segunda-feira, 23 de abril de 2012

Viva a sabedoria...




Filosofia da Mente, de João de Fernandes Teixeira
O artigo de Skinner Why I am not a Cognitive Psychologist (1977), contendo forte ataque ao mentalismo cognitivista contribuiu ainda mais para aumentar os preconceitos de ambos os lados. Skinner entendia que a ciência cognitiva nada mais seria do que o cognitivismo clássico ou o paradigma simbólico defendido pela inteligência artificial. Na verdade, este era o horizonte dos anos 70 e, infelizmente, Skinner não viveu o suficiente para acompanhar os desenvolvimentos posteriores da ciência cognitiva. Se o tivesse, certamente teria também renegado suas críticas.

Com efeito, a ciência cognitiva anticartesiana que surge a partir dos anos 90 está muito distante daquela que Skinner criticava, abrindo uma nova perspectiva para superar este diálogo de surdos que vem ocorrendo nas últimas décadas. A metáfora da mente como um software abstrato independente da estrutura física na qual ele seria instanciado começa a ser definitivamente abandonada - e, com ela, o dualismo cartesiano que foi o pressuposto da ciência cognitiva dos anos 70. O fim da metáfora computacional da mente (ou do paradigma simbólico da inteligência artificial) marca o retorno da busca pelas bases cerebrais dos fenômenos mentais e o aparecimento de movimentos inovadores na ciência cognitiva como é o caso da nova robótica e da neurociência cognitiva. Neles, o comportamento recobra sua importância no estudo da cognição e passa a ser visto como um de seus componentes principais.


Antropologia Cultural, de Reinholdo Aloysio Ullmann
(sobre o homem como agende de cultura)

Se, por um lado, o homem cria cultura, esta, por sua vez, é criadora do homem, é condicionadora da vida do homem em sociedade. Ao nascer, o ser humano assemelha-se, em seu comportamento, ao dos irracionais: não conhece freio para seus ímpetos, ignora de todo em todo o comportamento social, isto é de sua sociedade. Por logo tirocínio de aprendizagem, no convívio com os membros mais velhos, aprende, penosamente a dominar seus impulsos, a ordenar seus desejos, a atualizar suas potencialidades.

Na medida em que incorpora as normas de sua sociedade, a criança se endocultura, ou, como querem outros, se encultura. O que quer dizer isto? Quer dizer que assimila, incorpora, absorve a maneira de pensar, agir e sentir, própria da cultura em que nasceu. É um lento ajustamento à vida social, regidas por costumes regados pela tradição. Por outra, o ajustamento é fruto de internalização dos princípios que regem determinada sociedade. Internalizando tais princípios e a eles se ajustando, na vida prática, plasma-se a imagem do homem requerido por esta ou aquela cultura.

Dupla consequência advém do que deixamos dito: em primeiro lugar, garante-se a estabilidade cultural, porque a internalização da cultura constitui um penhor de que o passado está sendo vivido no presente. Em segundo lugar, se há uma linha sem solução de continuidade, na transmissão da cultura, não é menos verdade existirem modificações, as quais como que se tecem sobre o fluxo contínuo de cultura que vem do mais recôndito dos tempos e ruma para o porvir.

Como se dá esse processo de modificação cultural? Pode verificar-se na própria sociedade, pelo surgimento de inventos ou
porvir de fora, pelo difusionismo de novas idéias. A mudança cultural, evidentemente, nunca renova todos os aspectos de uma cultura. Para aferir se houve mudança ou não, é mister haja aspectos estáveis. Aqui se faz necessário advertir que a interferência dos civilizados nas culturas primitivas quase sempre é desintegradora, porque é demasiado súbita, inesperada e violenta.

Vêm, a propósito, neste momento, duas considerações, em torno da mudança cultural, que aclaram mais o já referido. DE duas maneiras ela pode dar-se: a) por acumulação b) por substituição. Algumas palavras sobre cada uma delas. As invenções e descobertas, no âmbito da técnica, sucedem-se, dia-a-dia. Podem consistir em aperfeiçoamento do que já existe. Exemplifica-o a TV, a qual,, de inicio, se apresentava em preto e branco e, depois, permitiu ver as imagens coloridas. A acumulação pode, ademais, consistir em inventos nunca dantes imaginados, como é o caso do computador, de mil e uma utilidades. Por ser aperfeiçoamento, supõe-se que algo já existente é base para o respectivo aperfeiçoamento. As vantagens auferidas de todos os engenhos, propostos pela tecnologia, são perceptíveis diretamente, são tangíveis e manipuláveis. Por mais rápidas que sejam as mudanças pelo processo cumulativo, o homem consegue adaptar-se a elas com bastante facilidade e presteza, porque não entra em jogo algo totalmente novo a ser enfrentado. Quando se trata de substituição, na mudança cultural, o problema é mais complexo. A substituição atinge, de pleno, valores e idéias. Substituição significa, por natureza abalar e destruir os fundamentos, desarraigar o pré-existente e, em lugar dele, implantar algo totalmente novo. São raras tais substituições. Cá e lá, no entanto, acontecem, como, por exemplo, na Filosofia e na Política.

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