Ensaios (livro III), Montaigne (sobre
nossa função social).
A maior
parte de nossos ofícios são farsas. É preciso representar devidamente nosso
papel, mas como papel de um personagem emprestado. Da máscara e da aparência
não é preciso fazer uma essência real, nem do estranho o próprio. Não sabemos
distinguir a pele da camisa. É bastante enfarinhar o rosto, sem enfarinhar o
peito. Vejo os que se transformam e se transubstanciam em tantas novas
figuras e novos seres quanto cargos que assumem e que se enfarpelam até o
fígado e os intestinos e arrastam seu oficio até seu guarda-roupa. Não posso
ensiná-los a distinguir as barretadas que dizem respeito a eles e eles das
que visam sua comissão ou séquito, ou sua mula. Inflam e engrandecem sua alma
e seu discurso magistral à altura de sua cátedra magistral. O Prefeito e
Montaigne sempre foram dois, com uma separação bem clara. Para ser advogado
ou financista, não é de se desconhecer a patifaria que há em tais ofícios. Um
homem honesto não é contador do vício ou insensatez de sua profissão, e não
deve, contudo, recusar seu exercício; é o uso de seu país e há vantagem. É
preciso viver do mundo e prevalecer-se dele, tal como o encontramos. Mas o
juízo de um Imperador deve estar acima de seu império, e vê-lo considerá-lo
como acidente estrangeiro; e deve saber gozar de si à parte e comunicar-se
como Jacques e Pierre, ao menos a si mesmo.
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Aprendendo a Viver, de Sêneca
De fato, o
corpo precisa de muitas coisas para estar bem; o espírito, ao contrário,
cresce por si mesmo, se alimenta e se exercita sozinho. Os atletas precisam
de muita comida, muita bebida, muito óleo, enfim, de muito exercício. Tu
podes ter a virtude sem nenhum aparato nem despesa. O que quer que te faça
virtuoso já está contigo.
De que precisas para tornar-te bom? Apenas de vontade! O que, pois, tu mais deves querer do que se libertares desta servidão que oprime a todos, que até os escravos, que estão em condições extremas, nascidos na sordidez, desejam de todo o modo se libertar? Gastam todo seu dinheiro, mesmo tendo que passar fome, para obter a liberdade; e tu, que pensas ter nascido livre, não desejas ter a todo custo a liberdade? Por que olhas para o cofre? A liberdade não pode ser comprada. Assim, é inútil colocar o nome de liberdade em documentos: não pode ser comprada nem vendida. Esse bem deve dar a ti mesmo, peça-o para ti. Primeiro, livra-te do medo da morte, pois ela nos impõe o seu jugo, e, depois, deves perder o medo da pobreza. |
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Viva a sabedoria...
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