Todo coitadinho é meio espertalhão. Por Mônica El Bayeh
Todo mundo conhece
um coitadinho. Nunca podem nada. Para eles tudo é muito difícil e complicado,
então nem tentam. Sempre sobra para quem? Para você. Ou para quem estiver por
perto. Coitadinhos são uma espécie de plantas parasitas. Ficam lá na surdina. E
vão sugando o trabalho, a energia, a boa vontade do outro. Se contrariados
mostram a força que têm. São fortes para gritar, reclamar, bater porta.
Costumam ser os primeiros dedos apontados para erros alheios. Acusam sem
piedade.
Não há grande
produtividade na vida dos coitadinhos. Nem muita criatividade também. Funcionam
em modo de espera. Uma espécie de repouso, stand
by. O que esperam? Talvez nem eles saibam. Tanto marasmo incomoda quem olha
de fora. Triste ver uma vida jovem desperdiçada dessa forma. Na aflição de
ajudar damos palpites. Questionamos. Insistimos. Coitadinhos se irritam. Se
fosse gato veríamos seu pelo eriçando pronto para o ataque.
Mas é por pouco
tempo. Rapidamente vai aparecer um protetor para concordar com ele e discordar
de você. Por traz de todo coitadinho há alguém que passa a mão na sua cabeça e
apoia seu dolce 'far-niente'. Pode procurar.
Alguém que acha que
errou em algum momento, de alguma forma. E que, por isso, criou uma pessoa mais
frágil que precisa ser protegida, poupada. De que? Da vida. Porque vida dói. Se
é mesmo culpado? Não. Ninguém é culpado pela vida de ninguém. Vida é pessoal e
intrasferível.
Coitadinhos,
geralmente, têm algum histórico de perdas. Não que sejam graves ou
insuperáveis. Eles é que sentem como se fossem. Sempre com o respaldo de alguém
para dizer: por isso que ele é assim. Deixa-o, coitado.
Levante a mão quem
nunca teve perdas. Tristezas, abandonos, decepções. Quem nunca? E não estamos
aqui? Vida nunca é bem asfaltada. Para nenhum de nós. Vida é estrada
brasileira. Buracos enormes. Quebra molas mal feitos. E dói mesmo. Mas faz
parte. A vida bate dura no lombo da gente. Não há amortecedor que suavize o
baque. Quebra nossa suspensão. Nos deixa arriados de quatro no meio do caminho.
E não estamos todos aqui tentando de novo?
Pais, mães, avós,
cuidam como sabem e como podem. De acordo com o que receberam. Da melhor forma
que lhes é possível. Erraram? Claro. Nós erramos todos, pelo menos umas dez
vezes todos os dias, em tudo o que fazemos. Porque com filhos seria diferente?
Ao contrário. Aí é que a gente erra mais ainda. Eles costumam sobreviver a
isso. Nós sobrevivemos também.
Usar erros do
passado como desculpa para o presente? Esse é o grande erro. Remexer o baú
buscando justificativa, desculpas? Vida é um erro atrás do outro. Não para
sentar e carpir. Nem para se lamentar. Para entender, aceitar e prosseguir. A
vida é nossa. Não cabe deslocar responsabilidades. Sou responsável pelo que
decido pelo que faço e pelo que tento não assumir e jogar sorrateiramente para
cima dos outros. Vida é garrafa d água do lado do filtro. Abro e encho ou fico
com sede reclamando.
Coitadinhos se
sentem no lucro. Não deixa de ser. Afinal, nada fazem e tudo têm. Ninguém cobra
nada deles. Acham-se uns espertalhões. Vivem sem esforço. Que nada. Não há
lucro em parasitar. É no embate do dia a dia que a gente aprende, se fortalece
e fica cascudo. Na dor da queda e no vento no rosto, se perceber em pé de novo.
Isso é vida.
Não imagino o que
pensa uma mãe passarinho quando enxota os filhotes para fora do ninho. Mas se
ela pensar muito e não jogar, como eles vão aprender a voar? Deitados no
conforto do ninho?
É preciso ir além
da zona de conforto. Experimentar, quebrar a cara, tentar de novo. É isso que
os coitadinhos não têm. Não saem do ninho. E o ninho dos coitadinhos nem é a
casa. É o quarto deles. É lá que costumam reinar. Pequenos tiranos cheios de
vontade. Não percebem que o mundo é mais do que quatro paredes. Não falo de
crianças. Falo de imaturos.
Por trás de todo
coitadinho tem um passarinho que entende suas dificuldades. Tem muita pena
dele. Repete sempre como ele teve uma história sofrida. E lhe traz minhocas que
lhe dá na boca. Uma mordomia para poucos. Ainda bem. Imagina um mundo de
coitadinhos?
Um coitadinho nunca
é tão incompetente quanto parece. Só desenvolveu a crença de que não pode, não
consegue. E a percepção falsamente esperta de que também não precisa tentar,
porque lucra mais desse jeito que está. Só que não. Todo coitadinho é meio
espertalhão.
É preciso empurrar
para fora do ninho. Mesmo que seja para voar junto, orientando a direção.
Ensinando os macetes. Sem desculpas, choramingos ou desistências. E sem pena
dos tombos que vai tomar. Quantos já não levamos?
Lucro é ter asas
fortes, com calos de tanto voar. E se ralar, se esfolar, perder penas.
Continuar sempre e mesmo assim. Ter coragem de ousar, ir além do visível.
Realizar desejos e buscar sonhos. E, mesmo quando tudo der errado, acreditar
que pode vencer. E seguir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário