixou os alunos africanos do campus apreensivos e fez a
universidade abrir uma sindicância interna.
Por causa do ato, os estudantes e os professores do Grupo de Estudos da
Cultura Africana registraram um boletim de ocorrência por racismo na polícia da
cidade.
Sumbunhe N'Fanda, 24, graduando de administração pública, disse que as
mensagens racistas o deixam apreensivo. "Temos medo de nos
atacarem", disse o aluno de Guiné-Bissau, que está no Brasil há um ano. N'Fanda
e outros 25 africanos fazem intercâmbio na Unesp. A frase foi escrita no
início deste mês no mural em frente a um centro acadêmico da Faculdade de
Ciências e Letras da instituição.
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"Fiquei muito triste, meus amigos ficaram revoltados", afirmou
o mestrando em sociologia Daniel Cassamá, 28, também de Guiné-Bissau. Foi ele
quem reuniu os alunos e professores que juntos procuraram a polícia. "A
pessoa não se sente segura depois disso. Se ele [autor da frase] foi capaz de
exteriorizar esse pensamento, coisa pior pode acontecer", disse o angolano
José Patrício Morais de Almeida.
Para o professor Dagoberto José Fonseca, coordenador do grupo, o ato não
deve ser tratado como um caso isolado. "Não é individual. É uma ação
coletiva", diz Fonseca. Segundo ele, pichações que fazem referência ao
grupo neonazista White Power (poder branco) já haviam sido feitas há alguns
anos em banheiros da faculdade. "Isso não foi escrito no banheiro, mas em
um espaço de grande circulação."
Alguns alunos discordam, porém, de Fonseca. Para Ana Paula Pazzetti, 22,
aluna de ciências sociais, as mensagens racistas não foram feitas por um grupo
organizado, mas por "indivíduos" que não representam todos os alunos.
"São casos isolados. De qualquer forma, ter este tipo de neofascismo aqui
é intolerável porque temos grupos de estudos sobre africanidade que são
referência na área."
A Unesp afirmou, em nota, que já nomeou uma comissão interna para apurar
os fatos, que também vai notificar a Polícia Federal e o Ministério Público
sobre o caso. Nem a instituição nem a polícia tinham ontem pistas da autoria da
pichação. Segundo o delegado Antonio Luiz de Andrade, a polícia irá realizar
exame técnico da pichação para tentar identificar a autoria.
INTERCÂMBIO. As vagas ocupadas pelos alunos
africanos fazem parte do PEC-G, programa educacional dos ministérios das
Relações Exteriores e da Educação que oferece vagas para estudantes
estrangeiros de países em desenvolvimento.
Segundo a Unesp, dos 26 estudantes africanos na universidade, 23 estão
na Faculdade de Ciências e Letras, onde a frase foi escrita.
"Houve um aumento expressivo, sobretudo no número de estudantes guineenses,
até por conta dos problemas políticos por que eles passam", disse Fonseca.
Para ele, o aumento de visibilidade dos africanos pode ter gerado as reações
racistas. Atos contra a intolerância estão sendo organizados por estudantes e
professores.
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